Palmer habilita-se a ser um sério candidato a um dos meus filmes favoritos do ano e ainda estamos em janeiro…
Sinopse: “Antiga estrela do futebol americano, Eddie Palmer (Justin Timberlake) passou de herói da cidade a criminoso condenado a doze anos de prisão. Regressa a casa para voltar a morar com Vivian (June Squibb), a avó que o criou, formando uma ligação improvável com Sam (Ryder Allen),um rapaz de uma família problemática vizinha. Enquanto tenta reconstruir uma vida tranquila, é assombrado pelas recordações dos seus dias de glória e pelos olhares desconfiados da pequena comunidade.”
Os serviços de streaming têm crescido exponencialmente e, com a atual pandemia global a afetar profundamente a indústria cinematográfica, estúdios de todo o mundo começaram a aceitar o destino dos seus filmes. Controvérsia tornou-se uma palavra banal neste debate, especialmente no que diz respeito à decisão de distribuir exclusivamente blockbusters e filmes muito antecipados através da Netflix, HBO, Disney+, Apple TV+, entre outros.
Em relação a este assunto, defenderei sempre a experiência de cinema como algo único e incomparável com a visualização em casa, pelo menos de uma forma geral. No entanto, considero que o caminho mais compreensível para agradar a todos seja oferecer aos espectadores as duas escolhas e acredito firmemente que será esta a nova norma, mais tarde ou mais cedo.
Qual a razão por detrás deste prólogo aparentemente sem relação? Bem, Palmer estreia exclusivamente na Apple TV+, que é, provavelmente, o serviço de streaming mais subestimado atualmente. Tanto os seus filmes originais (Wolfwalkers, On the Rocks) como as suas séries de TV (Servant) tornaram-se cada vez mais bem sucedidos e a sua qualidade de produção deixa dezenas de estúdios inquestionavelmente invejosos. Com isto em mente, acredito que um filme indie com uma narrativa como a de Palmer iria sempre sofrer na bilheteira numa distribuição de cinema normal, logo sinto-me genuinamente contente que tenha sido a Apple a pegar no mesmo, pois não ficaria surpreendido se terminasse como um dos meus filmes favoritos do ano.
Já vi Fisher Stevens antes, mas nunca na cadeira de realizador. Estou surpreendido com o quanto este filme me impactou positivamente. O argumento de Cheryl Guerriero pode não ser groundbreaking ou incrivelmente inovador, mas segue uma fórmula extremamente eficiente que, quando escrita e realizada da maneira correta, atinge o coração da maioria dos espetadores. Ostentando diálogos bem escritos e cativantes que parecem reais, Palmer conta uma história admitidamente clichê, sim, mas fascinante, com duas personagens excecionalmente inspiradoras que podem, sem dúvida, servir como uma bela influência para muitos espectadores que estão a passar ou passaram por problemas de vida semelhantes.
Ryder Allen interpreta Sam, um rapaz vítima de bullying com um grau notável de autoconfiança e orgulho, apesar de viver numa roulote com pais terríveis e ser ridicularizado pelos seus colegas de escola. Não deixa que outras pessoas controlem as suas escolhas ou os seus gostos, independentemente do que aconteça. A sua vontade e felicidade em vestir-se de princesa, fazer festas de chá,ou simplesmente ser “diferente” de todos os outros (como referido a determinada altura) pode ter um resultado extraordinário no público em casa, principalmente em crianças. Em relação ao desempenho de Ryder, não tenho dúvidas de que será um nome forte em categorias referentes a jovens atores, visto que entrega uma prestação sincera que me provocou algumas lágrimas pelo fim do filme.
No que toca ao parceiro protagonista, Justin Timberlake interpreta Eddie Palmer, um ex-presidiário a tentar encontrar o caminho certo depois de perder mais de uma década da sua vida devido a um crime grave. No entanto, à medida que a personagem é apresentada e desenvolvida ao longo do tempo de execução, torna-se relativamente fácil estabelecer uma relação emocional com Palmer. Apesar do seu tempo na prisão ter sido mais do que justo, Palmer demonstra ser uma pessoa altruísta e afetiva que realmente quer redimir-se dos seus erros, admitindo que está longe de ser considerado uma pessoa “normal”, consequentemente criando um vínculo inquebrável com Sam. Timberlake surpreendeu-me genuinamente com uma performance ponderada e experiente.
No final, é a conexão incrivelmente honesta entre Palmer e Sam que elevam o argumento e o tornam numa narrativa tão inspiradora. Existem outras relações impactantes e interessantes, nomeadamente entre Palmer e Maggie Hayes (Alisha Wainwright), bem como entre Palmer e a sua avó. Estas personagens afetam significativamente a vida de Palmer e as atrizes encontram-se à altura. No entanto, Shelly (Juno Temple) é uma mãe horrível. Não consegui sentir pena da mesma, nem depois de certos atos de compaixão que são realizados com o objetivo dos espectadores perdoarem a personagem. Tecnicamente, apenas um elogio rápido para a banda sonora subtil de Tamar-kali que me atingiu fortemente nos momentos certos.
Espero sinceramente que este filme indie de Fisher Stevens encontre o seu público em casa, pois contém uma história honesta, educacional e emocionalmente convincente de redenção e aceitação pessoal. Palmer pode seguir uma fórmula genérica que todos os espectadores já viram, pelo menos, algumas dezenas de vezes, mas o argumento bem escrito e eficiente de Cheryl Guerriero é traduzido para o ecrã de uma maneira incrivelmente autêntica e genuína.
A ligação maravilhosa entre as personagens de Justin Timberlake e Ryder Allen é o coração e alma do filme. Ambos os atores entregam prestações fenomenais, tal como o resto do elenco, mas é a narrativa sincera (e também clichê), repleta com mensagens significativas que, em última análise, leva lágrimas aos olhos.
Apesar da tentativa falhada em fazer os espectadores sentirem compaixão pela personagem de Juno Temple, a Apple TV+ oferece outro filme altamente louvável para assistir com a família.
Palmer chega à Apple TV+ esta sexta-feira.
ser normal um dia ainda vai ser crime.