The Tomorrow War é uma das melhores surpresas do ano, com monstros visualmente criativos, sequências de ação repletas de entretenimento e um plano candidato à imagem mais deslumbrante de 2021.
Sinopse: “O mundo fica em choque quando um grupo de viajantes do tempo chega do ano 2051 para entregar uma mensagem urgente: dentro de 30 anos, a humanidade perderá a guerra contra uma espécie alienígena. A única esperança consiste em transportar soldados e civis do presente para que possam juntar-se à luta no futuro. Entre os recrutados está um professor e pai de família, Dan Forester (Chris Pratt). Determinado a salvar o mundo para a sua filha, Dan junta-se a uma cientista brilhante (Yvonne Strahovski) e ao seu pai (J.K. Simmons) numa missão desesperada para reescrever o destino do planeta.”
De todos os géneros existentes no cinema, os chamados “disaster flicks” são dos filmes que mais consigo desfrutar. Estes raramente são originais ou inventivos, mas se as fórmulas de sucesso forem bem executadas, podem-se tornar em blockbusters favoritos dos fãs, guiados por puro entretenimento e com um tremendo valor de repetição. Nunca antecipo que filmes como The Tomorrow War me surpreendam ou façam algo criativo com a sua história. Simplesmente espero pelos desenvolvimentos genéricos e clichés, que são inevitáveis, com esperança de que possam apenas servir como companhia para as cenas de ação, em vez de se tornarem pesados e repetitivos, transformando todo o filme num par de horas bem aborrecidas.
Dito isto, Zach Dean coloca uma quantidade considerável de esforço no seu argumento. Sim, não deixa de ser bastante genérico e baseado numa premissa explorada de forma bem melhor por dezenas de outros filmes. No entanto, existe uma ligação emocional surpreendente com as duas personagens principais que não esperava. Apesar de um início carregado de exposição, os diálogos são, na verdade, bem convincentes, especialmente entre Chris Pratt (Onward, Avengers: Endgame) e Yvonne Strahovski (The Handmaid’s Tale). As suas personagens recebem um tratamento complexo pouco comum, que acaba por elevar a relação entre ambos. O ator da Marvel é excelente ao interpretar o protagonista, mas Strahovski rouba os holofotes, oferecendo uma prestação fenomenal, incluindo um longo monólogo que se destaca como uma das melhores entregas de falas do ano até agora. Um alcance emocional absolutalmente espantoso.
Até ao início do terceiro ato, senti-me incrivelmente investido na narrativa formulaica, mas eficaz. Esta pode estar repleta com clichés, mas a missão de salvar o mundo apresenta mistério suficiente e perguntas intrigantes que mantêm os espectadores cativados, para além das sequências de ação admitidamente impressionantes. Chris McKay vem da saga The LEGO Movies – realizando The LEGO Batman Movie, produzindo e editando outros -, mas sem nunca ter trabalhado num filme live-action como uma das principais pessoas responsáveis pela sua criação. Contudo, mostra imenso talento neste filme da Amazon.
Em termos de ação, todas as sequências são notavelmente dirigidas por McKay. Desde a representação brutal de “soldados” a cair do céu até à grande batalha no final do segundo ato, sem esquecer uma cena numa escadaria fascinante, todos os momentos de ação parecem fantásticos. De facto, visualmente, este filme apresenta um dos planos mais bonitos de 2021, mas é o design imaginativo das criaturas que é difícil de esquecer. Geralmente, os monstros CGI são quase incolores, muitas vezes escondidos na escuridão, onde as imperfeições dos VFX são difíceis de se perceber. The Tomorrow War não só possui um look único para as suas bestas alienígenas, como lhes dá-lhes uma pele branca de fazer abrir bem os olhos, mostrando literalmente tudo sem lugar para esconder o que quer que seja.
