Crítica – Self Reliance

- Publicidade -

Self Reliance possui uma premissa intrigante, mas acaba por jogar demasiado pelo seguro.

Mais um filme sobre o qual tinha total desconhecimento para continuar as visualizações do novo ano. Mais uma estreia na realização de longas-metragens, desta vez de Jake Johnson (Tag). E mais uma obra que chamou a minha atenção devido ao seu elenco interessante. Depois de Night Swim e Role Play, chegou a vez de Self Reliance tentar surpreender-me com uma premissa de alto conceito que prometia entretenimento de todas as partes do espetro comédia-thriller.

A narrativa segue Tommy Walcott, interpretado pelo próprio Johnson, um homem solitário aprisionado na monotonia da sua vida diária, que agarra a oportunidade de participar num reality show da “dark web” onde tem de sobreviver 30 dias sem ser morto por outros – chamados de “hunters” – e ganhar um milhão de dólares. O truque? O participante só pode ser atacado quando se encontrar completamente sozinho. Este “buraco” no jogo é obviamente explorado pelo protagonista, que inicia uma aventura de auto-descoberta num cenário de vida e morte.

Self Reliance tem um início promissor, preparando o terreno para uma competição repleta de emoção com potencial para imenso humor, mas também um estudo mais profundo da vitalidade das conexões humanas. No entanto, à medida que a narrativa se desenrola, torna-se evidente que o filme não consegue realizar totalmente estes aspetos. O lado da competição carece de uma clara delimitação entre realidade e ilusão, criando ambiguidade sobre as consequências reais envolvidas. Embora seja verdade que Johnson introduz intencionalmente alguns desvios, levando os espetadores a questionar se os eventos estão a desenrolar-se na mente de Walcott ou não, esta técnica nem sempre serve bem à narrativa, resultando numa falta de urgência genuína. A escassez de “hunters” e a ausência de um sentido palpável de perigo contribuem para um vazio geral na tensão e suspense da obra.

Outro problema reside na abordagem de Johnson à ação. O terceiro ato, com uma conclusão apressada e sobrecarregada com sequências de ação forçadas, falha em injetar a adrenalina necessária no enredo. A inexperiência de Johnson como cineasta – ainda maior como realizador de ação – torna-se aparente, sendo que estes momentos finais carecem do impacto necessário para quebrar a crescente repetição da história principal.

No que diz respeito às personagens, Self Reliance faz um trabalho melhor. Johnson consegue entregar um estudo de personagem decente, embora sem atingir o pináculo do seu potencial. A obra transmite efetivamente uma mensagem clara sobre a importância das ligações humanas, enfatizando a felicidade derivada de experiências partilhadas com amigos e família. Embora não seja inovador, a exploração deste tema acrescenta profundidade ao protagonista e às suas motivações.

Apesar das falhas, Self Reliance oferece uma experiência de visualização agradável. O elenco, liderado por Johnson e apoiado pela sempre encantadora Anna Kendrick (Alice, Darling), eleva o material com as suas interpretações. Neste filme em particular, Johnson brilha mais como argumentista e ator do que como realizador. O guião oferece inúmeras oportunidades para o elenco mostrar o seu talento cómico, sendo que o carisma magnético de Kendrick rouba os holofotes durante os seus momentos no ecrã – por favor, coloquem-na em mais obras!

Um ritmo rápido e uma duração curta parecem apropriados para este tipo de narrativa. Apesar de desequilíbrios tonais ocasionais, as transições entre as diferentes atmosferas são suficientemente bem geridas para evitar mudanças bruscas. Não posso afirmar que Self Reliance atinge o seu potencial – longe disso -, mas não deixo de recomendar à maioria dos espetadores, que penso que se divertirão bastante.

VEREDITO

Self Reliance possui uma premissa intrigante, mas acaba por jogar demasiado pelo seguro. Mais audácia e ousadia eram necessárias para deixar verdadeiramente uma marca na estreia de Jake Johnson como realizador de longas-metragens. Bom trabalho como ator – Anna Kendrick rouba o protagonismo, contudo – boa demonstração das suas capacidades como argumentista – apesar de não aproveitar totalmente o potencial narrativo – mas a falta de controlo firme sobre os elementos de thriller e algumas inconsistências de tom impedem a obra de alcançar um patamar superior. Alguns momentos bem-humorados e uma mensagem sobre a importância das conexões humanas talvez tornem a obra suficientemente satisfatória para quem estiver à procura de uma comédia-thriller mais descontraída.

- Publicidade -

Deixa uma resposta

Introduz o teu comentário!
Introduz o teu nome

Relacionados

Self Reliance possui uma premissa intrigante, mas acaba por jogar demasiado pelo seguro. Mais um filme sobre o qual tinha total desconhecimento para continuar as visualizações do novo ano. Mais uma estreia na realização de longas-metragens, desta vez de Jake Johnson (Tag). E mais...Crítica - Self Reliance