Forgive Me Father – O melhor tipo de déjà-vu

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O horror cósmico está novamente no menu deste festim de ação e tripas.

Com a ascensão dos novos titãs de ação na primeira pessoa, torna-se comum encontrar projetos que procuram ser tão fieis às suas inspirações, como suficientemente atuais para captar a atenção de um público mais vasto. Tal como Project Warlock, Forgive Me Father é um desses videojogos, fortemente enraizado na estrutura e design dos FPS dos anos 90, mas também preocupado em proporcionar uma experiência assente na evolução das personagens e na aposta em mecânicas RPG que tornam o antigo em familiar. A combinação nem sempre funciona, mas Forgive Me Father é divertido e envolvente quando existe um equilíbrio entre a ação frenética e a sua temática de horror cósmico.

A obra de H.P. Lovecraft continua a influenciar a imaginação de inúmeros criadores por todo o mundo e Forgive Me Father é mais uma adaptação dos seus mitos, transportando-nos para uma realidade mágica, onde as criaturas anfíbias coexistem com os seres humanos e o horror corporal dá origem a monstruosidades indescritíveis. Com duas personagens à escolha, a campanha divide-se por atos, construindo-se sobre níveis curtos e sempre recheados de conteúdo, onde seguimos a história dos dois protagonistas à medida que descemos no seu enorme poço cósmico. A narrativa não consegue aguentar o peso e as expectativas das suas inspirações, como seria de esperar, e a aposta em elementos narrativos, que se encontram espalhados pelos cenários, não é a mais bem sucedida, contrastando constantemente com a ação que encontramos nas várias fases da campanha – onde nem sempre há tempo para parar e ler descrições que pouco adicionam à narrativa.

Felizmente, Forgive Me Father destaca-se mais em movimento e no seu classicismo mecânico. Apesar de focar a ação em níveis mais fechados e sem grande aposta na verticalidade, o estilo nostálgico de títulos como Doom e Duke Nukem 3D mantém-se intacto, desde salas repletas de inimigos até à busca incessante por chaves coloridas que nos permitem avançar na campanha. Estes elementos já conhecidos, ao ponto de se terem tornado clichés, funcionam devido à duração dos níveis, que surgem em doses pequenas, onde não há tempo para sentir a repetição dos seus elementos e da fórmula pouco imaginativa implementada aos combates, como o posicionamento das criaturas inimigas e até a sua presença nos cenários.

Se jogaram um FPS, já sabem como Forgive Me Father funciona, mas sentimos constantemente como a Byte Barrel limou as suas mecânicas e apostou não só na movimentação fluída, como no seu estilo visual, próximo de uma banda desenhada, criando uma experiência sempre divertida e empolgante. É um jogo tão equilibrado e bem pensado que o armamento disponível, que desbloqueamos ao longo dos atos, nunca perde a sua utilidade. É normal encontrarmos casos em que as primeiras armas, como a tradicional pistola, deixam de ser eficazes perante certos tipos de inimigos, mas não em Forgive Me Father. A faca e o revólver mantêm-se bastante presentes na ação e nunca deixam de ser úteis, demonstrando um equilíbrio interessante entre o seu poder de fogo e a eficácia no que toca à distância. Poderá parecer um pormenor insignificante, mas revela como a Byte Barrel quis criar esta ideia de rotatividade inerente à jogabilidade, motivando o jogador a aproveitar ao máximo as ferramentas que tem à sua disposição e consegue fazê-lo sem depender de um armamento inovador.

Se dissecarmos este classicismo que tanto profetizo e identifico, vemos que o coração de Forgive Me Father é mais jovem do que aparenta ser e serve de ponte para a forma como a equipa trabalhou o armamento em jogo. Não só temos duas personagens distintas à nossa disposição, como vemos a presença de sistemas mais atuais, como um sistema de evolução por níveis e uma árvore de habilidades. A evolução é automática e desbloqueia regularmente novos pontos de experiência que podemos utilizar na surpreendentemente árvore de atributos, onde é possível não só influenciar o armamento que temos – com cada arma a apresentar duas evoluções possíveis, sendo que eliminam uma delas ao fazerem a vossa escolha -, como a energia das personagens e outras habilidades passivas. É um sistema muito acessível e intuitivo, ainda que tenha sentido que a evolução por níveis não seja suficientemente equilibrada para nos deixar experimentar mais ao longo da campanha – e a Byte Barrel parece ter sentido o mesmo porque adicionou um perk onde podemos receber mais pontos de experiência.

Também temos ataques especiais que procuram dar alguma variedade aos combates, nomeadamente nos momentos mais sufocantes. Estes ataques são temáticos e inserem-se muito bem no tom místico de Forgive Me Father, como uma câmara fotográfica, que paralisa momentaneamente os nossos inimigos, ou um charuto terapêutico que nos permite recuperar energia enquanto atacamos. Forgive Me Father também aproveita a sua aproximação à obra de Lovecraft ao munir-se de outro cliché, o sistema de sanidade. Ao contrário de outros títulos do género, a sanidade não surge como uma penalização, mas sim uma camada adicional ao combate do jogo, permitindo ao jogador recuperar utilizações das suas habilidades especiais. O mesmo não pode ser dito da lanterna, cuja utilização fica aquém do prometido. A lanterna é um dos elementos especiais de Forgive Me Father e transporta-nos até aos tempos de DOOM 3, onde não podemos utilizar a lanterna e a arma em simultâneo. O problema é que não existem momentos ideais para esta troca e a melhor opção acaba por ser não utilizar a lanterna.

Apesar de alguma repetição no design dos níveis e de uma certa claustrofobia em alguns cenários, Forgive Me Father provou ser divertido e desafiante, especialmente nos confrontos contra os bosses, apresentando monstros disformes ao longo das suas seis horas de campanha. Existe uma evolução interessante no tipo de inimigos e nas armas que temos ao nosso dispor, onde destaco a sua sonoplastia, mas Forgive Me Father acaba por ser pouco memorável ao mesmo tempo.

É um jogo de ação sólido que merece a atenção dos fãs destes projetos revivalistas, mas, para o jogador menos habituado a este foco na ação, em detrimento da narrativa, a experiência poderá ser demasiado limitada. Felizmente, posso dizer que não me insiro nesse grupo e adorei que Forgive Me Father não tivesse quaisquer problemas em ser este jogo de ação focado e clássico que parece ter saído diretamente de um Pentium II.

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Cópia para análise (PC) cedida pela 1C Entertainment.

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