Francamente, um filme de horror muito inocente.
Sinopse: “Dois casais alugam uma casa de férias para o que deveria ser um fim-de-semana de festa e celebração.”
The Rental é a estreia de Dave Franco como realizador e argumentista de uma longa-metragem. Criar um filme de horror de sucesso nunca foi tarefa fácil, mas acredito que é ainda mais difícil hoje em dia. É um género que evoluiu de muitas maneiras diferentes, mergulhando em subgéneros distintos e ajudando novos realizadores a contar histórias de horror brilhantes. Claro, todos os anos surgem dezenas de filmes de horror desastrosos e a maioria das listas de “Piores Filmes do Ano” conta sempre com mais do que um filme deste tipo.
No entanto, defendo firmemente que o horror está a agarrar cada vez mais audiências, pelo que acredito genuinamente que seja uma questão de tempo até que um prémio de “Melhor Filme” seja entregue a uma peça deste género. Dito isto, The Rental é um dos melhores ou nem por isso? Bom, é tão “okay” quanto pode ser.
É complicado criticar detalhadamente um filme que não oferece muito material para analisar. The Rental apresenta uma história simples, com quase nenhuma complexidade. Quatro personagens com motivações claras e genéricas. Os seus relacionamentos e a forma como lidam com cada laço romântico são, surpreendentemente, os aspetos mais interessantes do filme. Ainda assim, além de ser um pouco previsível, parece mais cativante do que realmente é, até porque há um elemento em particular do argumento que não nos consegue dar uma narrativa convincente.
O principal (e, honestamente, único) componente de horror da história não é mais do que uma tentativa oca de criar uma franchise. Atenção, não há nada de errado em introduzir uma história abrangente no primeiro filme de uma saga, mas se este pequeno tease desempenha todo o papel de “horror”, então Franco não irá receber mais nada do público a não ser desilusão. Os espetadores até podem ficar satisfeitos com alguns jumpscares e cenas sombrias, mas se as perguntas que o filme faz não forem respondidas, é bem provável que as pessoas não apreciem essa ambiguidade.
No meu caso em particular, posso afirmar que estaria interessado numa sequela, até porque este primeiro filme cria um mistério realmente intrigante que adoraria ver desenvolvido e, eventualmente, resolvido. No entanto, isto significa sacrificar o último filme, uma vez que, basicamente, este usa todo o tempo de execução para introduzir a tal personagem/elemento abrangente.
The Rental segue a fórmula habitual de “amigos numa casa de férias onde as coisas não são o que parecem”, não conseguindo tornar Dave Franco num realizador de horror a seguir de perto. Mostra, contudo, algum talento: a atmosfera desconfortável é bem estabelecida e os diálogos dos atores desenrolam sem muitos cortes, algo que aprecio profundamente.
Tecnicamente, é muito bom, sendo honesto. É um filme bastante escuro por vezes, mas é possível ver tudo claramente, o que, por norma, é um problema neste tipo de filmes. O terceiro ato pode ser parcialmente dececionante, mas a sua execução mantém a tensão e suspense necessários.
Dan Stevens e Sheila Vand dão-nos duas performances excelentes, mostrando uma química notável. Alison Brie e Jeremy Allen White também fazem um bom trabalho, mas a dupla anterior rouba os holofotes. Confesso que gostaria que tivesse mais sequências de horror, apesar de apreciar o foco nas relações e dinâmicas das personagens.
Resumindo, The Rental é uma clara tentativa de criar uma nova franchise de horror e, honestamente, funciona parcialmente. Se “sucesso” significa fazer com que os espetadores se interessem por uma eventual sequela, então, missão cumprida. No entanto, sacrificar o primeiro filme de uma possível saga para apenas introduzir o seu elemento principal de horror não funciona tão bem como Dave Franco pode ter pensado.
Na sua estreia na cadeira de realizador, Franco foca-se nas personagens e nas suas relações, algo que é, sem dúvida, o aspeto mais cativante do filme, também graças a um elenco fantástico. Apesar de alguns atributos técnicos que demonstram talento, o argumento formulaico e o seu desenvolvimento previsível estão longe de ser divertidos o suficiente para segurar a minha atenção.
As dezenas de perguntas sem resposta definitivamente deixam uma porta aberta para produzir uma sequela genuinamente convincente, mas esta primeira parcela irá sempre parecer mais um prólogo do que um filme em si. Se estão apenas à procura de um filme de horror simples para gastarem algum tempo extra que tenham, este não vai surpreender-vos, mas pode ser uma escolha decente e inofensiva para um sábado à noite.
The Rental chega aos cinemas portugueses a 17 de setembro.