Análise – FIFA 21

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FIFA 21 vem com muitas novidades e algumas melhorias face ao capítulo anterior, mas falha onde não pode: dificuldade da AI da consola em jogo offline.

Ao contrário da Konami, que se encontra em sabática durante esta fase de transição de motor de jogo (tendo apenas lançado um Season Update), a Electronic Arts quis certificar-se que aproveitava essa margem que o rival deu, mas não sem antes deixar uma “prenda” aos jogadores que se vão manter fiéis à PS4.

As novidades ainda são algumas, principalmente no modo de jogo VOLTA, no modo de carreira como treinador, na mecânica de jogo e ajudas textuais em quase tudo o que faz parte do jogo. Já o Ultimate Team continua praticamente igual, o que, para mim, significa que continua desinteressante. Não sou fã do modelo de jogo pay-to-win, mas se houvesse alguma possibilidade de segregação entre jogador free-to-play e os restantes, o UT teria mais interesse.

Começo por pegar no que mudou mais abruptamente, que é a alteração extrema na mecânica de jogo. Desde o FIFA 16 que essa mecânica tem vindo a mudar progressivamente, criando uma dinâmica de futebol cada vez menos prazerosa de experienciar. O foco passou a ser jogar em posse de bola, fazendo-a circular à procura do erro do adversário, entrar pela zona central da área e rematar em força para golo ou, então, entrar pelas laterais, passar rasteiro para o meio e encostar. FIFA 20 levou essa dinâmica ao expoente máximo, tornando a jogabilidade monótona e, por sua vez, aborrecida. Chegou a um ponto em que essa dinâmica acabou por roubar magia ao futebol, pelo que PES 2020 foi, naturalmente, considerado o melhor jogo desportivo do ano.

Mecânicas de jogo

Com a próxima geração de consolas a chegar e a Konami a abdicar de grandes novidades este ano (para dar mais atenção ao desenvolvimento do próximo capítulo), foi a hipótese da Electronic Arts ser ousada e arriscar. O que é certo é que o fez e mudou radicalmente a forma como o futebol é jogado em FIFA 21.

De facto, está mais divertido. Há mais liberdade de jogo, é possível marcar golos de canto (e de cruzamento no geral) e de muitas outras formas. O problema? Esta mudança da forma como o futebol é jogado passou mais por debilitar a defesa (e a forma como se defende) do que propriamente alterar a mecânica ofensiva. Esmiuçando o jogo, percebe-se rapidamente que o que FIFA 21 oferece não é, de todo, um jogo revigorado, mas sim uma versão antiga disfarçada de nova.

FIFA 21 análise

O ataque funciona melhor porque os defesas têm pior sentido de posicionamento, piores reflexos, pior capacidade de decisão e pior capacidade de cortar as bolas no timing certo. A prova disto é o facto de todos os níveis de dificuldade estarem mais fáceis. Por norma, começo todos os FIFA em Profissional para perceber a jogabilidade e, uns dias depois, passo para Classe Mundial. Finalmente, lá acabo por começar a jogar em lendário. Em FIFA 21 fiz um jogo em profissional, ganhei 6-1, mudei para Classe Mundial e, ao fim de pouco jogos, já estava a golear de forma recorrente. Comecei a jogar em Lendário nem uma semana tinha passado desde o lançamento do jogo, o que é francamente ridículo.

Este facilitismo permite-nos ser mais desleixados nas transições ofensivas, desperdiçar mais oportunidades de golo e, ainda assim, golear. Do lado da equipa controlada pela consola, para além da defesa ser desastrosa, até a nível ofensivo há menos rigor e eficácia. É certo que não sou eu quem está muito melhor a jogar FIFA, é mesmo o AI do jogo que desaprendeu.

