Crítica – Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves

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Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves é um dos melhores filmes de fantasia dos últimos anos.

Fantasia é, sem dúvidas, um dos meus géneros favoritos. Desde The Lord of the Rings até Game of Thrones, tudo o que envolva elementos do fantástico cativa-me de forma especial. No entanto, o meu conhecimento sobre o famoso RPG que dá origem a esta adaptação é pouco ou nenhum. Tenho alguma familiaridade com o conceito e estrutura do jogo, mas nunca participei em nenhuma campanha. As expetativas pessoais aumentaram com a receção incrivelmente positiva que me deixou esperançoso por uma nova obra de fantasia que pudesse genuinamente desfrutar. Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves surpreende… e de que maneira!

A premissa de Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves divide-se em duas partes: a primeira em obter um objeto com um poder especifico e a segunda em invadir um castelo e resgatar Kira (Chloe Coleman), a filha do protagonista, Edgin (Chris Pine). Obviamente, existem outros pormenores que rodeiam e interligam estas campanhas, mas o enredo principal não foge deste caminho primário, deixando mesmo de lado linhas narrativas e personagens secundárias para futuras e inevitáveis sequelas. Pessoalmente, mal posso esperar pelas mesmas!

Mesmo entrando no cinema antecipando um filme minimamente satisfatório, os realizadores Jonathan Goldstein e John Francis Daley (Game Night), que também co-escrevem o argumento com Michael Gilio (Kwik Stop), rebentam com a escala do que esperava. Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves tem tanto a seu favor que é difícil escolher por onde começar, mas o elenco charmoso carregado de química merece o destaque, pois sem este conjunto de atores e atrizes, a narrativa formulaica com MacGuffins à mistura teria sido muito menos interessante.

Todos têm timing cómico excecional, elevando as inúmeras cenas de humor extremamente eficientes. Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves é, acima de tudo, uma comédia de provocar várias gargalhadas numa sala cheia, algo que, sinceramente, já não experienciava há algum tempo. Existe uma cena num cemitério que irei rever – e rir-me – dezenas de vezes. Mas também é uma aventura repleta de adrenalina, energia e ação com magia, dragões, elfos e muito mais. Os efeitos visuais deixam certos blockbusters de super-heróis invejosos, assim como a banda sonora verdadeiramente épica de Lorne Balfe (His Dark Materials).

dungeons and dragons echo boomer 2

Fiquei contente por ver Sophia Lillis (It) novamente, especialmente num papel relevante como o de Doric, uma druida capaz de se transformar em várias formas animais e que decide ajudar o grupo para revitalizar o seu enclave. Justice Smith (Sharper) continua a sua evolução surpreendente enquanto ator, desta vez ao representar Simon Aumar, um mago com problemas de auto-estima, mas que se levanta sempre que cai. Os dois atores possuem várias interações divertidas, sendo que se ajudam mutuamente a superar os obstáculos pessoais.

A principal badass de Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves não podia ser outra que não Michelle Rodriguez (F9). A atriz interpreta Holga, uma bárbara exilada da sua tribo por ter cedido ao amor, mas as aparências não enganam; Holga tem as melhores cenas de luta, enfrentando soldados em sequências longas com stunts impressionantes para uma obra onde se esperava CGI abundante – balanço entre localizações verdadeiras e paredes verdes/azuis é de louvar. Regé-Jean Page (The Gray Man) não tem muito tempo de ecrã como Xenk Yendar, mas tal como os seus colegas, contribui imenso tanto para a ação como para a comédia.

Curiosamente, é o mais experiente Hugh Grant (The Gentlemen) que acaba por não se sair tão bem como Forge Fitzwilliam, um vigarista ganancioso ajudado por Sofina (Daisy Head), uma feiticeira poderosa. Não me interpretem mal, a sua prestação cumpre precisamente com aquilo que os cineastas pretendem do ator, mas o seu personagem é tão caricatural que sobressai em demasia comparativamente à naturalidade do grupo principal. Se one-liners funcionam brilhantemente com Chris Pine (Don’t Worry Darling) e companhia, com Grant e Head (Wrong Turn) nem por isso.

No entanto, o destaque vai mesmo para Pine. Em Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves, o ator entrega todo o seu charme e personalidade a Edgin, um simples bardo a tentar corrigir os erros do passado. Todas as personagens são relacionáveis ou simplesmente engraçadas, lidando com os seus próprios arcos e eventos da obra com quantidade q.b. de ironia e sarcasmo que encaixam na perfeição na atmosfera mais leve empregue pelos cineastas. Mas o passado de Edgin tem mais peso emocional do que parece, e o balanço entre enredos dramáticos e um ambiente cómico não é fácil de se controlar. 

Felizmente, o elenco, principalmente Pine, conseguem trazer mais coração a um filme que bem necessita de emoção genuína. Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves pode não aprofundar muito os seus temas mais sensíveis de abandono parental e luto, nem ninguém pedia isso de uma obra criada para entreter um público-alvo jovem, mas, mesmo com pouco trabalho neste âmbito, consegue transmitir mensagens positivas no meio de tantos momentos aventurosos.

Pessoalmente, não tenho problemas de maior com Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves. Sim, é previsível, e o segundo ato inteiro gira à volta de um autêntico MacGuffin que acaba por ser totalmente irrelevante para o enredo em si, mas sem a procura incessante desse mesmo objeto, determinados eventos importantes não aconteceriam e uma personagem em particular não teria um arco completo. Não é um filme que me fez sair do cinema com uma lista de notas negativas, mas sim uma experiência de cinema que me deixou satisfeito… e surpreendido com o quanto me deixou satisfeito.

VEREDITO

Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves é um dos melhores filmes de fantasia dos últimos anos. Chris Pine destaca-se num elenco incrivelmente charmoso e com uma química tão natural que os momentos cómicos são verdadeiramente hilariantes – a cena do cemitério é para ser revista inúmeras vezes. Uma obra com aventura para dar e vender, contendo sequências de ação repletas de elementos do fantástico e acompanhadas por efeitos visuais e uma banda sonora notáveis. Das experiências de cinema mais satisfatórias e surpreendentes do ano até à data. Impossível não recomendar a qualquer tipo de espetador.

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