A Nixxes Software traz Ratchet and Clank: Rift Apart até ao PC. Um excelente jogo por si só, numa conversão bem sólida, recheada de opções, mas com pequenas frustrações para quem for à procura da melhor experiência possível do jogo.
Ratchet and Clank: Rift Apart estreia a dupla de mascotes no PC com mais uma conversão de um jogo da PlayStation para esta plataforma, pelas mãos da Nixxes Software, que já nos trouxe outros dois jogos, também da Insomniac Games, Marvel’s Spider-Man e Marvel’s Spider-Man: Miles Morales.
Em cima da estreia de Ratchet e de Clank nos PCs, esta conversão é especial por ser também a primeira de um jogo completamente exclusivo da PlayStation 5, desenvolvido inteiramente a pensar nas capacidades aumentadas da consola da Sony, que vai celebrar no final deste ano o seu terceiro aniversário.
Como todas as conversões anteriores da PlayStation para PC, Ratchet and Clank: Rift Apart surge oferecendo mais uma oportunidade a fãs de revisitarem os seus jogos favoritos e de criar novos fãs, numa plataforma mais ampla. E, como sempre, esta ambição é feita com desafios, que por vezes são fantásticos, e outras vezes desastrosos, como aconteceu com The Last of Us Part I. E Ratchet and Clank: Rift Apart, neste caso, encontra-se num meio termo.
Há boas notícias e más notícias. Sendo que depende bastante do tipo de jogador que vocês são, do tipo de máquina que têm e da paciência que têm em afinar os jogos ao vosso nível de satisfação. Isto porque, enquanto Ratchet and Clank: Rift Apart impressiona, em parte, ao introduzir novas características e ao circunscrever certos desafios técnicos numa vasta gama de equipamentos, revela-se também frustrante no processo de explorar o total potencial desta nova versão.
De notar que Ratchet and Clank: Rift Apart é um excelente jogo por si só. Como pudemos constatar na sua versão original lançada em 2021 para a PlayStation 5, revelando-se num fantástico jogo de ação e aventura, que foi também um culminar de experiências a nível técnico e narrativo para a Insomniac Games, ao entregar-nos um jogo belíssimo com uma história digna de uma longa-metragem para todas as idades. Podem ler mais sobre Ratchet and Clank: Rift Apart, aqui, na nossa análise para a PlayStation 5.
A versão para PC é basicamente a mesma. Baseada nas versões atualizadas do jogo, que trouxeram melhorias para a versão da consola, e acrescenta ainda mais novidades a nível técnico na versão para PC, tornando o jogo, teoricamente, mais bonito e visualmente consistente. Pensemos nesta versão como uma “mini-remasterização”.
Ratchet and Clank: Rift Apart inclui coisas como sombras e oclusão ambiental via ray-tracing – que simulam o comportamento real das sombras e a forma como estas se propagam no ambiente, oferecendo um aspeto mais natural e real ao jogo – suporte para resoluções 4K nativas e taxas de frames sem limites; e ainda suporte para resoluções ultra-wide, para quem tiver daqueles monitores de 21:9 e 32:9.
Em cima disso, a versão de PC de Ratchet and Clank: Rift Apart vem preparada para tirar partido de inovações existentes no PC para melhorar o desempenho e a experiência de jogo, como DirectStorage 1.2 em PCs preparados para tal, e técnicas de reconstrução como o FRS 2.1 da AMD; o XeSS da Intel; o IGTI da própria Insomniac; e, provavelmente, a melhor solução, o DLSS, onde se destaca a versão 3, exclusiva às placas gráficas da NVIDIA da série RTX4000, com geração de frames intermédios.
A utilização destas funcionalidades é sempre facultativa, assim como as diferentes opções e presets disponíveis. Ratchet and Clank: Rift Apart oferece uma lista bastante compreensiva de opções do Very Low (Muito Baixo) ao Very High (Muito Alto), garantindo que é jogável em máquinas menos exigentes. Algo que é muito surpreendente, quando a Insomniac Games revelou também que, em Very Low, não seria necessário um SSD ultra-rápido para se poder jogar. Mas com isso há obviamente sacrifícios, sacrifícios esses que até eu, com um SDD no meu sistema, me deparei.
Para por Ratchet and Clank: Rift Apart para PC usei duas máquinas: a minha torre equipada com um Intel Core i9-10900X @ 3.70Ghz, 32GB de memória RAM DDR4 @ 3200MHz, uma placa gráfica NVIDIA GeForce RTX 3080Ti e um SSD Corsair MP600 Core, tipo PCIe Gen 4.0 x4 e com velocidades de leitura de 4.700 MB/s – um valor bem abaixo dos 7100MB/s do SSD da PlayStation 5; e a minha máquina portátil de eleição, a Steam Deck.
