A PlayStation 4 acaba de receber um novo RPG desenvolvido pela Compile Heart e Idea Factory. Intitulado Dragon Star Varnir, o fruto desta colaboração, que já nos trouxe a série Hyperdimension Neptunia, contorna alguns dos problemas recentes do género, ainda que sofra de uma pobre apresentação visual, e dá-nos um RPG cheio de mecânicas sólidas e uma história interessante que nos leva numa viagem por um mundo estranho e cruel.
Ao contrário de The Princess Guide e The Caligula Effect Overdose, que também analisámos, Dragon Star Varnir consegue superar os seus problemas visuais, nomeadamente no desenho exagerado e sexualizado das suas personagens, e construir uma história interessante e repleta de mistério que nos leva a conhecer um mundo onde bruxas, dragões e cavaleiros lutam diariamente pela sobrevivência. Como Zephy, o nosso protagonista, seguimos um grupo de bruxas, caçadas por uma ordem especial de cavaleiros, após descobrir que também temos poderes mágicos e a habilidade de devorar dragões. A história nunca é surpreendente ou demasiado arriscada, mas é sólida e bem construída, com diálogos naturais, onde as personagens flutuam entre falas mais cómicas ou sérias.
Dragon Star Varnir surpreende, no entanto, na sua jogabilidade e nas mecânicas que apresenta. Existe aqui uma enorme profundida e variedade de mecânicas que, à primeira vista, podem ser intimidantes, mas a Compile Heart consegui criar um RPG capaz de equilibrar exploração com um sistema de combate bastante complexo e recompensador, sem perder igualmente o seu foco na narrativa.
Em Dragon Star Varnir, controlamos uma equipa de bruxas, juntamente com Zephy, e temos acesso a vários ataques mágicos e habilidades especiais. Para desbloquearmos estes poderes, no entanto, não nos podemos restringir à evolução por níveis, que influencia os parâmetros básicos da personagem.
Neste jogo, temos de devorar inimigos, como dragões, para absorvermos as suas habilidades. Ao devorarmos os inimigos, temos acesso a uma lista de habilidades que podemos desbloquear através de pontos de experiência, semelhante ao Sphere Grid de Final Fantasy X e ao sistema de fatos de Final Fantasy X-2, ainda que mais simplificado. Isto significa que cada personagem tem acesso a todas as habilidades, apesar das suas fraquezas, com o jogo a deixar-nos criar livremente o tipo de lutador que queremos para cada batalha.
A possibilidade de devorarmos os inimigos é um dos grandes destaques de Dragon Star Varnir e uma mecânicas que acaba por influenciar não só a evolução, mas também os próprios combates. Para devorar um inimigo, é preciso enfraquecê-lo primeiro ao atacar os seus pontos fracos. Cada inimigo tem uma fraqueza, como magias ou ataques físicos, e, à medida que atacamos estes pontos fracos, aumentamos a probabilidade de o conseguirmos absorver. Existe ainda o ataque direto ao ponto fraco, ou cores, que nos dá a hipótese de realizar um ataque em equipa que acaba com a devoração dos inimigos – e consequente absorção por todos os membros da equipa.
Como seria de esperar, podemos ainda equipar novas armas e armaduras que compramos ou encontramos espalhadas pelos cenários. Há também a possibilidade de construir novos itens através da utilização de recursos, juntamente com as suas melhorias. A elaboração de poções é também um foco do jogo e é preciso combinar e melhorar receitas para construir os melhores elixires.
O sistema de combate mantém esta aposta na profundidade das suas mecânicas ao dar-nos combates divididos por três camadas (ou níveis). Como controlamos bruxas, Dragon Star Varnir expandiu os seus combates e criou batalhas onde podemos encontrar monstros no chão, mas também no ar, sendo necessário escolher bem o tipo de ataque para cada situação. Alguns dos dragões, e a maioria dos bosses, ocupam vários níveis, o que significa que é possível combinar ataques e atacar várias partes do seu corpo em simultâneo. A posição das personagens é igualmente importante e pode determinar se somos ou não atacados e se sofremos mais dano.
