Crítica – Samaritan

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Samaritan possui uma premissa bastante interessante, mas, infelizmente, é mais uma adição à lista de filmes com potencial desperdiçado.

Faz anos que Overlord saiu nos cinemas, permanecendo uma das maiores surpresas que já testemunhei no grande ecrã. Quase sem expetativas, Julius Avery deixou-me espantado com o seu segundo filme. Assim, quando descobri que o cineasta ia explorar uma história mais sombria dentro do género de super-heróis, interessei-me imediatamente pelo projeto respetivo. Apesar de compreender as razões por detrás das opiniões sobre “superhero fatigue“, a verdade é que esse tal “cansaço” só é mencionado quando as obras não são bem-sucedidas. Portanto, sendo este um género que aprecio bastante, estarei sempre investido naquilo que realizadores e argumentistas tenham para oferecer. Dito isso, Samaritan contém uma premissa cheia de potencial, mas falha seriamente em desenvolver as suas ideias fascinantes.

Este é o primeiro argumento de longa-metragem por parte de Bragi F. Schut, algo que pode ou não ser a principal razão pela qual Samaritan ignora uma narrativa muito mais interessante e emocionalmente convincente, substituindo-a por um enredo genérico e previsível sobre um jovem, Sam (Javon Walton), fanboying sobre conhecer um famoso super-herói, Joe Smith (Sylvester Stallone), que desapareceu há décadas após uma batalha contra o seu próprio irmão, Nemesis. Aliás, só para o caso de alguém entrar com expetativas imprecisas, Walton retrata o verdadeiro protagonista. Obviamente, Stallone ainda possui bastante tempo de ecrã, mas o foco principal da história gira à volta de Sam, do bullying que sofre frequentemente e o caminho criminoso que segue para ajudar a sua mãe solteira a pagar as contas.

Nada de novo ou inventivo aqui. Samaritan toca superficialmente no tema “bom vs. mau” – já abordado mil e uma vezes – pelo que não existem surpresas reservadas. Avery tenta fazer parecer com que o seu filme possua várias camadas e seja chocante com algumas revelações teoricamente impactantes, mas é tudo tão familiar que nem mesmo espetadores inexperientes serão apanhados de pé atrás por algo que pode ser facilmente decifrado após os primeiros minutos. Não há nada de errado em utilizar fórmulas e clichés conhecidos, desde que sejam executados de forma a oferecer entretenimento ao público. Infelizmente, dois problemas rodeiam este ponto importante…

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Apesar de Samaritan ser, de facto, diferente dos filmes convencionais do género, não deixa de ser um filme de super-heróis. Obviamente, tal não significa inerentemente que uma obra seja obrigada a ter sequências de ação – Joker é um excelente exemplo de um filme de super-heróis que não se foca em combates – mas deve ter algo que entregue esse valor de entretenimento. O problema é que não só a ação é desapontante, como não há nada que a substitua ou acrescente. As cenas de luta são decentes no seu melhor, mas no geral, são meramente o atirar-e-socar repetitivo do costume. O trabalho de stunts é realmente impressionante, no entanto. Os stuntmen são atirados para todo o lado através de todos os obstáculos possíveis de imaginar.

No fim, o principal problema é que a melhor história é encolhida para caber num prólogo narrado visualmente estilizado que levanta muitas questões instigantes, mas estas terminam inexploradas ou respondidas de uma maneira muito simplista e barata. Samaritan realmente possui uma premissa entusiasmante, mas recusa-se a mergulhar fundo na história do seu próprio mundo, acabando por desvalorizar a relação simbólica Samaritan-Nemesis – Stallone passa o filme inteiro basicamente a responder “não quero falar sobre isso” sempre que alguém pergunta sobre o seu passado. Além disso, há green screen bastante percetível e efeitos visuais pobres em outros elementos.

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Quero terminar com pontos positivos. A banda sonora de Jed Kurzel e Kevin Kiner e as prestações do elenco são a grande salvação. Stallone dá o seu melhor com o que tem, trazendo muito humor a uma obra bastante insípida. Tendo em mente que Walton tinha 14/15 anos quando filmou Samaritan, o jovem ator entrega uma boa performance, embora defenda que o seu personagem nunca devia ter sido o protagonista deste filme se a premissa tivesse seguido o seu caminho mais intrigante. Pilou Asbæk interpreta o antagonista de uma forma convincentemente malvada, acrescentando alguma loucura necessária. Com um argumento mais refinado, Avery definitivamente seria capaz de criar um filme muito melhor.

Samaritan possui uma premissa bastante interessante, mas, infelizmente, é mais uma adição à lista de filmes com potencial desperdiçado. O que poderia ter sido uma história verdadeiramente sombria e fascinante sobre dois irmãos com superpoderes com visões distintas sobre a vida é, em vez disso, uma narrativa mole, previsível e formulaica com menos Sylvester Stallone do que o esperado.

O elenco oferece boas prestações, mas a opção de focar no personagem genérico de Javon Walton quando o prólogo deixa espaço para uma exploração tão envolvente e rica do passado prova ser uma decisão terrível. Em termos de ação, falta a energia e a criatividade necessárias para entreter a maioria dos espetadores, apesar do trabalho dedicado da equipa de stunts. Um pouco frustrante em retrospetiva.

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