Convém salientar que a defesa funciona mal no geral, pois está mais difícil controlar os defesas e a obter a resposta que queremos da parte deles. Isto por vários factores que levam a concluir que a objetivo passa por ter jogos com mais golos, independentemente do quão bem se sabe defender.
O primeiro factor é que os comandos não são tão responsivos e a direção e profundidade com que o corte é feito raramente corresponde ao que realmente queremos. O segundo factor é que, enquanto defesa, tornou-se mais difícil usar o corpo para ganhar posicionamento no duelo pela bola (beneficiando os brinca na areia). O terceiro é que, quando pegamos num defesa, a resposta ao que queremos fazer é demorada, deixando-nos sempre em desvantagem face ao atacante que transporta a bola/a acabou de receber.

Este défice de balanceamento entre o ataque e a defesa é grave, tornando FIFA num autêntico jogo arcade. À primeira vista até é divertido e emocionante, mas rapidamente cansa porque pouco se assemelha com o futebol real. Para justificar esta falta de equilíbrio, das duas uma: ou facilitar a introdução das Creative Runs (que falarei de seguida); ou, e esta hipótese é mais rebuscada, mas é viável na mesma, que passa por cansar o jogadores que gostam de jogar offline de aborrecimento nos jogos contra o AI da consola, ao ponto de os fazer migrar para o Ultimate Team. Se for o caso, isto é dececionante para um fã que joga o Modo Carreira desde 2003. Adiante…

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As Creative Runs não são propriamente uma novidade neste FIFA, mas sendo que já passaram alguns anos desde a última vez que existiram, passaram a sê-lo novamente. Basicamente, trata-se da possibilidade de controlar dois jogadores em simultâneo em situação ofensiva para criar espaços, encontrar a demarcação perfeita ou construir jogadas mais personalizadas e imprevisíveis. São portanto, três variações. Só têm uma falha: a sobreposição de controlos. Veio fazer com que seja desaconselhado fazer fintas durante uma creative run, caso contrário não só não vamos fazer finta nenhuma, como vamos descontrolar a trajetória que queremos que o jogador sem bola faça.

Para concluir este ponto, os jogadores novos ou mais inexperientes vão adorar esta nova dinâmica, principalmente por ser mais fácil marcar golos e conseguir bons resultados (o meu irmão que é casual e costumava encontrar dificuldades em profissional agora goleia em classe mundial). Para os jogadores já com alguma experiência vai ser agridoce, pois se, por um lado, é mais diverso no ataque, é muito mais limitador e frustrante na defesa.

Modos de jogo

O grande vencedor de reformulação da mecânica de jogo foi, sem dúvida, o VOLTA, que ficou muito mais fluido, dando origem a grandes doses de diversão e futebol bonito. É, também, um ótimo recurso para começar a conhecer mais movimentos técnicos.

A história cinemática está bem construída, mas peca por ser muito curta (passa-se em duas ou três horas). Após terminar a história, é possível continuar a tirar proveito deste modo graças aos desafios (diários e semanais), ganhar novos recrutas para a equipa, desbloquear mais roupa e equipamento e, claro, melhorar os stats do vosso jogador.

O VOLTA tem também competição online, mas de todas as vezes que tentei encontrar adversários, a consola nunca conseguiu um match-up, por isso não consigo dizer honestamente como é jogar este modo online. As maiores lacunas passam mesmo pela história ser demasiado curta e pouco abrangente, por não haver mais modelos de jogo offline (como torneios) e pelo facto de o layout dos menus não ser intuitivo nem bem organizado. Também era de valor se houvesse um tutorial prático de movimentos técnicos, para além da listagem.

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Chega a hora de falar da cereja no topo do bolo: O Modo de Carreira como treinador. Em tempos o melhor modo do jogo, caído no esquecimento com a introdução do Ultimate Team, regressa com novidades promissoras e mecânicas antigas reabilitadas.

No que toca a novidades, o Player Development foi uma das melhores, uma vez que vem permitir um maior controlo no crescimento e desenvolvimento de cada jogador na equipa. Esta nova funcionalidade permite adaptar jogadores, mudando a sua posição em campo, bem como o seu papel, e, por sua vez, tirar mais partido e aproveitamento do plantel com base nas necessidades da equipa.

