Crítica – Shazam! Fury of the Gods

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Shazam! Fury of the Gods quase que consegue ser salvo pelo elenco incrivelmente carismático e energético, assim como um terceiro ato verdadeiramente entusiasmante.

Pessoalmente, defendo que desfrutar de uma obra depende inerentemente da altura em que esta é lançada. Por alguma razão é que existem filmes que, numa primeira visualização, não resultam de todo, mas, após uma nova visita, somos surpreendidos com uma obra muito melhor daquela que nos lembrávamos – e vice-versa. Em 2019, Shazam! foi uma lufada de ar fresco numa DCEU marcada pela sua inconsistência, apresentando um ambiente mais leve e personagens mais carismáticas. No entanto, o entusiasmo para Shazam! Fury of the Gods manteve-se baixo durante os meses de antecipação… foi a sequela capaz de surpreender novamente?

Resposta curta e direta: não. O realizador David F. Sandberg e o argumentista Henry Gayden regressam para esta segunda aventura com Billy Batson/Shazam, sendo que Chris Morgan (Hobbs & Shaw) contribui para o trabalho respetivo do último. Infelizmente, Shazam! Fury of the Gods cai na armadilha das sequelas a filmes originais de super-heróis: agarra naquilo que funcionou na primeira obra e abusa de todos esses aspetos de maneira excessiva, retirando balanço tonal e autenticidade a uma história que se mantém formulaica e previsível desde o primeiro minuto.

Não esperava um argumento que fugisse à premissa e desenvolvimentos típicos do género, nem que se tornasse num drama familiar pesado, complexo e emocionalmente arrebatador. Shazam! funciona porque nunca se esquece do tipo de filme que é, ou seja, nunca perde a noção de que nada é para ser levado (demasiado) a sério. Os temas sensíveis que possui são abordados com respeito, mas os espetadores nunca são enganados ao ponto de acreditarem que o filme se fosse tornar num estudo de personagem intenso e detalhado.

Shazam! Fury of the Gods não consegue manter esse mesmo equilíbrio. Os traumas que marcaram a vida de Billy criam uma linha narrativa interessante sobre o medo de perder mais uma família ou de todos o abandonarem, apesar da sequela repetir muitos pontos que o original já tinha tratado. Este tópico mais suscetível era suficiente, mas existe uma tentativa de transformar o mesmo em “algo mais”, introduzindo do nada uma relação menos positiva entre Billy e Rosa (Marta Milans), a sua mãe adotiva. Este enredo nunca recebe a devida atenção e é resolvido de uma forma tão simplista e injustificada que acaba por acidentalmente diminuir a relevância e dificuldades deste tipo de situações.

Apesar da duração ser praticamente a mesma entre os dois filmes, a sequela dá a sensação de ser muito mais longa devido aos seus primeiros dois atos vazios de momentos com verdadeira energia e coração. Shazam! Fury of the Gods é tão genérico que até a sequência de ação de abertura é apenas uma repetição barata de uma ponte prestes a desmoronar-se. A porção do meio perde imenso tempo à volta de MacGuffins, exposição desnecessária e vilãs com motivações plásticas. Tal como todas as outras personagens do filme, estas últimas beneficiam das prestações soberbas das suas atrizes.

Helen Mirren (F9) e Lucy Liu (Strange World) agarram-se à sua experiência para elevar os seus papéis, mas Rachel Zegler (West Side Story) impressiona com um carisma enorme que salta para fora do ecrã. Todos os atores jovens têm os seus momentos, assim como as suas versões adultas – tirando Grace Caroline Currey (Fall) que interpreta as duas versões da sua personagem, um dos vários pontos de enredo sem qualquer explicação – mas Zachary Levi destaca-se de forma clara como Shazam. O ator consegue representar este seu personagem de olhos fechados, tal como Jack Dylan Grazer também faz com Freddy Freeman.

Shazam! Fury of the Gods oferece bastante tempo de ecrã a este último, colocando-o num enredo romântico de adolescentes, o que acaba por gerar mais um problema. Se, no filme original, Freddy ainda é tolerável, nesta sequela o personagem é quase insuportável. A comédia leve e tonta que marcou a primeira obra já possuía níveis propositados de foleirice nas suas piadas. No entanto, a vasta maioria das mesmas sai ao lado, o que realça a parte mais irritante da personalidade de Freddy. O tal balanço tonal perde controlo, tornando vários momentos forçados e excessivamente cringy.

Sandberg consegue, mesmo assim, entregar um terceiro ato capaz de salvar o filme para muitos espetadores. A última meia hora de Shazam! Fury of the Gods tem os tais níveis de energia, excitação e adrenalina que um filme de super-heróis requer, para além de introduzir reviravoltas genuinamente interessantes e momentos cómicos com princípio, meio e fim – nunca olharei para unicórnios da mesma maneira. Os efeitos visuais são excelentes, especialmente tendo em conta o orçamento comparado com outros blockbusters. Algumas cenas isoladas com atores à frente de panos verdes/azuis são demasiado notórias, mas no geral, é um esforço bastante satisfatório da equipa de efeitos especiais.

A banda sonora (Christophe Beck) eleva imenso o final, chegando inclusive a provocar arrepios e criando aquela atmosfera épica que Shazam! Fury of the Gods tanto necessitava para a sua conclusão. Uma decisão narrativa em particular é bastante arrojada e, sem dúvida, geraria muito mais conversa sobre o filme, mas um momento “Deux ex machina” com um cameo absolutamente ilógico e completamente desnecessário arruína quaisquer hipóteses da sequela terminar de forma verdadeiramente impactante. Pior ainda é perceber que os trailers contêm tantos mas tantos spoilers que até o cameo em si perde todo o seu fator surpresa.

shazam fury of gods 2

Termino relembrando o primeiro parágrafo desta crítica. Shazam! Fury of the Gods chega numa altura onde o universo cinemático onde se insere está prestes a ser reiniciado. Tanto quanto sabemos, esta pode ser a última vez que vemos Levi e companhia. A campanha de marketing para esta sequela é uma migalha daquilo que a obra original recebeu. E, no fim de tudo, é uma sequela. O fator novidade já não se encontra presente, pelo que seria difícil voltar a surpreender. Aos dias de hoje e após uma única visualização, a sequela não me agradou. Dito isto, não ficarei chocado se daqui a uns anos rever o filme e este ser “melhor do que me lembrava”.

VEREDITO

Shazam! Fury of the Gods quase que consegue ser salvo pelo elenco incrivelmente carismático e energético, assim como um terceiro ato verdadeiramente entusiasmante. Infelizmente, a obra cai na armadilha de exagerar aquilo que funcionou no original, excedendo-se em praticamente todos os aspetos narrativos e perdendo autenticidade pelo caminho. Demasiado longo, aborrecidamente genérico e com falta de um rumo mais claro, nomeadamente no tratamento dos temas familiares. Comédia longe da eficiência do antecessor. Recomendo à vasta maioria dos fãs do género que, com certeza, desfrutarão da leveza ainda presente nesta sequela.

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