The Mandalorian continua com uma narrativa episódica e repleta de ação numa temporada com bastante fan-service.
Sinopse: “Mando (Pedro Pascal) e The Child continuam a sua jornada, enfrentando inimigos e reunindo aliados enquanto atravessam uma galáxia perigosa na era tumultuada após o colapso do Galactic Empire.”
*** Artigo SEM SPOILERS para a SEGUNDA TEMPORADA, mas pode abordar SPOILERS da PRIMEIRA TEMPORADA ***
2019 foi, provavelmente, um dos anos mais antecipados de todos os tempos no que toca ao cinema e televisão. Conclusões épicas a sagas que marcaram o género (Avengers: Endgame, The Rise of Skywalker); a temporada final da maior série de TV de sempre (Game of Thrones); dois dos remakes live-action mais hyped da Disney (The Lion King, Aladdin); o fim da trilogia de M. Night Shyamalan (Glass); o inevitável Joker; e tantos outros filmes ligados a universos cinematográficos, franchises ou algum tipo de fonte original com um enorme fandom. Era impossível que todos ficassem super satisfeitos com todos os resultados. Tive algumas desilusões, mas, honestamente, a maior parte do ano até cumpriu, ou superou, as minhas expetativas insanamente elevadas.
Pouco antes do fim do ano, e ainda antes da última parcela da Saga Skywalker, estreou a série The Mandalorian no Disney+. É seguro escrever que a grande maioria de uma fanbase cada vez mais tóxica (que me fez parar de conversar sobre uma saga que amo tanto) adorou esta série, algo que acreditava ser um sinal de que 2020 seria outro ano incrível… até que uma pandemia global emerge e, de repente, estamos todos presos em casa sem filmes para assistir. A maioria dos filmes e séries mais esperados do ano foram adiados ora para 2021, ora para 2022, e os debates “cinema vs. streaming”, “experiência de cinema vs. visualização em casa” nunca tiveram tanta gente a discutir.
Este prólogo serve para estabelecer que, embora tenha tido imensa sorte em ter acesso a muitos filmes, 2020 não deixou de ser um ano desapontante, vazio e desinspirado para mim. Olhando para a lista original dos meus filmes mais antecipados de 2020, só consegui ver sete dos quinze filmes que estava realmente entusiasmado para ver, um deles em casa (Mulan). No entanto, saber que teria a segunda temporada de The Mandalorian no final do ano fez-me sentir confiante para a conclusão de um ano tão terrível…
O meu único problema com a temporada de estreia foi a falta de uma história central que ligasse tudo. Parecia uma aventura episódica sem consequências reais, algo com o qual não me importo, desde que todos os capítulos tenham o seu próprio entretenimento. Nem todos os produtos de Star Wars precisam de ter uma quantidade absurda de emoção. Na verdade, recebo com prazer uma produção mais simples e direta com personagens aleatórias apenas a viajar pela galáxia tentando sobreviver. The Mandalorian conquistou-me com um protagonista incrivelmente convincente e um bebé encantador, mas desejava algo mais dos novos oito episódios.
Sem spoilar nada, é uma temporada com bastante “fan-service”. Em relação a este assunto, não me importo com fan-service, desde que faça sentido na narrativa e que não seja avassalador ou muito “na cara”, claro. Analisando os episódios, não sinto que estes momentos foram forçados, incompreensíveis ou ilógicos. Na minha opinião, o melhor episódio desta temporada é Chapter 13: The Jedi, que traz de volta uma personagem favorita dos fãs de outra fonte de Star Wars. Não olho para tal como fan-service, pois a história leva o protagonista a esse encontro, tal como outros tantos ao longo da temporada. Dito isto, tenho que elogiar a ação exibida em cada capítulo.
