FM 2022 – A pirâmide não foi invertida, mas quase

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Novo ano, nova versão do melhor simulador de treinador de futebol. Será que vamos gostar das novidades?

Texto por: Cláudio Araújo

Para esta época, Football Manager (FM) traz-nos como principais novidades as reuniões de staff, profundas alterações ao motor de jogo, ao último dia do mercado de transferências e, ainda, a introdução de um data hub – todo um conjunto impressionante e minucioso de dados estatísticos para obtermos o máximo desempenho da nossa equipa. Um pacote que inicialmente parece um polimento de FM 2021.

A adoção de dados analíticos no futebol tem sido uma tendência nos últimos anos, desde a análise do estilo de jogo, pontos fortes e fraquezas dos adversários, à aplicação destes dados para a contratação de jogadores. Se o primeiro é a identificação do estilo de jogo de uma equipa com base nas suas estatísticas, a segunda é uma espécie de aplicação dos atributos de FM à vida real. Talvez consiga explicar-me melhor com um exemplo. Um avançado que, na vida real, precise de muito poucas oportunidades para marcar um golo, pode-se considerar um avançado com finalização 17 de 0 a 20 em FM. Como é que os clubes fazem a determinação desta classificação de videojogo na vida real? Recorrendo a combinações matemáticas de dados analíticos onde obtêm resultados com base numa série de estatísticas obtidas ao longo de vários jogos, tais como diferença entre golos marcados e golos esperados, pontaria e o posicionamento no campo dos remates.

A estatística que tem ganho mais popularidade nos últimos anos chama-se golos esperados (expected goals em inglês e geralmente representado pela sigla xG). Esta estatística, cujo valor varia entre 0 e 1, é obtida através da análise de milhares de repetições de diversas situações em jogos de futebol e é calculada uma probabilidade de a situação analisada resultar em golo. Por exemplo, um cabeceamento ao primeiro poste sem pressão dos defesas adversários tem um xG mais alto que um remate quase do meio-campo (exceção feita se o remate for de Éder, em Paris, frente à seleção francesa, nomeadamente em 2016).

Claro que estes dados estatísticos não são infalíveis e os valores de xG dependem dos métodos de cálculo e das amostras utilizadas pelas empresas fornecedoras de dados. A marcação de um penalti confere um xG de 0,86 em alguns modelos, mas apenas 0,75 noutros, uma vez que, nas repetições analisadas pelo segundo fornecedor, 3 em 4 penaltis resultam em golo, enquanto que no primeiro fornecedor a taxa de conversão é superior.

Com todo este novo super poder nas nossas mãos, decidimos que está na hora do nosso treinador Echo Boomer ir dar uma ajuda e salvar o Barcelona. Pela primeira vez em muitos anos, treinar este clube constitui um desafio interessante. Um clube de enormíssima história, com aqueles que são, talvez, os adeptos mais exigentes do mundo do futebol, especialmente com os jogadores que são contratados e ocupam as vagas que seriam para os adorados pupilos da cantera. Após vários anos daquilo que se pode considerar má gestão, com muitas contratações falhadas e alguns processos polémicos em tribunal e eleitorais, toda a situação culminou num clube que não conseguiu segurar a sua maior lenda e, para muitos, o melhor jogador de sempre, Lionel Messi, num plantel velho e a precisar de renovação/vender jogadores valiosos. Problema? Não tem qualquer orçamento para transferências nesta época.

Como dose extra de realismo temos outra novidade, as reuniões semanais com o staff. Servem para preparar o próximo jogo, definir e rever objetivos de desenvolvimento dos jogadores a longo prazo e a estrutura da equipa. Gostei da ideia, especialmente pelos conselhos de desenvolvimento da equipa, mas não são mais do que a centralização de opções que já existem no jogo e que os jogadores mais experientes podem ignorar. Torna-se extremamente entediante receber uma proposta de 11 inicial dois dias antes do jogo com base na condição física dos jogadores para, depois, ser quase 100% alterada no matchday.

