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Old é um daqueles casos de um conceito notavelmente único e intrigante que não alcança o seu verdadeiro potencial, com uma execução frustrante e pouco convincente.

Sinopse: “Umas férias tropicais transformam-se num pesadelo horrível quando uma família visita uma praia isolada que está misteriosamente a fazer com que envelheçam rapidamente – reduzindo as suas vidas inteiras a um único dia.”

Se me seguem há anos suficientes, saberão por esta altura que M. Night Shyamalan (Saga Unbreakable) é um dos meus cineastas favoritos. Acredito firmemente que é um dos realizadores mais talentosos da história do cinema, apesar de reconhecer os seus próprios defeitos. Pouco comum para Shyamalan lançar um filme universalmente aclamado ou desprezado. No geral, a maior parte da sua carreira encontra-se repleta de filmes incrivelmente divisivos. Os seus twists impactantes no terceiro ato nem sempre são eficazes, muitas vezes parecendo mais uma simples caraterística do cineasta do que um dispositivo de narrativa realmente necessário.

Quando as revelações chocantes funcionam, todo o filme ganha uma camada totalmente diferente, tanto que algumas das suas obras marcaram profundamente a cultura pop. No entanto, quando os twists se tornam mais uma obsessão do que algo essencial, os seus argumentos acabam preenchidos por inconsistências narrativas e de personagem difíceis de ignorar. Infelizmente, Old encaixa-se na última categoria. Ostentando uma premissa extraordinariamente intrigante, as centenas de ideias notáveis caem por terra devido a uma execução frustrante e pouco convincente.

Em primeiro lugar, a quantidade de personagens descartáveis e ocas prejudica a tentativa do filme em explorar temas mais profundos, tais como o tempo enquanto mecanismo de cura. O arco do casal Cappa tem uma narrativa muito bem desenvolvida sobre problemas comuns de relações amorosas que afetam tantas pessoas um pouco por todo o mundo. Shyamalan demonstra extremo cuidado em misturar perdão, amor e tempo. As pessoas dão um significado tremendo a problemas e “zangas” quando estas ocorrem, mas após várias décadas, a maioria olha para trás e mal se recorda do que aconteceu, mantendo-se o único sentimento que perdura: o amor.

crítica old

Sendo Cappa a família principal do filme, a sua história particular é, infelizmente, a única na qual me senti investido. Todas as personagens secundárias ou possuem traços de personalidade desagradáveis ou são apenas um pacote completo de clichés. Todos servem como meros dispositivos para explicar as “regras” da praia misteriosa. Desde mortes visualmente chocantes até à entrega de exposição surpreendentemente fraca, alguns atores encontram dificuldades em obter uma prestação convincente. Até se atingir a marca dos 60 minutos, a maioria das interações parece desajeitadamente falsa, como se alguém tivesse dito aos atores para ler as suas falas pela primeira vez naquele momento exato.

Consequentemente, não se cria uma conexão emocional com qualquer personagem secundária, e mesmo os protagonistas não são propriamente fáceis de apreciar. Depois, aparece o grande problema em relação ao primeiro tópico mencionado acima sobre o “mau hábito” do realizador-argumentista. Mais uma vez, o terceiro ato apresenta revelações impactantes que mudam o entendimento da história. No entanto, não só muda drasticamente o tema principal do filme, reduzindo todo o trabalho feito até então, mas também cria demasiadas inconsistências lógicas para lidar.

Não gosto, genuinamente, de ser “aquele tipo” que reclama dos famosos problemas de “movie logic”, mas quando filmes como Old surgem, é quase impossível não abordar as dezenas de perguntas sem resposta deixadas pelo mesmo. Desde o passado de algumas personagens a pontos de enredo específicos, é possível observar uma quantidade absurda de eventos incoerentes e difíceis de justificar que, em última análise, prejudicam o desfrutar geral do filme. Old levanta demasiadas questões ao longo do tempo de execução apenas para largar uma revelação dececionante no final, esse que é abruptamente levado através de desenvolvimentos ridículos. É simplesmente demasiado para ignorar ou aceitar.

Relativamente ao casting, é necessário mencionar o trabalho impecável na escolha de atores mais jovens e mais velhos parecidos. As crianças crescem, tornando-se nas suas versões mais velhas devido ao elemento de sci-fi presente no filme, mas todas as “evoluções” parecem surpreendentemente realistas, o que obviamente exige elogios de todos os espetadores para o maravilhoso departamento de maquilhagem e para o responsável pelo casting (Douglas Aibel). Tecnicamente, Shyamalan raramente desilude os seus fãs, e Old tem alguns pequenos detalhes sobre as “maroscas temporais” – decomposição de corpos, problemas de saúde relacionados com idade, emoções/puberdade.

No entanto, alguns elementos técnicos de indivíduos incrivelmente talentosos surpreenderam-me pela negativa. Michael Gioulakis (Us), diretor de fotografia, emprega alguns ângulos de câmara e iluminação que podem ser visualmente incómodos de assistir. Apesar de um cenário bonito, os planos POV, close-ups extremos e shaky cam não são técnicas as quais iria caraterizar de “viewer-friendly” devido ao movimento constante da câmara que não permite uma visualização fácil ou agradável. Mesmo assim, a atenção aos detalhes e a dedicação à arte de filmmaking devem-se levar em conta. Algumas escolhas de edição de Brett M. Reed (The Sound of Philadelphia) não ajudam o ritmo, muitas vezes dando a sensação de alguns segundos serem perdidos entre cortes. A banda sonora de Trevor Gureckis (Servant) define o ambiente enigmático eficientemente.

Old é um daqueles casos de um conceito notavelmente único e intrigante não alcançar o seu potencial devido a uma execução geral desapontante de demasiadas ideias. M. Night Shyamalan entrega mais um filme divisivo, abordando temas profundos associados à nossa relação com o tempo e como este último impacta as pessoas de maneiras distintas. A revelação (do costume) no ato final não só afeta negativamente o tema principal do filme, mas também cria imensas inconsistências a nível do enredo e das próprias personagens.

As prestações são surpreendentemente pobres, originando alguns diálogos horríveis, apesar do excelente casting em relação às transições criança-adulto. Vale a pena investir no arco da família principal, mas existem demasiadas personagens descartáveis e irrelevantes. A cinematografia tecnicamente precisa e detalhada pode não ser agradável para todos os espetadores, mas a edição definitivamente carece de algum trabalho extra.

Infelizmente, não consigo defender muito Shyamalan nesta obra…

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