Crítica – On the Rocks

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On the Rocks não parece um filme, mas sim uma história real com pessoas reais… pelo menos até ao terceiro ato.

On the Rocks

Sinopse: “Uma jovem mãe nova-iorquina (Rashida Jones), diante de súbitas dúvidas sobre o seu casamento, junta-se ao seu pai (Bill Murray), um excêntrico playboy, para juntos seguirem o seu marido (Marlon Wayans).”

Antes de analisar o filme em si, devo confessar a minha admiração pela carreira de Sofia Coppola até agora. Com um cineasta tão célebre como pai (Francis Ford Coppola, o famoso realizador por detrás da clássica trilogia The Godfather, Apocalypse Now e muito mais), Sofia foi capaz de criar uma carreira distinta, evitando comparações condescendentes com o sucesso do seu pai. A maioria das pessoas iriam ceder à pressão na mesma situação, sucumbindo ao fracasso total.

Felizmente, Sofia começou a mostrar o seu talento muito cedo, entregando uma das melhores rom-coms dos anos 2000, Lost in Translation (apenas a sua segunda longa-metragem). Portanto, estava realmente muito interessado na premissa aparentemente simples de On the Rocks.

Esta última obra da filmografia de Sofia continua com uma das suas caraterísticas marcantes: um filme leve que aborda temas não tão leves. A narrativa principal segue a resposta a uma pergunta binária: estará o marido de Laura (Rashida Jones), Dean (Marlon Wayans), a ter um caso? Os dois resultados possíveis não permitem que o filme contenha surpresas impactantes em relação a este enredo, mas Sofia escreve um argumento repleto com interações entre personagens cativantes, principalmente entre Laura e o pai, Felix (Bill Murray). O início do filme concentra-se em demonstrar o dia-a-dia de Laura, desenvolvendo a personagem de uma maneira excecionalmente suave e tranquila.

Estes primeiros minutos sem Felix na fotografia estabelecem perfeitamente o estado mental de Laura. Os seus sentimentos, pensamentos, dúvidas, tudo é partilhado com o espetador, seja através de exposição clara ou expressões subtis da notável Rashida Jones, que entrega uma prestação calma, mas extremamente rica. De seguida, entra o fenomenal Bill Murray. Felix é um idoso charmoso, mas complicado, que não consegue estar perto de uma mulher sem se atirar à mesma ou dizer parvoíces como: “acho que estou a ficar surdo apenas com as vozes das mulheres”. A sua relação com a filha parece muito próxima ao ponto de Laura confiar nas suas teorias da conspiração loucas baseadas em factos exagerados.

Aqui encontra-se o meu problema número um com o filme. Até ao terceiro ato, descreveria On the Rocks em apenas uma palavra: real. Todas as cenas, conversas ou ações são exibidas de uma forma tão realista que tenho dificuldades em encontrar uma única sequência que não necessitasse de estar no filme. Ao fim de cada cena, o espetador aprende sempre algo novo, seja sobre uma personagem, um evento ou apenas um mero detalhe da vida de alguém. No entanto, a última meia hora leva as personagens principais (pai e filha, para ser claro) por um caminho que ultrapassa o limite do bom senso, criando a dúvida sobre se Laura realmente seguiria tal trajeto, baseado no que o filme mostrou da sua personalidade até então.

No entanto, este não é “o” problema. Esse é a revelação que vem com este ato final que levanta algumas questões sobre a conexão pai-filha. Não posso entrar em spoilers, mas Sofia desenvolve Felix como um homem engraçado, divertido, para não ser levado a sério e que faz algumas piadas que não deve em demasia. Apesar disso, depois de descobrir uma certa parte da sua vida e o quanto isso afetou a família, perdi parcialmente a empatia que tinha. A revelação é, provavelmente, o único aspeto ligeiramente surpreendente do filme, não por ser chocante (o filme claramente aponta nesta direção), mas devido ao foco do espetador estar apenas em descobrir se Dean está ou não a trair Laura.

On the Rocks

Este novo desenvolvimento faz questionar como Laura consegue estar tão perto do pai sem nunca mostrar no ecrã como a mesma lidou com a situação, especialmente no final onde o assunto é trazido de volta à sua vida. Não se deixem enganar com esta explicação extensa, não desgostei do filme, de todo! Não posso negar o impacto deste problema, mas está longe de destruir On the Rocks. É muito bem produzido, com todos os aspetos técnicos a complementarem-se. Sofia controla tanto o ritmo como o tom do filme impecavelmente.

Mesmo assim, Rashida Jones e Bill Murray roubam os holofotes. Ambos entregam performances fantásticas, carregando os diálogos sem esforço e abraçando totalmente as personalidades das suas personagens. Marlon Wayans também é muito bom, apesar de não ter muito tempo de ecrã. Com uma duração curta, a premissa fica surpreendentemente mais cativante do que estava a antecipar. Senti-me investido no processo de descobrir a resposta à grande questão e, apesar do terceiro ato parcialmente desapontante, este enredo é brilhantemente executado.

No fim, On the Rocks é mais um sucesso para a A24 e Apple TV+. Sofia Coppola continua a já notável e distinta carreira com mais uma peça definida por um dos seus atributos conhecidos. Um assunto sério retratado através de uma perspetiva mais leve, possuindo interações fascinantes entre personagens e uma premissa que acaba por ser muito mais envolvente (mas ainda um pouco previsível e formulaica) do que o que se esperava da mesma.

Rashida Jones e Bill Murray são genuinamente impressionantes, partilhando uma química palpável, e ultimamente carregando toda a narrativa nos seus ombros. Não parece um filme, mas sim uma história real com pessoas reais… pelo menos até ao terceiro ato, onde uma sequência exagerada e difícil de se acreditar leva a uma revelação que questiona a ligação emocional entre pai e filha, bem como a resolução apressada de tal novidade. Não deixo de recomendar, especialmente como uma escolha de fim-de-semana, ao fim da tarde, devido ao seu tempo de duração curto e história, no geral, bastante agradável.

Acesso ao filme via screener fornecido pela AppleOn The Rocks já está disponível na plataforma de streaming.

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