O último dia de cada mercado de transferências também foi alterado. Mais drama, notícias e rumores sobre negócios de última hora é o que a Sports Interactive propõe. Eu respondo da mesma forma que todos os outros treinadores de futebol: Quanto mais cedo tiver terminado o meu plantel e me puder focar nos treinos, melhor.

Muito bem, contrato assinado, análise do plantel efetuada e elevadas expectativas para a época. Está na hora de definir a nossa estratégia, apesar do contexto atual. A utilização de dados analíticos já decidimos que vai ser crucial, reequilibrar as contas do clube também. Vamos tentar fazê-lo de forma a respeitar a história do clube, vendendo uns jogadores excedentários para financiar uns jovens com potencial para o futuro, staff indicado para realizar o potencial das jovens promessas e praticar um futebol ofensivo baseado em posse de bola, o tradicional tiki-taka.

Esta era pelo menos a nossa ideia. Estatisticamente dominávamos a posse de bola. Era o que dizia o nosso fabuloso data hub que mete inveja a muitas empresas multinacionais. Em campo isso não se refletia em golos. Pior era ver, no novo e melhorado motor de jogo, que sofríamos golos quase exclusivamente de cruzamentos e outros lances aéreos. Fiquei extremamente intrigado, afinal de contas os meus defesas centrais são bastante altos. Mudei o esquema táctico, sem sequer atrever-me a comprometer um milímetro que fosse da nossa filosofia. Os resultados não melhoravam. Curioso, decidi investigar uns fóruns de FM onde outros jogadores partilham as suas gloriosas campanhas. Ironicamente apercebi-me de uma estatística no mínimo intrigante: os defesas centrais marcam quase tantos golos como os avançados. Isto só podem ser golos vindos de cruzamentos em cantos e livres indiretos!

Voltei ao quadro branco e, sem ter vergonha de fazer uma referência ao livro de Jonathan Wilson sobre a história e evolução das tácticas no futebol, “inverti a pirâmide”. Cruzamentos são a palavra do dia agora e, para meu espanto (ou não), a performance da equipa deu uma volta 180 graus. As vitórias apareceram, as goleadas tornaram-se uma constante e o meu melhor marcador tem apenas 1,78m, mas isso não impede de concretizar grande parte dos cruzamentos. Não fui a tempo de salvar o apuramento na Liga dos Campeões, perdi o campeonato por três pontos para o Valencia e ganhei a Liga Europa numa final renhida contra o Olympique Lyonnais. Os golos dos meus centrais rivalizaram com os dos avançados. O resto é história.

O novo motor de jogo foi, de facto, melhorado. Os movimentos dos jogadores estão mais fluídos e reais, já não exercem uma pressão interminável como se o conceito de cansaço não se lhes fosse aplicado e o novo papel de Defesa Central Descaído (Wide Centre-Back na versão original) dá toda uma nova credibilidade ao motor de jogos e aos esquemas com três defesas. Credibilidade essa que fica lascada pelo facto de os defesas centrais marcarem quase tantos golos como os avançados, algo que espero ver corrigido em futuros updates ao jogo que está agora a ser lançado (esta análise é baseada na versão beta do jogo e sob aviso de que o motor de jogo ainda não está completamente finalizado).

Football Manager é, sem sombra de dúvida, o melhor simulador de futebol do género. Talvez o melhor simulador desportivo, sendo que a quantidade de melhorias ano após ano é impressionante. A Sports Interactive recusa-se a “polir a pirâmide dos anos anteriores” pelo preço de um jogo completamente novo. O pacote deste ano impressiona um pouco menos que o dos últimos dois anos, não deixando no entanto de ser brilhantemente implementado. Sabe a jogo novo e, caso se corrija o problema dos cruzamentos, será a versão mais irrepreensível do jogo. Fico desde já ansioso pelas surpresas que a Sports Interactive tirará da cartola no próximo ano.

Recomendado

Cópia para análise (PC Steam) cedida pela Ecoplay.

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