Análise – Final Fantasy VII Remake

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Mais do que uma re-imaginação de um clássico, Final Fantasy VII Remake é um jogo completo e extremamente satisfatório para fãs e novos jogadores.

Foram muitos os que esperaram anos e anos por uma re-imaginação de Final Fantasy VII, e foram muitos os que nunca tiveram oportunidade ou motivações para o fazer. Para uns, essa espera terminou; e para outros, a oportunidade de conhecer o mundo e as personagens daquele que foi um dos RPGs mais influentes da história dos videojogos está aqui.

Eu pertenço ao grupo de pessoas que nunca jogou Final Fantasy VII. Os videojogos sempre fizeram parte da minha vida, mas nunca foram uma constante. Na altura do seu lançamento, e nos anos que se seguiram, a oportunidade de poder viver as aventuras em Midgar e mais além foram inexistentes e, quanto mais tempo passou, menos vontade tive de jogar um RPG por turnos, com visuais que não estão à altura dos padrões contemporâneos.

Contudo, admito que sempre invejei a tolerância de amigos e colegas que gostam do género, mas ainda mais por aqueles que cresceram com a série e guardam aquelas memórias preciosas da sua infância ao apaixonarem-se por mundos virtuais, pois eu também tenho os meus jogos favoritos e percebo bem que sentimento é esse.

À medida que os videojogos se tornaram a tal constante na minha vida, essa pequena inveja tornou-se em desejo de um dia poder jogar uma versão moderna do clássico, mas mais do que isso, jogar um Final Fantasy que não fosse, finalmente, um turn-based puro. E por estas razões, fiz questão de não jogar o original desde que o seu remake foi anunciado.

A minha entrada na série foi, no entanto, em Final Fantasy XV, outro projeto com um desenvolvimento eterno, mas que deu largos passos ao tentar abrir as portas a novos públicos, com a aposta no mundo aberto, uma fantasia baseada em elementos do mundo real e uma jogabilidade mais ativa. Não adorei a experiência, mas fiquei muito satisfeito com o que tinha para oferecer. Final Fantasy XV serviu também de aquecimento e preparação para o que poderia vir a ser este remake, um sentimento que trouxe coisas boas e coisas más.

Por um lado, alimentou a minha curiosidade em conhecer a mitologia desta série antológica, e por outro, ajudou a alimentar estigmas e preconceitos face ao género e à série.

Final Fantasy VII Remake

Ainda assim, a minha antecipação pelo remake era enorme. Conhecendo por alto alguns dos seus momentos chave, impossíveis de ignorar pela cultura popular, e tendo em conta o seu novo formato e toda a sua mitologia – que se expande entre dezenas de histórias diferentes –, senti que este era o momento de me juntar à família de jogadores e fãs do clássico. Mas nada me preparou para o quão apaixonado iria ficar pelo seu mundo e as personagens.

Final Fantasy VII Remake é um evento como há poucos, dentro e fora do jogo. Desde os primeiros momentos, como o simples ecrã inicial com a música de fundo, passando pela icónica introdução, ao tema de combate na primeira batalha, mesmo para quem nunca jogou o original, o conhecimento tangencial e inconsciente pelo jogo é capaz de puxar facilmente pelas emoções. Tudo parece familiar e novo ao mesmo tempo, sendo essa a razão pela qual este remake é tão especial.

A re-imaginação de Final Fantasy VII pega na narrativa e na conceptualização visual do original e torna-o num jogo completamente novo, cobrindo, para já, apenas uma porção da sua épica história, com uma nova forma de jogar, uma apresentação que tira partido das capacidades técnicas da Playstation 4 – capaz de eliminar a barreira entre o jogo e as cinemáticas –, uma jogabilidade ativa e interativa viciante, mas, mais importante ainda, transforma as personagens mudas e geométricas em pessoas quase reais.

FF VII Remake é, agora, um RPG de ação na terceira pessoa, muito semelhante a tantos jogos atuais que, ironicamente, ao contrário do original, não se destaca por mecânicas diferenciadoras, narrativas complicadas e cheias de reviravoltas ou visuais de um novo patamar. FF VII Remake brilha um pouco em todos estes departamentos, mas a minha primeira aventura por Midgar diz-me que o grande destaque vai para o elenco de personagens, as suas interações, aventuras e um mistério que assombra e que serve de fio condutor para os seus destinos.

Apesar desta re-imaginação de Final Fantasy VII ostentar orgulhosamente o subtítulo de Remake, a Square-Enix não conta toda a história do jogo original, concentrando-se apenas numa parte inicial das aventuras de Cloud e companhia. Mas Final Fantasy VII Remake não é, de todo, um jogo pequeno ou incompleto. Se não fosse atento ao desenvolvimento do jogo ou não estivesse informado do que é efetivamente, apesar de muito do que acontece em FF VII Remake, a sensação com que ficaria é que este seria um remake completo.

Nas mais de 30 horas (no mínimo) que esta aventura demora a ser concluída, todo o seu conteúdo é excecionalmente bem trabalhado, com missões longas, cheias de reviravoltas, cinemáticas, momentos explosivos e outros tantos íntimos e cativantes.

Final Fantasy VII Remake

O que alguns puristas categorizam como filler são missões que, no original, podiam ser mais pequenas e rápidas e que, aqui, são estendidas, mas nunca com a intenção de aumentar o tempo de jogo de forma artificial. Algumas dessas missões, que eu próprio consigo identificar quais são, estão desenhadas de forma orgânica e cativante, com alguns dos meus momentos favoritos do jogo. Cada uma delas, que nem sempre ocupam a totalidade de um capitulo completo, funciona como um episódio, onde há um problema, uma aventura e muita interação entre personagens onde ficamos a conhecer o passado do elenco principal e não só.