Começando pelo PC, e tendo em conta os requisitos fornecidos pela Insomniac Games e pela Nixxes Software, e uma vez que tenho uma preferência por gráficos bonitos, apontei para o “Amazing Ray-Tracing” com o preset automático de High, para obter uma experiência que me parece ser semelhante à da PlayStation 5 nos seus modos de Desempenho (jogando a 1440p @ 60FPS ou a 4K @ 30FPS). Infelizmente, a proposta das produtoras é desanimadora. Apontando para os 4K, apenas com o DLSS em modo de resolução dinâmica com alvo nos 30FPS é que esse valor era atingido, flutuando frequentemente abaixo disso, o que torna o jogo francamente injogável, apesar dos seus visuais bonitos.
Já apontando para os 1440p, o caso muda um pouco de figura e o jogo torna-se quase maravilhoso. Corre perfeitamente na casa dos 60FPS sem recurso a técnicas de reconstrução de imagem como o DLSS, embora aqui recomende o seu uso em modo Quality, para garantir que não cai desses valores.
Após vários testes, apercebi-me que Ratchet and Clank: Rift Apart é extremamente taxativo no que toca à placa gráfica, comprometendo as altas resoluções, mas notei também que há algumas falhas de otimização quando tentava criar um preset personalizado. Por exemplo, as texturas em High consomem recursos exagerados, obrigando-me a optar por Medium – o que não é positivo pois há um grande salto de fidelidade visual entre as duas opções -, mas talvez o mais irritante desta versão seja o facto de, ao alterar qualquer opção dentro do jogo, para além de demorar a fazer efeito, faz com que o jogo fique extremamente lento e feche com regularidade, o que tornou este ritual frustrante. Daí ter optado por fazer as alterações no launcher inicial. Outro problema mais chato tem a ver com o comportamento de reflexos, particularmente em grandes corpos de água, como os pântanos de Sargasso, onde estes apareciam quebrados e a piscar, fosse com ou sem o Ray-Tracing ligado.
Os resultados obtidos com base na tabela disponibilizada não são, para já, reflexo da realidade, especialmente quando a minha máquina é ligeiramente superior à configuração proposta, especificamente se estivermos a apontar para os 4K @ 60FPS.
No que toca ao uso do SSD, a velocidade abaixo do meu disco face ao da PlayStation 5 revela um impacto menor na experiência, com loadings frequentes entre níveis ou naquelas sequências em que saltamos entre universos. São, por vezes, meros segundos – nada que estrague muito a experiência, mas que afetam não só o flow do jogo, como comprometem a visão original da Insomniac Games – algo que a PlayStation 5 faz bem melhor.
Já na Steam Deck, a máquina que considero o derradeiro teste para computadores mais modestos, Ratchet and Clank: Rift Apart comporta-se surpreendentemente bem, sem qualquer tipo de otimização a nível do sistema da consola ou alterando qualquer definição automática imposta pelo jogo na primeira vez que se joga.
Como reportei anteriormente, por definição o jogo ativa o FSR 2.1 da AMD, com alvo nos 30 FPS e coloca o jogo no preset Medium. O resultado é fantástico, com uma fidelidade visual bem agradável e dando-nos uma experiência “em miniatura” do jogo perfeita para a consola. Atingir mais do que 30FPS é possível, baixando as definições, mas é um sacrifício que estraga por completo a experiência, sem atingir os sagrados 60FPS.
Tal como nos meus testes no PC, na Steam Deck a velocidade do seu SSD interno faz-se sentir de forma muito semelhante. Ao longo do jogo fui tendo loadings de alguns segundos e os mesmos soluços durante as sequências com mais ação. De notar que trocas de opções gráficas e fecho do jogo automático foram problemas com os quais não me confrontei na Steam Deck, o que é também uma mais valia para quem quiser jogar nesta máquina.
Como seria de esperar nestas conversões de jogos da PlayStation para PC, o suporte do DualSense está de volta, mas apenas por cabo. Com ele podemos sentir todas as gimmicks imersivas do jogo original, desde a textura dos terrenos que os personagens pisam, às explosões da ação, assim como o uso dos gatilhos adaptativos para os diferentes tipos de disparo.
Mas, talvez o mais interessante, seja o usar um comando da Xbox nesta versão do jogo. E por interessante não digo necessariamente bom, pois por defeito, o comando vibra com uma intensidade absurda, até nas pequenas coisas, e o jogo tenta responder à pressão dos gatilhos com uma área de ação pouco definida, tornando os vários tipos de disparo das armas do nosso arsenal um desafio por si só. Desta forma, recomendo que revejam as opções e até que desativem o modo de vibração, pois para mim, pareceu-me mais incomodativo do que propriamente imersivo.
Ratchet and Clank: Rift Apart para PC não é, felizmente, o desastre que foi The Last of Us Part I para PC no seu lançamento. É uma conversão sólida, tecnicamente impressionante, facilmente jogável em qualquer máquina, para grande espanto de tudo e de todos, mas que se torna frustrante especialmente para quem gosta de experimentar com definições ou para quem procura a experiência derradeira, sem acesso ao último grito em componentes de PC.
Ratchet and Clank: Rift Apart está disponível para PC via Steam Store e Epic Games Store.
Cópia para análise cedida pela PlayStation Portugal.