Persona 3 Reload

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Nem todas as remasterizações são negativas, principalmente se entregarem uma melhor acessibilidade e disponibilidade. Persona 3 Reload é um bom exemplo disso, onde não só os olhos comem, como também respeita o nosso tempo.

O meu tempo com Persona e Shin Megami Tensei tem sido agradável, mas com alguns dissabores, como aquela mania de lançarem versões completas meses ou anos mais tarde. Não é que essas novas versões invalidem a experiência dos jogos originais, mas pode revelar-se chato para quem apoia estas sagas durante os seus lançamentos para depois se depararem com novas versões mais completas e definitivas. Os exemplos são vários, como Persona 5 Royal, Persona 4 Golden e/ou Shin Megami Tensei V: Vengeance. Já Persona 3 (no qual nos vamos focar) tem várias, Persona 3 FES, Persona 3 Portable e, agora, Persona 3 Reload. Claro, com uma expansão a sair já nos próximos meses, eventualmente tornando-o numa outra versão mais completa.

Apesar de Persona 5 ter sido a minha estreia oficial na saga, já tinha cheirado a terceira entrada há anos e anos, quando um grande amigo me tentou aliciar com o slice-of-life de liceu, que incluía até a necessidade de levar as personagens até ao WC. Joguei apenas a introdução, mas não avancei. Não sei porquê, uma vez que já papava tudo o que era JRPG e não tinha muita escolha na altura. Depois, só voltei a ouvir falar do jogo na rábula Persona 3 – Hey Ash Whatcha Playin’?, que comenta a natureza do jogo, onde temos de dar tiros na carola para aceder às habilidades dos Persona. Arrojado, para ser honesto. E aqui estamos nós: com esta remasterização, cujo segredo foi tão mal guardado durante anos.

Este jogo e análise chegaram numa altura agitada da minha existência, enquanto estava a empacotar, a transportar e a desempacotar uma casa inteira. A Xbox Series X esteve sempre comigo, desligada da televisão, mas a transmitir para a Steam Deck, onde pude abrir caminho bem lentamente, mas algo confortável, após dias de trabalho e a arrumar. Uma alternativa para experienciar Persona 3 Relaoad que me levou a questionar por que raio é que não saiu na Nintendo Switch. Este jogo, tal como Persona 5 e as restantes prequelas, saíram na consola da Nintendo e são a combinação perfeita, como massa e bolonhesa; leite e Cola-Cao; JRPG e grind.

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Persona 3 Reload (Atlus)

Com outras entradas mais obscuras e menos disponíveis, entende-se a razão de se remasterizar este Persona 3, afinal foi o jogo que pontapeou a série para um novo patamar de fama. Recordo-me que o Fire Emblem Awakening surtiu o mesmo efeito, moldando a série para o que ela é hoje, com todos os pontos positivos e negativos. Mas que as séries ganharam um novo fôlego, ganharam! Embora não seja a versão perfeita, uma vez que excluiu bastante (até agora), é uma demão mais modernizada e bonita para quem pretenda regressar ao liceu Gekkoukan ou desfrutar de uma nova aventura, que não seja outro spin-off de Persona 5.

Eliminando a presença positiva da protagonista feminina e de um epílogo, voltamos a Makoto Yuki em transferência para o liceu Gekkoukan, na ilha Tatsumi Port. Tatsumi Port está longe de ser uma nova e aborrecida morada, devido a um estranho fenómeno que surge a cada meia-noite – a Dark Hour. Durante esta Dark Hour, a paisagem idílica é corrompida. Quem não tem plot armor, é transformado em caixões durante este bolso temporal, mas salvaguardando-se dos monstros que surgem da torre Tartarus para atacar apenas quem resiste à maldição da Dark Hour. Esta Tartarus é, ou são, as masmorras principais deste Persona 3 que também servem de escola durante o dia. E se isto não é uma metáfora para os nossos tempos de secundário, não sei. Não são as masmorras mais inspiradas, fazendo lembrar os Mementos de Persona 5 pelos vários andares e repetição.

Nos momentos iniciais, Makoto acaba por aprender a controlar as criaturas Persona e conhecer outros protagonistas com habilidades semelhantes. Juntos decidem explorar e travar a Dark Hour de uma vez por todas, mas enquanto isto é apenas a premissa, há mais água a correr por aquele rio turvo. Esta versão não quer apenas recontar a história do passado, mas expandir (na medida do possível), alguns detalhes e relações entre as personagens; torná-las mais humanas e empáticas porque o sumo está nas relações entre o elenco e é o que os fãs mais apreciam. Sem grande pé no passado, sei que agora o protagonista interage mais com os companheiros masculinos e dispõe de mais atividades em grupo. De igual modo, os antagonistas também são desenvolvidos para justificarem a sua presença, sem deturpar a mensagem original. No final do dia, trocadilho contextual propositado, é o mesmo jogo. Apenas com o suficiente para manter a experiência fresca.

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Persona 3 Reload (Atlus)

Onde também sentimos as melhorias é nas mecânicas de combate que se aproximam mais às de Persona 5 Royal. Desta vez, já controlamos todos os elementos do bando; contamos com novas habilidades e outras refinadas, como as Shift que conhecemos como Baton Pass; cada protagonista também dispõe de Theurgies, que são habilidades especiais que vêm substituir os Fusion Spells, entre outros detalhes familiares da quinta entrada. Com estes toques, o jogo tornou-se menos obtuso e mais acessível. A remoção da mecânica de Fadiga também pode ser controversa, mas é menos uma condicionante para lidar. No jogo original, tínhamos de ter atenção ao estado da nossa personagem, descansar bem e gerir melhor as durações das nossas expedições ao Tartarus. Quanto a mim, estou no campo dos aliviados por ter menos uma pressão em cima.

O jogo inclui outras pequenas gratificações, como os Twilight Fragment, que podemos utilizar para curar durante a exploração ou para abrir determinados tesouros. Os Monad foram trabalhados e já não são secções separadas do Tartarus, mas pequenos desafios que podemos superar também durante a exploração. Entre combates mais puxados com melhores recompensas ou para equilibrar os níveis dos parceiros na reserva. São pequenos toques para aliviar a monotonia de um grind à antiga. Ainda assim, este Tartarus continua a ser uma das queixas e a causa do maior aborrecimento. Tal como nos Mementos, não existe muita variedade para descansar os olhos. É apenas uma torre que temos de explorar e a pouca variedade não é tão apelativa como os Palácios diversos de Persona 5. Gostaria de poder comparar com Persona 4 (ou a sua versão Golden), mas ainda lá chegarei.

Por último, o que vence mesmo aqui é a apresentação. Se os Persona são sinónimo de estilo, esta remasterização é simplesmente um deleite. Os antigos momentos do original ganham uma nova vida graças a um motor mais modernizado. A banda sonora é igualmente orelhuda, com faixas novas e algumas antigas atualizadas na voz de uma nova vocalista. Numa altura em que malhamos em remasterizações desnecessárias, é algo enternecedor olharmos para gerações ainda mais longínquas e caprichar naquilo que não foi possível concretizar devido à tecnologia ou ao conhecimento na altura. Agora, só é pena os retalhos que ficaram pelo caminho e que devem estar a sair numa versão “Re-Reloaded”, quando todas as expansões ficarem disponíveis.

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Cópia para análise (versão Xbox Series X) cedida pela Ecoplay.

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