Todos os estigmas e preconceitos que adquiri na minha experiência em FF XV são quase inexistentes em Final Fantasy VII Remake. Continuamos a ter imensos clichés à japonesa, mas esta re-imaginação é extremamente ocidental e vai mais além, ao contrariar tendências comuns em jogos atuais, como o excesso de logs, side quests, colecionáveis e afins e ao manter a história direta ao assunto, transparente, clara e, ao mesmo tempo, com uma quantidade de exposição ponderada e apresentada quando faz sentido, mantendo o jogador sempre investido nos eventos do jogo, de capítulo para capítulo.

Contudo, e como é óbvio, continuam a existir side quests e colecionáveis, mas sem grandes excessos. As side quests são pequenas e contam com algumas micro-histórias interessantes que dão acesso a itens, atividades extra e aos colecionáveis (maioritariamente músicas do jogo), funcionando como pretexto para explorar as várias áreas e os seus segredos. Estas atividades secundárias podem, por vezes, quebrar o ritmo, especialmente quando estamos tentados em avançar a história, mas acabam por ser tão poucas que é difícil ignorá-las.

O combate de FF VII Remake pode não revolucionar o género, mas é certamente uma inovação para a série. Mais descomplicada do que FF XV e tirando algumas notas a Kingdom Hearts 3, Final Fantasy VII Remake tenta encontrar o equilíbrio perfeito entre ação em tempo real e estratégia durante o combate.

Nas batalhas podemos controlar Cloud e também Tifa, Aerith e Berret, quando estão disponíveis. A troca é feita à distância de um botão e temos controlo total dos seus ataques e habilidades, enquanto as restantes personagens atuam autonomamente. A parte estratégica entra através de inputs secundários que colocam o jogo até um super-slowmotion, dando noção de ação contínua, onde podemos dar ordem e ativar itens ou fazer summons com a restante equipa.

Para apimentar as lutas, há ainda combinações rápidas que tornam o combate rápido e frenético, mas também extremamente satisfatório, graças às excelentes animações e aos efeitos coloridos que explodem no ecrã.

Ao longo da história, a progressão de personagem e das suas habilidades é um aspeto a ter em atenção, com a gestão de Materia, que permite desbloquear habilidades ativas e passivas das nossas personagens, e com a atualização das várias armas desbloqueadas. Bem geridas, todas as personagens podem ter setups diferentes e variados, tornando a própria progressão e exploração de habilidades num jogo por si só, com base na experiência e ajuste das mesmas, entre combates.

Final Fantasy VII Remake

Final Fantasy VII foi, na PlayStation 1 e em 1997, um jogo marcante. Entre as várias razões, destacam-se os seus visuais em jogo e nas cinemáticas. Hoje, se calhar, aos olhos de muitos (os meus inclusive), não sobreviveram ao teste do tempo, por isso, a curiosidade em ver aquele jogo com um tratamento moderno era algo que estava há muito guardado na imaginação de todos os jogadores da época.

Este remake faz um excelente trabalho de apresentação, tirando partido do Unreal Engine, que serve de estrutura de jogos como Gears 5 ou Fortnite. Com esse motor de jogo, FF VII Remake consegue misturar visuais fotorealistas com elementos fantásticos que seriam impossíveis até na geração passada.

As personagens contam com modelos altamente detalhados e alguns ambientes muito ricos em detalhe. Juntamente com uma excelente direção de cinemáticas e animações, acompanhadas por músicas épicas e um desempenho fantástico dos atores que dão vozes às personagens, estas tornam Final Fantasy VII Remake num longo filme de animação CGI com alguma interatividade pelo meio.

Infelizmente, apesar dos excelentes momentos que oferece, FF VII Remake não é o novo marco tecnológico no departamento visual e, em grande parte do jogo, este revela-se um pouco menos cuidado do que seria de esperar nesta geração, especialmente tão perto do fim. Há texturas com dificuldades a carregar e modelos geométricos que parecem de muito baixa qualidade, problemas que podem ser melhorados com um patch. Há também defeitos que, provavelmente, não serão arranjados, como é o caso de algumas interações e animações com personagens secundárias e terciárias que parecem saídas de um jogo da PS2.

Mas apesar deste apontamento, tudo o que Final Fantasy VII Remake faz impressiona e vai mais além, muito porque é possível sentir o empenho da produção na criação de todos os momentos chave desta primeira parte da nova versão do clássico.

Provavelmente serão muitos os fãs mais acérrimos que vão apontar que certas cenas não fazem sentido, estragando o que o original ofereceu ou porque foram contra as suas expetativas pessoais, mas além de Final Fantasy VII Remake ser um título completamente novo, inspirado num jogo antigo, como se de uma adaptação cinematográfica de um livro se tratasse, é um projeto a pensar não só nos antigos fãs, como também nos novos jogadores.

Enquanto novo jogador, posso dizer que estou impressionado e rendido a este mundo e a estas personagens. Final Fantasy VII Remake não é perfeito, mas é, ao mesmo tempo, excelente naquilo que pretende ser: um pacote completo, longo e extremamente satisfatório em tantos níveis que mal posso esperar não só pela próxima parte, mas até por futuros Final Fantasy. Se há razões para existirem remakes, FF VII Remake é a razão.

Nota: Excelente - Recomendado

Plataformas: PlayStation 4
Este jogo foi cedido para análise pela EcoPlay.

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