- Publicidade -

Knock at the Cabin marca o regresso em grande de M. Night Shyamalan, com possivelmente a sua melhor obra do mesmo desde Signs!

Normalmente, quando se fala de cineastas favoritos, vêm à cabeça realizadores com sucessos uns atrás dos outros. Carreiras repletas de filmes culturalmente impactantes, pessoalmente memoráveis ou que marcaram uma geração inteira. M. Night Shyamalan é um nome algo popular neste tipo de discussões, mas a sua filmografia peca tremendamente pela qualidade inconsistente. Na transição do milénio, Shyamalan apareceu com obras-primas inesquecíveis (The Sixth Sense, Unbreakable, Signs), mas depois atravessou um longo hiatus com filmes bastante divisivos ou absolutamente desastrosos.

Em 2016, ressurgiu com Split, uma sequela secreta a Unbreakable que chocou – pela positiva – uma audiência que tanto esperou pelo regresso em grande do cineasta. Infelizmente, Shyamalan não conseguiu entrar numa nova onda positiva, desiludindo com Glass e, mais tarde, com Old. Tendo tudo isto em conta, porque razão é que tantos cinéfilos continuam a olhar para Shyamalan com tanta admiração e respeito, incluindo eu próprio? E onde será que Knock at the Cabin encaixa no espetro qualitativo imprevisível das suas obras?

A última pergunta é a mais fácil de responder e aquela em que realmente desejo debruçar-me. Knock at the Cabin só não é o melhor filme que Shyamalan cria desde Signs – 21 anos de diferença – porque Split existe e tem algo a dizer. E não, não é um daqueles casos em que apenas é o “melhor desde *inserir nome de filme ou data*” porque não havia “competição”. Shyamalan consegue mesmo recuperar a sua aura com uma adaptação do livro The Cabin at the End of the World (escrito por Paul G. Tremblay) que irá, com certeza, obter uma receção muito positiva por parte de críticos e público geral.

Knock at the Cabin concentra todos os seus holofotes numa “simples” pergunta: sacrificariam alguém que amam para salvar toda a população da Terra? E se essa questão for colocada por um grupo de estranhos que interrompe as vossas férias relaxantes na floresta? O que seria preciso acontecer até aceitarem que esta insanidade seria, de facto, real? E se não for? E se tudo for apenas um movimento macabro de um culto religioso? As perguntas são infindáveis, pois os dilemas morais são impossíveis de responder momentaneamente.

cabin at the end of the world 3

Os pais Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge), mais a sua filha, Wen (Kristen Cui), são a família escolhida para lidar com este obstáculo emocionalmente devastador, independentemente da decisão ultimamente tomada. Este tema principal é espremido ao máximo para provocar sequências verdadeiramente chocantes e traumáticas, levando os protagonistas por uma espiral de emoções incontrolável. Através de takes longos e close-ups extremos, Shyamalan gera uma atmosfera tipo-bolha, prestes a rebentar a qualquer momento de tanta tensão e suspense acumulados.

A cinematografia de Jarin Blaschke (The Northman) destaca-se devido à tal persistência da câmara nos atores, provocando uma ansiedade nos espetadores de fazer abanar a perna e roer as unhas até ao último segundo do filme. A banda sonora de Herdís Stefánsdóttir (Y: The Last Man) e principalmente a produção de som – Knock at the Cabin torna-se especialmente imersivo num sistema 7.1 – contribuem de forma impactante para um ambiente irrequieto que beneficia ainda mais da localização única, caraterística bastante comum na carreira de Shyamalan.

Todo o elenco entrega prestações arrebatadoras, mas a destacar alguém, tem de ser Dave Bautista (Glass Onion: A Knives Out Mystery). O ator tem vindo a responder em entrevistas que deseja seguir um caminho mais dramático e deixar para trás papéis mais inconsequentemente cómicos. Em Knock at the Cabin, Bautista não só consegue a sua melhor performance da sua carreira, como se torna no meu wrestler-tornado-ator favorito. Numa obra onde as aparências iludem, Bautista lidera a “missão” do seu grupo de forma fascinante, agarrando o espetador ao ecrã logo desde o primeiro minuto.

Não muito atrás dele vem Groff (The Matrix Resurrections). Nunca fui particularmente fã do ator, mas o maior acumulação de emoção encontra-se no seu personagem. Gradualmente, Eric vai tentando interpretar, julgar e decidir o que fazer no meio de tanto caos. Acompanhar este arco de personagem através das expressões faciais de Groff torna-se simultaneamente assustador e cativante. Já o seu contraparte, Aldridge (Spoiler Alert), representa um papel mais protetor e agressivo, criando um balanço interessante entre dois personagens que reagem de forma distinta a uma situação stressante.

