Hi-Fi Rush

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Hi-Fi Rush parece a revitalização de um jogo nostálgico que nunca existiu, e é incrível.

Vai fazer uma semana desde que foi lançado e desde que terminei Hi-Fi Rush, a estranha e inesperada nova aposta da Tango Gameworks. E digo “estranha” no sentido de se distanciar do registo dos jogos da produtora fundada por Shinji Mikami, ao largar o género de horror/terror imersivo de The Evil Within e de Ghostwire: Tokyo para abraçar outro aspeto tão característico dos videojogos: a diversão.

Hi-Fi Rush não teve propriamente um lançamento normal. Foi revelado numa transmissão da Xbox, a Developers_Direct, e lançado uma hora depois. Zero antecipação, praticamente zero marketing e, ainda assim, lançou-se nos tops de vendas da Steam e foi relativamente bem recebido pela crítica e pelos jogadores.

Ao fim de 10-12 horas de jogo, sensivelmente o tempo que demorei a terminar a sua história, questionei-me: “será que Hi-Fi Rush está a ser bem recebido porque foi uma surpresa inesperada, que chegou de forma gratuita a mais de 25 milhões de subscritores do Xbox Game Pass, ou é incrível por mérito próprio?” Porque não há dúvida que receber jogos destes de forma inesperada é excelente, mas sinto que Hi-Fi Rush é mesmo, mesmo bom.

Hi-Fi Rush conta com uma premissa simples. Chai é um jovem com o sonho de ser um rockstar que habita num mundo futurista controlado por uma megacorporação. No primeiro dia a trabalhar para a Vandelay Technologies, ao receber o seu novo braço cibernético, o seu leitor de música funde-se com o seu peito, tornando-se num defeito e num alvo a abater. Sem rumo, torna-se num fugitivo que se junta a um elenco de personagens carismáticas com o objetivo de deitar abaixo um plano maquiavélico da Vanderlay.

Hi-Fi Rush não prima por uma excelente narrativa, mas destaca-se em tudo o que a rodeia. Desde o elenco de personagens carismáticas – onde se destacam Peppermint, que é de alguma forma a verdadeira “protagonista” e a âncora emocional desta história, e o adorável gato cibernético 808 (ao qual podemos fazer festinhas) -; ao incrível trabalho de vozes das mesmas; às fantásticas gags visuais com um estilo de humor raro em videojogos; passando pelas sequências híbridas de combate e cinemáticas ao som de uma banda sonora de luxo, que inclui Nine Inch Nails, The Prodigy e The Black Keys, entre outros. Estes e outros exemplos tornam esta viagem imprescindível, ainda que, no fim, Hi-Fi Rush seja exatamente aquilo que quer ser, uma “série animada de sábado de manhã” jogável.

Eu não gosto de cair em comparações simplistas, mas Hi-Fi Rush é o que é: um “blast form the past”, um jogo da era 128 bits maturado e adaptado às experiências de jogo modernas, que, até certo ponto, eleva artisticamente aquilo que um videojogo é capaz de fazer ao fugir da tendência de apresentar mundos cada vez mais imersivos e foto realistas. Tem aquela aura de jogos da Dreamcast, mas a solidez de jogos modernos, quase como se fosse um remake/remaster de um jogo super-nostálgico que, na realidade, nunca tivemos.

Extremamente colorido, Hi-Fi Rush parece a próxima geração de jogos com visuais animados. É certo que a cena indie é pioneira neste sentido, com experiências visuais incríveis, mas, em ambiente 3D, Hi-Fi Rush é especial, fugindo ao cliché do cell-shading e fundindo-se com animação 2D clássica de alta qualidade com as suas personagens e ambientes que visitamos, resultando em algumas das transições entre jogo e cinemáticas mais satisfatórias e (invisíveis) que já tivemos.

Terminar um nível ou uma porção de jogo e ser recompensado com mais uma breve cinemática evocou novamente aquela era em que as porções animadas eram como prémios. É difícil não pensar assim sobre Hi-Fi Rush quando temos acesso a novos episódios onde as personagens interagem e vemos alguma exposição narrativa, mas também ação e outras incríveis gags visuais altamente bem animadas, tanto em animação tradicional como com o motor de jogo – tão bem conseguidas que, por vezes, torna-se difícil perceber o que estamos a assistir.

