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Wonka oferece uma nova perspetiva sobre o icónico personagem, ao mesmo tempo que presta homenagem ao conto intemporal de moralidade de Roald Dahl.

Enquanto alguém que cresceu com a adaptação de Tim Burton do clássico conto de Roald Dahl, Charlie and the Chocolate Factory, o anúncio de um novo filme que explora a história de origem do enigmático Willy Wonka despertou o meu interesse. Apesar de nunca ter sido um favorito pessoal ou uma obra pela qual possua uma tremenda nostalgia, lembro-me vivamente da história e das suas lições morais. Assim, entrei para Wonka com uma mistura de antecipação e ceticismo, tendo claras memórias da icónica interpretação de Gene Wilder e da igualmente memorável representação de Johnny Depp. O facto de Paul King (Paddington) estar à frente do projeto contribuiu definitivamente para expetativas mais elevadas, sendo que o resultado final deixou-me positivamente surpreendido.

Ao elaborar o argumento centrado no passado do protagonista que conhecemos das adaptações anteriores, King e Simon Farnaby (Paddington 2) esforçam-se conscientemente por preservar as lições morais fundamentais que são inerentes às obras de Dahl. Estas servem como um fio condutor ao longo de Wonka, tecendo um cobertor comovente em torno do tema central de que os sonhos não só valem a pena ser perseguidos, mas encontram o seu verdadeiro valor ao serem partilhados com as pessoas que amamos. Embora familiar, é uma mensagem apropriada para um filme de família natalício, fornecendo uma base relacionável e ressoante para a história. Ainda assim, apesar de ser uma abordagem refrescante ao personagem, explorando o seu passado intrigante, a obra desenrola-se de uma maneira mais previsível do que o esperado, recorrendo a fórmulas estabelecidas que, embora bem executadas, roubam a narrativa de oportunidades de desenvolvimento mais imaginativas.

O compromisso de Wonka em manter a ética moral de Dahl é evidente na representação do arco do protagonista. A narrativa desenrola-se como um testemunho da crença de que aspirações individuais, por mais fantásticas ou excêntricas, ganham significado quando entrelaçadas com as vidas dos outros. O coração da história encontra-se na observação de que a realização pessoal atinge o seu auge não em conquistas solitárias, mas na alegria coletiva e nas experiências partilhadas com aqueles que realmente importam.

Um dos pontos fortes da obra reside no seu elenco excecional. Antes do lançamento, a comunidade cinéfila debateu de forma empenhada obre as escolhas pouco convencionais, mas o resultado final fala por si. A interpretação de Hugh Grant (The Gentlemen) como um Oompa-Loompa é um triunfo cómico, proporcionando momentos de gargalhada genuína que elevam profundamente o charme geral do filme. Olivia Colman (Empire of Light), como proprietária matreira de uma casa de hóspedes, adiciona a sua própria camada de diversão à narrativa. Calah Lane, com apenas 14 anos, oferece uma prestação marcante como Noodle, uma órfã que carrega aos ombros a emoção e espírito de Wonka.

O centro das atenções, Timothée Chalamet (Dune) como um jovem Willy Wonka, requer algum tempo para se habituar, mas o ator constrói com sucesso a sua própria versão do personagem, mantendo a aura peculiar e cheia de compaixão do protagonista representado anteriormente por Wilder e Depp. Chalamet é verdadeiramente uma bomba de carisma, independentemente do filme a que está ligado. O elenco entrega-se de corpo e alma aos seus papéis propositadamente exagerados e extravagantes, enriquecendo a atmosfera encantadora e imersiva da obra, tornando-a, em última análise, uma experiência de provocar inúmeros sorrisos de orelha a orelha.

Do lado técnico, o guarda-roupa e a produção artística são nada menos do que brilhantes. Os visuais são um banquete para os olhos, com uma explosão de cores a criar um mundo animado que condiz com o universo mágico de Wonka. Ainda assim, a cinematografia de Chung Chung-hoon (Last Night in Soho), embora competente, parece um tanto menos inspirada do que outros aspetos técnicos. Sente-se uma estranha falta de vivacidade para complementar os elementos do fantástico, criando um leve desacordo que, apesar de não ser um problema grave, prejudica a coesão visual do filme.

Musicalmente, Wonka é, acima de tudo, eficiente. A banda sonora de Joby Talbot (Sing) é incrivelmente doce e faz referência a muitas das melodias conhecidas da adaptação original. Já as canções originais de Neil Hannon tanto são memoráveis – vou estar a cantarolar o ritmo da música do Oompa Loompa até ao final do ano – como falham em ser tão cativantes e ricas quanto se esperaria. Todas são extremamente entretidas de assistir, mas apenas algumas realmente adicionam informações novas e relevantes para a história ou personagens, ocasionalmente sendo reiterativas nas suas mensagens.

VEREDITO

Wonka oferece uma nova perspetiva sobre o icónico personagem, ao mesmo tempo que presta homenagem ao conto intemporal de moralidade de Roald Dahl. Paul King entrega uma visão alegre, divertida e visualmente deslumbrante das origens de Willy Wonka, apresentando um elenco corajosamente comprometido com os papéis campy, toneladas de humor e uma atmosfera colorida e, acima de tudo, imersiva. Apesar da narrativa previsível e formulaica, carece da mesma criatividade de outros departamentos cinematográficos, o filme permanece uma experiência doce, harmoniosa e satisfatória que merece ser vista no grande ecrã.

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