Nikki Amuka-Bird (Persuasion), Abby Quinn (I’m Thinking of Ending Things) e Rupert Grint (Servant) contribuem com performances igualmente notáveis, sendo que o último merecia mais tempo de ecrã. Com a ajuda de Steve Desmond e Michael Sherman, Shyamalan cria um argumento que eficientemente explora as suas personagens, apesar das transições para determinados flashbacks nem sempre resultarem. De qualquer das maneiras, o trabalho de personagem é digno de elogios, sendo que qualquer uma possui caraterísticas extremamemente relacionáveis, sendo um dos inúmeros fatores que contribuem para a tal atmosfera rica em tensão.

Alguns momentos beneficiariam de maior choque visual, mas trata-se apenas de um detalhe insignificante. Knock at the Cabin preocupa-se mais em jogar com os aspetos de horror inerentes à premissa, o que não tem qualquer problema associado. Dito isto, existe uma tentativa curta de explorar o facto de toda a situação acontecer a um casal homossexual, assim como o claro contexto religioso. Pessoalmente, acredito que havia lugar para uma maior aprofundação destes temas, mas é mais uma ideia que seria interessante de se seguir do que propriamente uma falha do filme.

cabin at the end of the world 2

Knock at the Cabin é uma obra perfeita para defender Shyamalan como um realizador fantástico. Alguém que sabe como construir a plataforma ideal para o elenco brilhar. Alguém que sabe como usar o pouco espaço e tempo ao seu dispor – habilidade impressionante de tornar filmes de uma só localização hipnotizantes. Alguém que gera um ambiente imersivo sem grandes dificuldades. Como argumentista, é reconhecido pelas suas decisões criativas, arrojadas e sem medo de divisão, tendo mesmo a (má?) tendência de querer mudar por completo o filme com um twist de última hora.

E é sobre este assunto com que desejo terminar a crítica. Expetativas são um fator frequentemente ignorado e menosprezado por espetadores, como se possuir uma idea pré-definida do que antecipamos assistir não afetasse a opinião final assim tanto. No caso de Knock at the Cabin, é relativamente fácil de presumir que quem conhece Shyamalan irá entrar no cinema aguardando um terceiro ato que, para o bem ou para o mal, irá provocar uma reação geral de “o que raio acabou de acontecer?” A parte interessante deste tópico encontra-se precisamente na opinião que os espetadores sobre estes mesmos twists.

Se Knock at the Cabin jogar pelo seguro, irá desapontar quem adora estes momentos surpreendentes e satisfazer quem tanto critica esta obsessão do cineasta? E se for a situação oposta? A verdade é mais simples do que parece: depende da qualidade do twist. Obviamente, isto tem tanto de vago como de subjetivo, tal como tudo na apreciação de cinema. Mas como fã de Shyamalan e de todas as suas qualidades que, por vezes, são defeitos e vice-versa, a conclusão deste filme consegue simultaneamente deixar-me completamente satisfeito e… a pedir por algo mais.

Todas as obras de Shyamalan são inegavelmente impactantes e Knock at the Cabin não foge a essa tradição. Imagino facilmente a tornar-se num clássico de culto ou, evitando esse potencial exagero, a ser visto e revisto vezes sem conta por fãs de horror psicológico e claustrofóbico. No fim, fico genuinamente feliz por um cineasta que sacrifica tanto da sua vida para trazer histórias imaginativas ao grande ecrã voltar às bocas do mundo de uma maneira positiva.

VEREDITO:

Knock at the Cabin marca o regresso em grande de M. Night Shyamalan, com possivelmente a sua melhor obra do mesmo desde Signs! Aproveitando as prestações soberbas de um elenco liderado por um Dave Bautista fenomenal, o cineasta explora a complexidade emocional presente em dilemas morais profundos do ser humano quando confrontado com decisões de vida ou morte. Foco total numa só localização com cinematografia persistente e produção sonora imersiva, gerando uma atmosfera carregada de tensão excruciante.

Extraordinariamente hipnotizante de início ao fim. Nasceu o próximo clássico de culto.

- Publicidade -

Deixa uma resposta

Introduz o teu comentário!
Introduz o teu nome

Relacionados

Knock at the Cabin marca o regresso em grande de M. Night Shyamalan, com possivelmente a sua melhor obra do mesmo desde Signs! Normalmente, quando se fala de cineastas favoritos, vêm à cabeça realizadores com sucessos uns atrás dos outros. Carreiras repletas de filmes culturalmente...Crítica - Knock at the Cabin