Antes de nos aventurarmos com Aloy em LEGO, revisitámos a sua primeira jornada em “Ultra HD”, numa remasterização que, embora pareça desnecessária, surpreende pela qualidade da atualização.
Não sei se 2024 é o ano com o maior número de lançamentos de remasters e remakes, mas encontrar-se-á certamente no topo da lista. Uma das grandes responsáveis por isso é a PlayStation, que, depois de iniciar a expansão da sua estratégia, levando os seus videojogos ao PC, começou a apostar intensamente em relançamentos de alguns dos seus jogos mais populares, com melhorias visuais e atuais, levando, às vezes, os consumidores a questionarem-se “porquê?”.
Num ano que começou com o relançamento de The Last of Us Part II adaptado para a PlayStation 5, e que recentemente nos trouxe um remake de Until Dawn, agora é vez de viajarmos até ao primeiro jogo de Aloy, que catalisou aquela que parece ser a franquia rainha da PlayStation: Horizon Zero Dawn.
Desenvolvido pela Guerrilla Games, depois de abandonar, pelos vistos de vez, a saga Killzone, Horizon Zero Dawn foi um dos jogos tecnologicamente mais impressionantes da sua geração. Lançado originalmente na PlayStation 4, Horizon Zero Dawn parecia ter sido desenhado à medida para o hardware da Sony dessa altura, numa aposta de ação e RPG em mundo aberto, com uma premissa que faria qualquer criança que cresceu nos anos 90 tremer de emoção: há robôs dinossauros no futuro. Eu fui uma dessas crianças. E em cima disso, adoro o género e fiquei encantado com a sua premissa misteriosa sobre como é que aquele mundo que Aloy explora chegou àquele ponto, onde a natureza voltou a tomar conta do mundo, mas a sua fauna é composta por máquinas. Tantas questões. Horizon Zero Dawn não foi só feito à medida da PlayStation 4. Foi um jogo feito à medida para mim.
A sua sequela já não vivia de tanto mistério. Apesar de ter amado Horizon Zero Dawn, ao ponto de o completar uma mão cheia de vezes a 100% – eu sei, é chocante para quem acha o jogo aborrecido – Horizon Forbidden West teve a tarefa de expandir a sua narrativa para novos territórios, tanto geográficos como em termos de história, e para tal tomou riscos. Para lá de fazer o que qualquer sequela de um videojogo deve fazer, “mais e melhor a quase todos os níveis”, sinto que perdeu algo de autêntico, de puro e de simples, perdendo-se nos excessos da sua natureza, com atividades secundárias, um mapa maior, uma jogabilidade mais complexa, novos mecanismos de exploração e uma história que vai em direções mais “espetaculares”. Quase tudo resultou em abono do jogo, mas lembro-me de o acabar e sentir que alguns aspetos podiam ter sido mais controlados – razão pela qual já não fui capaz de ter a energia e vontade necessária de o completar a 100%.
Este olhar a Horizon Forbidden West que aqui partilho só existe, no entanto, em retrospetiva e numa altura em que tive a oportunidade de voltar a colocar novamente as mãos em Horizon Zero Dawn, agora numa versão revista e melhorada, que, de acordo com a Guerrilla Games, quer colocar o seu aclamado jogo original tecnicamente ao nível da sua sequela. Voltamos, aqui, à reflexão da denominação destes jogos. Porquê Horizon Zero Dawn Remastered e não Horizon Zero Dawn Remake, quando a sua apresentação e filosofia se aproxima tanto do trabalho feito com The Last of Us Part I ou Until Dawn? Acho que, enquanto consumidores, nunca iremos interiorizar o trabalho feito nestes projetos; apesar de tudo, só os experienciamos com aquilo que nos é interiorizado. No entanto, continuo a sentir que seria importante uma maior clareza na sua denominação, pois esse é um aspeto que ajuda muito mais a medir as expectativas destes relançamentos do que qualquer breakdown técnico feito pelas equipas de desenvolvimento.
É, também, estranha a decisão de termos Horizon Zero Dawn de regresso. Afinal de contas, nem 10 anos passaram desde o seu lançamento original e, apesar da sua sequela ser visualmente fantástica, o jogo original não envelheceu nada mal. No entanto, já não vale a pena pensar nisso, pois Horizon Zero Dawn Remastered é, felizmente, a sua versão definitiva.
Desenvolvido pela Nixxes, responsável pela maioria das conversões de jogos para PC dos jogos da PlayStation, Horizon Zero Dawn Remastered adapta então o popular jogo da PlayStation 4 para a geração atual, como o já mencionado The Last of Us Part I. É, no fundo, uma nova camada de tinta, com visuais aprimorados. Mas desenganem-se a achar que foi algo superficial como carregar no botão de melhores texturas, resoluções e framerates – para essa finalidade já tínhamos o jogo original a correr na PlayStation 5 via retrocompatibilidade. A Nixxes foi, de facto, bem mais a fundo, ao ponto de voltar a apaixonar-me pela aventura introdutória de Aloy.