Com sete realizadores diferentes (Peyton Reed comandou dois episódios, um deles o final), é, no mínimo, surpreendente, a forma como fiquei constantemente boquiaberto com cada episódio. Desde o fantástico trabalho de câmara (Barry “Baz” Idoine, Matthew Jensen, David Klein) até à banda sonora fenomenal e viciante (Ludwig Göransson), a Disney oferece o seu excelente valor de produção à série sem qualquer restrição (exceto um detalhe específico do final). The Mandalorian parece, e dá, a sensação de ser muito mais cinemático do que muitos grandes filmes por aí fora, e nunca terei palavras suficientes para fazer justiça a todos os departamentos técnicos envolvidos neste projeto de televisão tão deslumbrante.
A cara de Pedro Pascal permanece escondida durante a maior parte da temporada, tirando alguns momentos adequados e justificados. No entanto, o trabalho de voz de Pascal é mais impactante do que as pessoas pensam, assim como os seus movimentos físicos distintos. Tantos espetadores importam-se imenso com uma personagem cujo rosto raramente é visível em dezenas de episódios… é uma conquista brutal de Jon Favreau, que escreve a maior parte dos argumentos. Muitas personagens novas (algumas familiares) aparecem e todos os atores interpretam o seu papel na perfeição, especialmente Rosario Dawson e Katee Sackhoff. Giancarlo Esposito é definitivamente assustador como Moff Gideon, mas, infelizmente, o seu tempo de ecrã é surpreendentemente limitado, levando-me ao meu principal problema com esta temporada.
Apesar da adição de novas personagens e de um foco maior no desenvolvimento de um enredo central, ainda existem muitos componentes filler. Todos os episódios colocam Mando um passo mais perto de completar a sua missão principal (entregar The Child em segurança a alguém da sua espécie), mas há pelo menos dois episódios que parecem muito inconsequentes. Entendo que Favreau e companhia estão a divertir-se com esta temporada e realmente acredito que todos os capítulos são, pelo menos, “bons”, enquanto que alguns são mesmo “muito bons”, algo que não consigo afirmar sobre a última temporada (Chapter 5: The Gunslinger continua a ser o pior da série). No entanto, o nível e as minhas próprias expetativas são ainda maiores neste momento, o que significa que ainda precisam de aperfeiçoar a sua estrutura de storytelling para fazer todos os capítulos valerem a pena.
Como mencionei acima, Chapter 13: The Jedi é o meu favorito desta temporada e só “gosto” de dois episódios, mas, como em todos os outros filmes/séries, o final tem de ser espetacular. Em termos de ação, repleta da mesma e super entusiasmante.
Em relação às personagens, quase todas oferecem uma ajuda útil. A história, bem… emocionalmente, atinge os altos níveis que requeria. É um final cheio de tensão e suspense, mas também com uma cena genuinamente emocionante e indutora de lágrimas. No entanto, um momento “Deus Ex-Machina” com um face replacement horrível, embaraçoso e angustiante, arruína parcialmente uma conclusão excecional. É uma pena, pois realmente afetou-me de uma maneira negativa, mas longe de estragar o amor que tenho por esta temporada.
Sendo assim, a segunda temporada de The Mandalorian continua a narrativa de estilo episódico da sua temporada de estreia, mas com um foco admitidamente mais significativo no desenvolvimento de um arco central. Todos os capítulos encontram-se repletos com ação de fazer cair o queixo, visuais deslumbrantes e uma banda sonora ridiculamente viciante. Não contenho palavras suficientes para elogiar adequadamente os impressionantes atributos técnicos que transformam esta série numa experiência cinematográfica tão incrível.
Jon Favreau e a sua equipa de realizadores talentosos entregam episódios notavelmente bem dirigidos, mas a estrutura de storytelling necessita de calibração para evitar alguns dos elementos filler. Apesar da temporada que mais tenta agradar à comunidade (que acabou por levar a um momento tecnicamente embaraçoso e terrível no final), a narrativa nunca força pontos do enredo inexplicáveis, seguindo um caminho consistente e sempre cheio de entretenimento que permite a adição entusiasmante de personagens favoritas dos fãs. Com Pedro Pascal como o protagonista convincente e The Child como parceiro irresistivelmente adorável, mal posso esperar pela terceira temporada!