Crítica – Sharper

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Sharper é um thriller psicológico guiado e marcado por personagens convincentes, mas a falta de exploração dos vários temas apresentados e uma conclusão abrupta deixam um sabor ligeiramente amargo.

Deixando de lado o fator subjetivo da qualidade, a Apple TV+ é, com alguma margem, o serviço de streaming menos popular. Todos os outros possuem franchises conhecidas com bases de fãs enormes, pelo que é normal que tenham mais subscritores e, consequentemente, mais conversa à volta dos mesmos. Dito isto, a Apple TV+ esforça-se para se focar mais na qualidade ao invés da quantidade, uma mentalidade que tem provado ser acertada tal o sucesso dos seus filmes e séries originais. Sharper é a obra mais recente e possui inúmeras razões para conquistar a atenção dos espetadores ainda antes destes premirem o botão.

Julianne Moore (When You Finish Saving the World) e Sebastian Stan (Fresh) saltam à vista no que toca ao elenco, mas Justice Smith (Jurassic World Dominion) e principalmente Briana Middleton (The Tender Bar) são os que mais surpreendem. Deixando as prestações dos atores para mais tarde, o motivo que me fez ganhar tremendo interesse no filme foi o facto de Benjamin Caron ser o realizador desta obra. É a sua estreia em longas-metragens, mas estamos a falar de um cineasta responsável por alguns dos melhores episódios de séries como Andor, Sherlock e The Crown.

E em Sharper, Caron demonstra todo o seu talento por detrás da câmara. Num argumento guiado por personagens – redigido por Brian Gatewood e Alessandro Tanaka – Caron cria uma atmosfera única para cada uma, construindo todas as cenas com planos deslumbrantes e oferecendo aos espetadores uma razão extra para se sentirem cativados. A narrativa é dividida em capítulos – explicitamente marcados com títulos em ecrã preto – intitulados com o nome de cada personagem: Tom (Smith), Sandra (Middleton), Max (Stan) e Madeline (Moore).

No entanto, ao contrário de outros filmes que utilizam este método de contar histórias para repetir os mesmos eventos através de perspetivas distintas, cada secção de Sharper conta uma parte diferente da narrativa, ora avançando o enredo principal, ora explorando o passado das personagens. Tal alteração à fórmula comum permite, na teoria, acrescentar imprevisibilidade a cada capítulo, pois o público deixa de ter conhecimento prévio sobre as conclusões respetivas. Caron consegue passar da teoria à prática com algum sucesso durante a primeira metade da obra, mas ainda antes deste ponto, surge o maior problema com o argumento.

Sharper é um filme carregado com inúmeros twists que supostamente devem aumentar os níveis de entusiasmo e interesse no mesmo, para além de trazer um valor de choque à narrativa. Infelizmente, os espetadores rapidamente encontram-se um ou mais passos à frente de todas as personagens, removendo qualquer fator surpresa de momentos que dependem tremendamente desse mesmo aspeto. Obviamente, um espetador saber de antemão o que está para acontecer não impossibilita que a execução de tais desenvolvimentos não seja apreciada e que possua o seu próprio valor de entretenimento.

E é aqui que as performances do elenco contribuem imenso para a desfrutação da narrativa. Moore e Stan usam a sua experiência para interpretar personagens misteriosas nas quais é difícil de confiar, sendo que o último demonstra uma certa aptidão para este tipo de papéis. Surpreendentemente, são Smith e principalmente Middleton que roubam os holofotes ao entregar prestações fenomenais. O ator tem oportunidade de finalmente mostrar um lado dramático mais convincente que interpretações anteriores, enquanto que a atriz deixou-me boquiaberto com a sua expressividade e alcance emocional.

Sharper não aprofunda muito os vários temas relacionados com classes sociais, comodidades provenientes de riqueza e os arcos de redenção presentes na obra, terminando com uma sequência de eventos algo abrupta e distante da narrativa mais terra-a-terra desenvolvida até esse momento. Decisões particulares de certas personagens geram dúvida sobre as suas verdadeiras intenções, o que pode causar alguma sensação contraditória aos espetadores, visto que o próprio filme não justifica por completo essas mesmas atitudes.

Sharper

VEREDITO

Sharper é um thriller psicológico guiado e marcado por personagens convincentes, mas a falta de exploração dos vários temas apresentados e uma conclusão abrupta deixam um sabor ligeiramente amargo. A narrativa repleta de twists mantém os espetadores atentos, mas dificilmente serão surpreendidos com os desenvolvimentos facilmente antecipáveis. Benjamin Caron torna a visualização mais interessante com uma direção forte e visualmente apelativa, sendo que o elenco também merece elogios, principalmente Briana Middleton.

Recomendo a fãs do género, mas fica o aviso de que a conclusão da obra tem peso suficiente para, de alguma forma, ou estragar ou elevar a experiência geral. Sharper está disponível na Apple TV+.

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