As novidades deste relançamento não podiam ser mais claras, como foram descritas pela própria Nixxes no blog oficial da PlayStation, ao ponto de uma análise ser irrelevante. De acordo com a produtora, o jogo recebeu melhorias a nível de florestação do ambiente, que se reflete, de facto, em cenários mais densos e ricos do que na versão original. Agora há mais plantas e ervas espalhadas pelo terreno, e as árvores são mais complexas em geometria e detalhe. Ao mesmo tempo, são igualmente mais dinâmicas, nomeadamente a vegetação rasteira, que reage às ações de Aloy.
De forma semelhante, o mundo está mais rico e vivo, graças a uma re-população do ambiente. As zonas urbanas contam com mais NPCs espalhados pelas ruas e, em mundo aberto, graças ao aumento da distância visível, é possível ver mais criaturas espalhadas pela paisagem, dando aquele sentimento de urgência do “quero ir ali”.
Outra forma de melhorar a imersão e a experiência do jogo é através das interações com NPCs semelhantes às da sequela, Horizon Forbidden West. As gabadas interações, animadas e vivas, surgem nesta remasterização, com mais de 10 horas de animações recapturadas para o efeito. Apesar de estarem, de facto, melhoradas, não vou esconder o facto de não ter ficado impressionado com a entrega destes momentos. Aliás, é até fácil de perceber quando houve mais ou menos investimento, particularmente nas primeiras horas, onde a maioria das interações continua com aquele aspeto rígido, e até com falhas de sincronização labial ao que está a ser dito (na versão em inglês). Após várias horas dentro do jogo, algumas interações revelam-se mais complexas, com ângulos de câmara mais dinâmicos e animações mais vivas, mas não é, de facto, algo constante.
Visualmente, Horizon Zero Dawn Remastered também melhora drasticamente graças aos modelos das personagens. Tanto Aloy, como os NPCs e até as criaturas, apresentam-se com muito mais fidelidade e detalhe. Aloy, por exemplo, destaca-se por ter um modelo atualizado e muito próximo ao da sequela, mas não é exatamente o mesmo, até porque neste jogo ela aparenta um ar bem mais jovem.
Tudo isto se une com o novo sistema de iluminação. De acordo com a Nixxes, o jogo foi completamente reiluminado, acrescentando realismo e imersão ao nível da sequela. No entanto, a verdadeira conquista está no facto de o jogo não apresentar mudanças drásticas na direção de arte, preservando os tons de alto contraste e, em grande parte, quentes, do jogo original. Destaco também o sistema de luz nas personagens, que está muito melhor nas cinemáticas e nas interações com NPCs. Além disso, a iluminação em Aloy durante o jogo, agora cinemática, enriquece a experiência – embora eu preferisse que fosse mais constante, pois em alguns cenários o efeito não é tão evidente ou consistente como na sequela.
Além de todas estas melhorias visuais, Horizon Zero Dawn Remastered também está otimizado para a PlayStation 5, tirando partido de recursos como o DualSense, e os loadings são agora praticamente inexistentes (apesar de ainda existir uma tela para o efeito). O jogo corre perfeitamente na nova máquina, com dois modos de jogo disponíveis: um modo de qualidade com maior definição e um modo de desempenho a 60 FPS.
Apesar de ser uma excelente conversão para a PlayStation 5, Horizon Zero Dawn Remastered faz exatamente o que se espera de uma remasterização premium, sem alterar fundamentalmente o jogo original. Existem aspetos que eu gostaria de ver melhorados e elementos introduzidos na sequela (como o planador ou a capacidade de escalar qualquer obstáculo), mas essas mudanças exigiriam uma reconstrução de certos elementos do jogo, aproximando-o de um remake.
Depois de questionar “porquê” e de sentir que já havia jogado Horizon Zero Dawn mais vezes do que o normal, a verdade é que estas melhorias tornam o jogo ainda mais convidativo para uma nova rodada. Apesar de não ter passado muito tempo desde a última vez que joguei, regressar a Horizon Zero Dawn tem sido um autêntico deleite. Mais importante, fez-me perceber que, em comparação com a sua sequela, o lema “menos é mais” é realmente importante. Espero que, no próximo capítulo da saga, a Guerrilla recupere a essência, o mistério e a simplicidade do original, elementos que Forbidden West por vezes deixou de lado.
Horizon Zero Dawn Remastered está disponível para PC e PlayStation 5 e pode ser adquirido por apenas 9,99€ para quem já possui o jogo original.
Cópia para análise cedida pela PlayStation Portugal.