Em jogo, tudo é animado. Todo o mundo reage ao beat da banda sonora, beat esse que é usado a nosso favor. Apesar de Hi-Fi Rush ser um jogo de ação ao estilo de um Devil May Cry ou NiER, é parcialmente um jogo de ritmo, recompensando o jogador a fazer ataques e combos com a frequência correta.

Admito que, no início, estava confuso e até irritado. Carregava nos botões e “algo falhava” e não era propriamente a minha falta de ritmo que me estava a fazer confusão, mas sim a falta de compreensão de que Hi-Fi Rush é bem mais simples. Os nossos ataques acontecem sempre ao beat. A primeira pancada de um combo acontece sempre no momento certo, pelo que basta entrar no ritmo e encontrar a consistência certa para terminar os combos. Com tentativa e erro, o “flow” do jogo é rapidamente encontrado e pode tornar-se viciante, especialmente quando começamos a desbloquear mais combos interessantes e satisfatórios de executar e quando desbloqueamos ataques com os nossos companheiros que resultam em incríveis animações.

Tudo é satisfatório e a jogabilidade é bem mais relaxada do que os típicos jogos de ritmo, no entanto, não consigo afastar a minha frustração das mecânicas de defesa e contra-ataque. A certa altura no jogo, é-nos introduzido parry, que nos permite defender de ataques, projéteis e fazer novos combos. Estão opção adiciona mais uma camada ao combate, mas também traz consigo mini-jogos de ritmo onde temos de “imitar” padrões de inimigos de defesa e de desvio. Na teoria, e pela forma como são apresentados, aparentam ser divertidos. No entanto, senti que as janelas de tempo e de reação, para acertarmos no timing certo, são tão fechadas que me fizeram sentir um enorme nabo de comando na mão. Isto levou-me a tentar eliminar certos inimigos antes que começassem a sua “dança” que me obrigava a iniciar mais um dos mini-jogos.

Outros dos grandes highlights de Hi-Fi Rush são as suas boss battles, que se encontram normalmente no final de cada nível ou capítulo. Estas batalhas são dedicadas a cada membro do elenco de vilões e primem pela variedade e as cinemáticas mega-entusiasmantes, auxiliadas pela narrativa e pelo uso de música licenciada. De batalhas mais clássicas de ataque-espera-e-ataque a pontos fracos, ao som da “1.000.000” dos Nine Inch Nails; a batalhas contra hordas de inimigos com a “Invaders Must Die” dos The Prodigy a tocar de fundo; a batalhas que são espetáculos de música. a variedade e criatividade das batalhas é substancial e extremamente entusiasmante de alcançar, mantendo-nos presos aos comandos para descobrir que bola curva o jogo nos vai atirar a seguir. Segundo o diretor do jogo, John Johanes, Hi-Fi Rush teve inspiração em filmes de Edgar Wright e a verdade é que, recordando cenas de Scott Pilgrim ou de The World’s End com as suas batalhas musicais, tudo o que experienciei em Hi-Fi Rush fazem justiça a essas declarações.

No entanto, Hi-Fi Rush estica por vezes a corda, com níveis menos variados do que poderíamos antecipar, e sequências de plataforma longas que conferem cerca de uma hora por capítulo que nos enchem a barriga o suficiente para pausar e ir jogar outra coisa. Ainda assim, nas soma das suas partes, quanto mais tempo passa, mais enamorado fico com a ideia de o voltar a jogar, explorar as zonas secretas e treinar o meu ritmo.

É incrível como Hi-Fi Rush foi guardado em segredo e lançado quando ninguém estava à espera. Acredito que esta decisão tenha tido peso na sua receção, mas tenho a certeza absoluta que Hi-Fi Rush merece todo o buzz que tem recebido. Eu, pelo menos, já aguardo por uma sequela.

Hi-Fi Rush pode ser jogado no PC, Steam Deck e Xbox Series X|S e está disponível no Xbox Game Pass.

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