Crítica – Pain Hustlers

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Pain Hustlers faz o mínimo para explicar de forma eficaz uma história real aterradora, mas, dadas as estrelas principais e o talento do realizador, poderia e provavelmente deveria ter sido muito melhor.

Para muitos espetadores, as presenças de Emily Blunt (Oppenheimer) e Chris Evans (Avengers: Endgame) serão, sem dúvida, as principais razões para ver Pain Hustlers. Apenas os seus nomes são suficientes para despertar o interesse de um público vasto, dado o seu histórico de prestações impressionantes em diversos géneros. Pessoalmente, considero o facto deste ser apenas o terceiro filme de David Yates como realizador fora da franchise Harry Potter o aspeto mais cativante desta investida da Netflix. O seu trabalho bem-sucedido no Wizarding World solidificou-o como um cineasta talentoso, mas ver como Yates aborda uma história diferente é uma perspetiva interessante.

Pain Hustlers gira em torno de uma história real chocante no campo farmacêutico que expõe o lado perturbador da ganância humana e até que ponto algumas pessoas estão dispostas a ir em busca do seu próprio ganho. Wells Tower escreve o seu primeiro argumento e faz um trabalho decente ao transmitir os eventos aterradores, colocando os holofotes sobre as graves consequências de colocar riqueza e ambição acima de humanidade e saúde. A narrativa é eficaz na explicação do que aconteceu, deixando os espetadores com uma compreensão clara dos acontecimentos, apesar da falta de originalidade – é uma obra “baseada numa história real” bastante genérica, previsível e que se estende além do necessário.

Liza Drake (Blunt) e Pete Brenner (Evans) são as personagens principais de Pain Hustlers, ou melhor, as pessoas reais por trás de um enredo incrivelmente desumano. Ambos navegam território moralmente ambíguo, mas mostram sinais opostos de desconforto, cuidado e, por fim, arrependimento. Blunt oferece uma performance notável, demonstrando o seu enorme talento e profundidade emocional, que são simplesmente demasiado bons para este tipo de filme. Por outro lado, embora alguns possam questionar a sua escolha para este papel, Evans parece deleitar-se na natureza antagónica e desprovida de empatia da sua personagem. Ambos carregam a obra aos ombros enquanto conseguem, mas…

Pain Hustlers tropeça no equilíbrio de tom. Yates adota uma abordagem algo descontraída a uma história sombria e trágica. As mortes de vítimas inocentes devido à obsessão implacável de outros tornam-se mais um pano de fundo para as trajetórias das personagens do que um ponto central na narrativa. Tal problema inevitavelmente levará a comentários sobre a “falta de sensibilidade” do realizador ao lidar com um tema tão delicado. A falta de impacto genuíno atribuído a estas mortes pode alienar alguns espetadores que esperam uma representação mais respeitosa do sofrimento das vítimas, mas a gravidade desta situação pode também depender de fatores geográficos.

Os espetadores americanos, especialmente aqueles familiarizados com os eventos reais em que Pain Hustlers se baseia, provavelmente considerarão o tom leve potencialmente mais insensível do que espetadores de outras partes do mundo. Possuir uma ligação direta ou mesmo indireta com a história real pode fazer com que o tratamento casual de assuntos sérios pareça descuidado, enquanto os espetadores internacionais com olhos frescos e sem conhecimento prévio podem não sentir essa mesma insensibilidade. Estas perspetivas distintas destacam a importância dos cineastas terem um cuidado pessoal em atingirem um equilíbrio geral bem controlado ao adaptar histórias verídicas, especialmente aquelas que podem ser muito próximos a um determinado público.

VEREDITO

Pain Hustlers faz o mínimo para explicar de forma eficaz uma história real aterradora, mas, dadas as estrelas principais e o talento do realizador, poderia e provavelmente deveria ter sido muito melhor. Apesar de Emily Blunt e Chris Evans entregarem prestações fortes, David Yates vacila no equilíbrio tonal, tratando as mortes de vítimas inocentes com uma leveza desconfortável que pode deixar espetadores, especialmente o público americano, a sentirem que a obra é demasiado insensível. Tematicamente, as consequências trágicas da obsessão pela riqueza em detrimento de vidas humanas são bem representadas, mas a falta de originalidade geral e a duração prolongada deixam a experiência geral num meio-ponto desapontante.

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