Quando começamos, Dragon Star Varnir pode parecer ser demasiado complexo, mas com o tempo, esta aposta em combates dinâmicos acabou por ser muito intuitiva, auxiliada por menus simplificados e fáceis de utilizar. Aqui, todas as ações em combate estão mapeadas para cada botão do comando, com o triângulo a ser designado para as magias e o X a funcionar como o botão de ataque. Desta forma, sentimos que os combates são mais rápidos e com um ritmo capaz de contornar o cansaço habitual dos RPG por turnos. As batalhas não são, no entanto, fáceis ou descartáveis, com o jogo a encontrar um equilíbrio entre a acessibilidade das suas mecânicas e o desafio dos combates.
Existe ainda a possibilidade de despertarmos habilidades especiais e o modo Dragon Awakening. À medida que lutamos, vamos enchendo um medidor, intitulado Dragon Gauge, que, quando cheio, desperta uma nova versão das nossas personagens, agora transformadas e influenciadas pelo poder dos dragões. Com esta transformação, temos acesso a ataques mais poderosos e à possibilidade de devorarmos os inimigos com uma maior probabilidade de sucesso.
A nossa equipa tem um limite máximo de três personagens, algo que poderão achar ser um pouco limitado. No entanto, não só é possível alternar entre personagens, através do menu tanto dentro como fora dos combates, como podemos definir os heróis de reserva como auxiliares. Desta forma, as personagens que não estão em combate podem proteger, com defesa ou outras habilidades, as que estão. É uma mecânica um pouco aleatória, mas funciona e ajudou-nos durante alguns dos combates contra bosses. O posicionamento das personagens e a sua ordem são também importantes e devem ser alteradas de acordo com os inimigos que enfrentem.
Fora do combate, Dragon Star Varnir segue um modelo muito mais tradicional. A exploração é feita através de mapas e masmorras compostas por corredores e áreas mais extensas, mas igualmente limitadas. As masmorras não são curtas, mas sim repetitivas, oferecendo pouca variedade no que toca aos seus cenários. O jogo apresenta ainda áreas secretas e itens escondidos que só podem ser acedidos através das habilidades especiais de cada personagem, o que vos pode motivar a repetir algumas das suas zonas. As áreas contam com vários inimigos, que vemos nos cenários (não há batalhas aleatórias), tesouros e objetos destrutíveis, onde podemos encontrar recursos.
Infelizmente, o mundo de Dragon Star Varnir está dividido por zonas e é composto por menus desinteressantes onde podemos esconder que local queremos visitar. É um jogo limitado no que toca às suas animações e é uma pena não conseguirmos explorar as aldeias fora das masmorras, restringindo a ação a menus simples e pouco empolgantes. É um modelo funcional, sem dúvidas, mas cria uma certa dissonância entre a história, o combate e a exploração do mundo em si, deixando-nos um pouco distantes da base emocional do jogo.
No entanto, Dragon Star Varnir não se foca apenas na história e na sua campanha, e dá-nos objetivos secundários que podemos concluir para termos acesso a novos equipamentos e itens. Existe uma lista de recados que podemos concluir à medida que descobrimos novos recursos, algo que pode ser absolutamente viciante.
Dragon Star Varnir peca muito na sua apresentação e na insistência em relegar a maioria dos diálogos para ecrãs estáticos com modelos pouco interessantes, onde não há qualquer alma. O elenco faz o seu melhorar para dar vida aos diálogos do jogo, mas falta algo ao mundo e estética do jogo. Nunca consegui perceber, para além de problemas de orçamento, esta aposta em diálogos estáticos. E com um sistema de combate tão interessante e personagens bastante completas e até complexas, foi difícil contornar um problema cada vez mais presente nos RPGs.
A performance também não é a melhor, especialmente durante a exploração. Encontrámos várias quedas de framerate, influenciadas pelo número de inimigos em campo, e o jogo parece estar mal otimizado para a PS4, parecendo ser, nos seus piores momentos, um título da PS Vita. A falta de pontos de gravação mais regulares também nos enervou um pouco, com as masmorras a serem, por vezes, demasiado extensas e repletas de momentos de história sem nos dar a oportunidade de gravar.
Dragon Star Varnir é um RPG muito sólido com um sistema de combate profundo e um mundo interessante para descobrir. É quase uma lufada de ar fresco nestas produções AA, demonstrando uma compreensão clara da sua história e das suas personagens ao mesmo tempo que nos apresenta mecânicas complexas, mas igualmente entusiasmante que qualquer fã do género adorará experimentar. No entanto, sofre de certos clichés que o limitam e de uma performance pouco convincente. Mas se o estilo visual não vos afeta e se adoram esta estética anime, experimentem Dragon Star Varnir.
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela NIS America.
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