Shadow Corridor – Bem vindos ao Tédio

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Um jogo de terror demasiado preso à sua fórmula que só é indicado para os amantes de sustos fáceis.

Se é impossível manter-me afastado de jogos de terror, esta relação de dependência agrava-se ainda mais com a chegada de outubro e do Dia das Bruxas. Batem as 12 badaladas do décimo mês do ano e a minha visão muda. É o mês do horror, do oculto e do paranormal, e se no cinema procuro descobrir novos clássicos e revisitar antigos favoritos, o mesmo acontece nos videojogos, em especial nas produções independentes. Shadow Corridor é um misto dos dois, de origens humildes, mas assentes numa vertente do género que sempre achei peculiar, onde os puzzles, a navegação e a furtividade são tão importantes como o ambiente aterrador e opressivo que associamos a este tipo de experiências. Mas Shadow Corridor não é assim.

De facto, Shadow Corridor, que chegou agora à Nintendo Switch e PlayStation 4, é um dos jogos de terror mais diretos e focados que podemos encontrar nas consolas, mas é de tal forma enraizado no seu formato que se torna num detrimento à sua experiência. A história é muito básica e apresenta-se apenas como uma premissa para o que é uma campanha dividida por vários níveis que nos transportam para uma realidade de lendas e folclore. Somos apenas uma personagem que se perde entre ruelas da nossa cidade, ao som das cigarras, enquanto somos encaminhados pelo sino de um gato. Quando menos esperamos, fomos transportados para uma realidade paralela.

Entre lendas e histórias de maldições, assim se constrói a campanha de Shadow Corridor, que agora é acompanhada por um episódio adicional. No entanto, a estrutura não se inspira como devia nas lendas que tenta retratar e traz-nos uma experiência tão segura, como desnecessariamente complexa. Apercebi-me que Shadow Corridor faz parte de outro sub-género, mais focado num jogo de gato e rato – onde podemos incluir Yuoni e White Day –, onde a ação decorre em cenários labirínticos, de design aleatório, com objetivos que nos levam a recolher um número de itens antes de avançarmos para a próxima fase. Os corredores dão lugar a salas rudimentares, onde inspecionamos os mesmos móveis à procura de chaves, que abrem portas perdidas algures entre os labirintos mutáveis entre tentativas. Na minha opinião, um enorme tédio.

Como seria de esperar, existe sempre uma presença opressiva nos corredores das casas, nos caminhos dos jardins e nos salões que visitamos. Uma presença que se faz sentir através da sua máscara Noh, de cor branca, que surge através dos recantos escuros deste mundo em constante mudança. Não temos maneira de nos defender a não ser fugir, correr e esconder-nos algures numa sala, longe da sua visão, e rezar para que não sejamos capturados. Shadow Corridor segue a tradição já bolorenta deste sub-género de terror, onde o design labiríntico dos cenários é tão perigoso como a entidade que nos persegue, obrigando-nos a explorar todos os recantos em busca de um número variado de objetivos enquanto encontramos fontes de luz e outras ferramentas, como bombinhas, para distrair quem nos persegue.

Esta fórmula diz-me pouco. Revelação! E diz-me pouco pela utilização de cenários repetitivos, de corta e cola – que ainda têm pior aspeto na versão Switch –, pela aleatoriedade do posicionamento dos objetos, pela perseguição cansativa e pouco assustadora de uma entidade indestrutível, e pela troca do horror e da construção de ambiente pela tensão momentânea e os sustos fáceis. São jogos de terror pensados para as transmissões em direto e para as coletâneas de sustos no YouTube. Não quero ofender os fãs deste sub-género, mas não é isto que procuro num jogo de terror. Pela sua estética e aposta em cenários saídos do imaginário japonês, especialmente das suas lendas, esperava entrar num videojogo mais assente no horror e no retrato do seu folclore, mas não foi isso que Shadow Corridor me trouxe. Os sustos são fáceis e previsíveis, a aleatoriedade dos cenários é mais enervante do que tensa e a repetição de objetivos, divididos por níveis – que roubam parte da tensão à campanha e a tornam descartável –, cria um marasmo de acontecimentos pouco marcantes que se perdem ao longo das horas de conteúdos.

Não há muito para me sentir imerso neste mundo, o que é uma pena. Shadow Corridor abriu-me o apetite para o mês de Halloween e penso que só Project Zero: Maiden of Black Water, e o seu retrato de histórias e lendas de rituais macabros, poderá satisfazer.

Cópia para análise (versão Nintendo Switch) cedida pela NIS America.

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