Os chamados Whitespikes são extremamente ameaçadores e letais, embora o terceiro ato arruíne parcialmente o que poderia ter sido um sério candidato a um dos melhores filmes de “fim do mundo” na memória recente. The Tomorrow War estende o seu tempo de execução a tal ponto que o clímax do filme ocorre com 40 minutos ainda por ver. Normalmente, após este evento em particular, narração ou flashforwards entram em cena e terminam o filme, mas o argumento de Dean ainda mergulha num ato de resolução inteiro… que é praticamente todo ele desnecessário. Apesar de carregar algumas cenas de ação tensas e um final ainda decente, está a quilómetros de distância do que teria sido uma conclusão épica, consequentemente tornando os minutos finais um pouco desapontantes.
O último ato é menos interessante, menos entusiasmante e até levanta algumas questões lógicas quando tenta forçar uma mensagem sobre os governos da vida real. Também encontra maneiras ridículas de chegar a uma localização desconhecida, o que transforma um filme de ficção científica, que até estava a ser surpreendentemente simples, numa aventura mais tonta e sem sentido. Sam Richardson (Promising Young Woman) interpreta Charlie, uma personagem comic-relief responsável por toda a comédia deste filme. Infelizmente, a grande maioria das piadas não têm efeito e algumas até prejudicam a atmosfera de suspense de certas sequências. J.K. Simmons (Zack Snyder’s Justice League, Palm Springs) é um autêntico badass, mas o seu curto tempo de ecrã não é nada mais do que uma estratégia de marketing para alcançar mais espectadores, visto que o seu subplot com Pratt é extremamente subdesenvolvido.
De resto, tenho ainda a dizer que o filme nunca explora realmente como é que a viagem no tempo funciona na realidade estabelecida. Como todos os amantes da sétima arte sabem, quando os filmes lidam com viagens no tempo, perguntas como “afetar o passado afeta o futuro atual ou o futuro de uma nova linha do tempo?” são algo relevantes para entender a história. The Tomorrow War nunca explica detalhadamente como é que esse elemento de ficção científica realmente funciona, mas torna-se mais claro com o passar do tempo. Ainda assim, leva algum tempo até ser totalmente compreendido, o que pode causar alguma confusão inicial. No entanto, esta é uma longa-metragem que, provavelmente, vou reassistir inúmeras vezes, o que me deixa a pensar que pode conquistar uma boa base de fãs.
Filmes como War of the Words, The Day After Tomorrow e até Edge of Tomorrow acumularam fãs e atingiram o estatuto de culto ao longo dos anos, e acredito firmemente que a Amazon conseguiu entregar um produto semelhante. Com todas as suas falhas, este filme tem tudo o que um blockbuster precisa. Estar disponível para assistir num serviço de streaming aumenta, só por si, o seu já massivo valor de repetição, por isso, possui todos os atributos necessários para se tornar um filme favorito dos fãs ao longo da década. É uma pena que não possa ser visto no grande ecrã, mas estou feliz por saber que, no conforto do lar, os espectadores poderão assistir quantas vezes quiserem. Grandes elogios a Lorne Balfe (Gemini Man, Missão: Impossível – Fallout) por mais uma banda sonora memorável que ajuda a compor o tom do filme.
The Tomorrow War é uma das melhores surpresas do ano, possuindo monstros visualmente criativos, sequências de ação repletas de entretenimento e um plano candidato à imagem mais deslumbrante de 2021. Chris McKay demonstra todo o seu talento inegável enquanto realizador, entregando cenas de ação brilhantemente orientadas com um excelente trabalho de câmara, uma banda sonora arrepiante e efeitos especiais excecionais – os Whitespikes parecem incrivelmente assustadores. Zach Dean não evita as fórmulas e clichés do género, oferecendo uma história genérica sem verdadeiras surpresas, mas ainda assim contendo um trabalho de personagem notável.
Chris Pratt é ótimo como protagonista, mas Yvonne Strahovski encontra-se noutro nível, entregando uma das melhores prestações da sua carreira numa longa-metragem. Com um tempo de execução demasiado longo, o último ato é maioritariamente desnecessário e menos entusiasmante, tornando o final um pouco desapontante, principalmente comparando com a conclusão épica do segundo ato.
Não ficarei chocado se ganhar o seu próprio fandom. Tremendo valor de repetição. Recomendo.