Associado a isto surge uma nova característica (que funciona em simbiose com a energia) que é o “Match Sharpeness”. A sua utilidade é aumentar o foco dos jogadores de forma a garantir que, durante o jogo, vão conseguir uma performance superior nos momentos chave em que é exigido mais deles. Esta característica aumenta em função dos treinos semanais feitos.

Os treinos também mudaram radicalmente (para melhor). Agora, ao invés de estarmos limitados a treinar cinco jogadores a cada sete dias, é possível treinar até 15 jogadores, várias vezes por semana, nos dias definidos, através do “Schedule Planning” do novo sistema de gestão de atividade. Por defeito, este plano já se encontra pré-feito quando iniciamos a nossa carreira, o que ajuda a perceber as periodicidades, ganhar calo e, depois, manipulá-lo à nossa maneira. Um grande ponto positivo deste modo é que a nota de treino é automaticamente definida pelo último treino em que o utilizador tenha feito os desafios (caso contrário é um “D” automático).

Uma nova funcionalidade que já se exigia há muito, os empréstimos com opção de compra, são finalmente uma realidade em FIFA 21. Outra novidade entusiasmante é que, agora, ao começarem a carreira, podem ativar uma opção que funciona como injeção de dinheiro inicial, podendo ir até aos 500 milhões de euros. Isto vem dar vida até ao clube mais fraco do jogo.

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No que toca a reintroduções, temos de volta a “Interactive Match SIM”. Com esta funcionalidade, é possível ver o desenvolvimento do jogo mapeado com bolas a servir de jogadores, enquanto se ouve o ambiente do estádio e o relato dos comentadores, sendo fácil perceber como o jogo está a correr. A partir do menu desta funcionalidade, é possível ter acesso a todas as informações fundamentais da equipa, como a energia dos jogadores ou a respetiva nota de desempenho. Caso hajam jogadores que não estejam nos seus dias, é possível fazer substituições ou alterações tácticas. Pode-se dizer que esta nova funcionalidade é objetiva e a forma mais rápida de passar cada jogo com controlo do desenvolvimento do jogo, pois corre ao dobro da velocidade normal.

Antigamente, se decidíssemos intervir no jogo, tínhamos de joga-lo até ao fim, pois não era possível voltar a sair. Isso mudou. É agora possível entrar e sair as vezes que quisermos e quando quisermos. Podemos simplesmente decidir entrar só para bater um livre, defender um pénalti ou finalizar uma jogada de contra-ataque e voltar a sair.

Outras novidades que FIFA 21 traz é o regresso da equipa de lendas em jogo rápido, mas finalmente com novos jogadores na equipa, como Ronaldinho, Figo, Zidane, Cannavaro ou Del Pierro (entre muitos outros). Ainda assim, o leque continua a ser limitado, na medida em que não dá para fazer duas equipas e jogar contra amigos usando ambos a equipa de lendas.

Já no modo de criação de torneios personalizados, agora já é possível definir preenchimento automático de equipas por intervalo de classificação de equipas, poupando tempo precioso. Em jogo rápido, há também uma novidade algo polémica, que é a possibilidade de fazer rewind a lances e tentar dar-lhes outro fim. Na minha cabeça isto não faz sentido nenhum, pois rouba a intensidade de jogo e a capacidade de aprender com os erros por via de resultados indesejados.

Posto isto tudo, pode-se dizer que FIFA 21 vem com muitas novidades e algumas melhorias face ao capítulo anterior, no entanto, falha onde não pode em circunstância alguma: dificuldade da AI da consola em jogo offline.

Se não gostarem de Ultimate Team e não tiverem amigos contra quem jogar, este jogo torna-se aborrecido e pouco desafiante muito rapidamente. Fica o desejo que estas alterações tenham sido feitas a pensar nas consolas da próxima geração e que, nas novas máquinas, o jogo seja realmente bom. Nesta geração de consola, a nível de mecânica de jogo, o Season Update de PES 21 é quase melhor que este FIFA.

Nota: Bom

Plataformas: PC, PlayStation 4 e Xbox One
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela Electronic Arts.

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