Um simples e divertido RPG de ação que chega finalmente à PS4 depois de um lançamento na PS Vita e no PC.
Muito mudou desde o lançamento de Final Fantasy VII em 1998. O clássico da PlayStation foi uma verdadeira mudança de paradigma na indústria, trazendo o género RPG para a ribalta e demonstrando como o público ocidental estava disposto a investir nas aventuras grandiosas e nos combates por turnos que alimentavam a imaginações dos jogadores japoneses.
Com o passar dos anos, o Ocidente abriu as suas portas ao género e vimos a chegadas de algumas das séries mais famosas, como o regresso de Dragon Quest e Shin Megami Tensei, mas também a estreia de títulos peculiares como Dark Cloud, Valkyria Chronicles e Legend of Legaia.
No meio de tantos lançamentos, a série Ys manteve-se perdida e longe da atenção dos jogadores. Depois do regresso na PS2 e na PSP, as aventuras de Adol continuaram a ser relegadas a um público restrito. Para muitos, Ys é uma série peculiar, perdida no tempo e com uma origem pouco ou nada conhecida.
Na verdade, Ys é uma das series mais antigas do género, com o primeiro título a ser lançado no NEC PC-8801 em 1987, e das primeiras a combinar a estrutura clássica dos RPG com um sistema de ação. Mesmo com o seu estatuto de culto, a Falcom voltou à carga e apostou, uma vez mais, no mercado ocidental com o lançamento de Ys Origins e do excelente Ys VIII: Lacrimosa of Dana. Agora, em 2020, Ys está de regresso, mas desta vez com a reedição de Memories of Celceta, anteriormente disponível no PC e PlayStation Vita.
A Falcom fez a escolha acertada ao dar uma segunda oportunidade ao exclusivo da Vita. Agora disponível para PC e PS4, Memories of Celceta dá-nos um olhar importante sobre a evolução da série, servindo como um ponto de transição entre Ys Seven, lançado na PSP, e Ys VIII, que cimentou a direção e estilo desta nova vertente da franquia.
Para os que não estão familiarizados com as aventuras de Adol Christin, o RPG de ação segue o famoso aventureiro de cabelo vermelho à medida que explora a misteriosa floresta de Celceta. Após perder as memórias, Adol terá de regressar à floresta e descobrir o que está por detrás dos seus poderes misteriosos e do desaparecimento dos seus habitantes, culminando numa campanha rápida, repleta de ação e muito assente na estrutura, temas e mecânicas clássicas da série.
Memories of Celceta é um RPG de ação imparável, apresentando um sistema de combate muito intuitivo e variado. Apesar de não se focar nas tradicionais combinações, traz-nos um leque de ataques rápidos, várias habilidades especiais – com um golpe poderoso para cada herói – e um sistema de rotação de personagens que tornam os confrontos mais dinâmicos. Com um sistema de evolução bastante clássico, onde podemos melhorar os atributos de Adol de nível para nível, mas também pelos equipamentos e acessórios que equipamos, Memories of Celceta simplifica as suas mecânicas para manter o jogador focado na exploração e no combate.
O grande destaque vai, no entanto, para o sistema de rotação de personagens. Ao contrário dos títulos anteriores, Memories of Celceta expande as mecânicas de Ys Seven e coloca-nos no controlo de três personagens em combate. Cada personagem tem as suas habilidades e vantagens, e é essencial saber quando e como combinar os seus poderes ao longo da campanha. Na verdade, o jogo funciona quase como um jogo de pedra-papel-tesoura, no sentido em que cada personagem tem uma classe de ataque (slash, strike, pierce) que disfere mais pontos de dano a determinados tipos de inimigos. A rotação entre personagens é feita através de um único botão (no caso da versão PS4, é o círculo) e é instantânea, refletindo assim a velocidade do sistema de combate.
No fim do dia, Memories of Celceta é absolutamente divertido, mesmo não apresentando variações ou combinações nos ataques básicos, para além das habilidades especiais, e sofrendo de alguma repetição. A floresta de Celceta esconde vários segredos e caminhos alternativos, apesar de manter uma estrutura maioritariamente linear. À medida que exploramos, encontramos baús, novos recursos – que podemos utilizar através do sistema de crafting ou trocar por materiais mais poderosos – e inimigos secretos que irão desafiar-nos em combate.
A exploração é essencial, especialmente para os que quiserem completar o mapa a 100%, existindo sempre o incentivo das missões secundárias, que se relegam à descoberta de um item ou ao combate contra um monstros específico.
Apesar da sua linearidade, Celceta procura dar aos jogadores incentivos para continuarem a exploração. Para além de completarem o mapa a 100%, existem tesouros e zonas da floresta que só ficarão disponíveis se tiverem a personagem com a habilidade correta na equipa. Seja cortar plantas, abrir tesouros ou destruir pedras, estas habilidades são essenciais e revelam alguns dos caminhos alternativos do jogo. Desta forma, cria-se uma certa rotatividade na gestão da equipa, dando aos jogadores a possibilidade de conhecerem melhor os protagonistas de Memories of Celceta.
Por fim, temos o foco nas memórias de Adol. Ao longo do jogo, Adol está amnésico, sem se lembrar do seu passado ou do que aconteceu na floresta de Celceta durante a sua primeira visita. Para um aventureiro, perder as memórias é um golpe forte e o jogo tenta, ainda que muito levemente, criar essa emoção tanto na personagem, como no jogador. Cria-se assim a missão de recuperar as memórias de Adol, espalhadas agora pela floresta, e ligar os vários momentos da sua vida. Desde a sua infância, ao ouvir histórias sobre o mundo, até aos seus primeiros passos como aventureiro, as memórias desbloqueiam pequenos trechos de história que revelam um pouco mais sobre Adol, um herói que é maioritariamente silencioso.
A passagem para a PS4 não é surpreendente. Apesar de termos modelos mais definidos e uma maior luminosidade e cor nos cenários e nas personagens, Memories of Celceta é um jogo da PS Vita e não há volta a dar. Os mapas são muito limitados, os modelos não apresentam grande detalhe, a IA das personagens é muito limitada (especialmente no que toca ao pathfinding) e há a sensação de estarmos perante um mundo muito pequeno e condicionado pelo hardware da portátil. Nada disto afeta a jogabilidade, felizmente, mas gostava que a série surpreendesse mais a nível visual.
No entanto, a banda sonora, composta por Hayato Sonoda, Takahiro Unisuga, Saki Momiyama e Tomokatsu Hagiuda, surpreende mais uma vez pela positiva, mantendo a energia e variedade que marcaram os títulos anteriores.
Ys: Memories of Celceta poderá não ser para todos, mas é um excelente RPG de ação que utiliza a sua simplicidade para criar uma campanha divertida, repleta de combate e com alguns momentos mais emocionantes. Depois de Lacrimosa of Dana, este é um pequeno passo atrás, mais limitado e seguro, mas é igualmente mais focado no sistema de combate e na exploração. Esperemos que Ys IX: Monstrum Nox chegue brevemente à Europa.
Plataformas: PC, PlayStation 4
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela Decibel PR.