Este ano tenho estado um pouco atrasado face aos lançamentos, mas não é por isso que eles têm sido menos importantes que em 2020.
Na verdade, estou mais satisfeito com o início de 2021 do que estava no ano passado, apesar de muito do que tem saído de qualidade é, na sua maioria, música num registo mais calmo e introspetivo.
Fevereiro foi pautado por uma grande desilusão. Falo, pois, dos Foo Fighters, cujo álbum nem merece as três estrelas e meia (que é o mínimo para ser elegível a entrar nas colectâneas de essenciais do mês). No entanto, houve surpresas agradáveis de artistas que já andam nisto há algum tempo, como foi o caso dos Mogwai, Nick Cave ou Maximo Park (aposto que a maioria já nem se lembrava deles).
Agora falando um pouco em termos estatísticos, para dar um contexto mais aproximado do que foi fevereiro, em 14 meses de álbuns essenciais, este foi o primeiro em que houve um género predominante: F de Fevereiro e F de Folk!
É verdade. Nada mais, nada menos, que 7 dos 12 álbuns escolhidos enquadram-se no género, sendo que cinco deles são muito bons! Essa é outra… Este foi o mês com o maior número de álbuns muito bons/excelentes e, também, o mês mais difícil de tomar decisões sobre que músicas enaltecer e que classificações dar aos álbuns.
[Artigo de álbuns essenciais de Janeiro]
Cassandra Jenkins – An Overview on Phenomenal Nature
Género: Indie Folk/Alternative Country
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No segundo lançamento a solo, Cassandra Jenkins continua a mostrar as seus dotes enquanto escritora. A nível de composição musical, podem esperar músicas sem filtros, mas algo cósmicas, com poder de revitalizar a alma de qualquer um.
“Hard Drive” é a estrela mais brilhante desta constelação, que é An Overview on Phenomenal Nature, cujo passo e plenitude no storytelling é a sua maior fonte de luz, acompanhada por um trabalho admirável de saxofone. Um álbum mais especial do que parece à primeira vista.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Michelangelo
> Hard Drive
> Crosshairs
> Ambiguous Norway
Claud – Super Monster
Género: Lo-fi/Bedroom Pop
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Claud insere-se numa categoria muito peculiar (onde Benee também deu cartas em 2020), cujo produto final é bastante refrescante.
Super Monster é composto por 13 faixas que se limitam a contar histórias de forma simples e objetiva, sem grandes pretensiosismos, e todas elas conseguem ser únicas à sua maneira.
Claud Mintz, após o lançamento do seu primeiro EP em 2018, decidiu desistir dos estudos universitários para perseguir o seu sonho musical. No ano passado, tornou-se na primeira artista a assinar contrato com a label de Phoebe Bridgers, com a qual desenvolveu este álbum entusiasmante que vem fazer dela a primeira jovem promessa de 2021.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Overnight
> Gold
> Soft Spot
> In Or In Between
> Cuff Your Jeans
> Guard Down
Django Django – Glowing In The Dark
Género: Art Rock/Indie Rock
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Longe do papel que lhe era atribuído, o de solidificar o nome da banda no meio da nova cantera do rock (onde os Tame Impala reinam), Glowing In The Dark continua a ser um bom álbum, apesar de perder força ao longo da setlist.
O nível de exigência mínimo é mantido, colocando este álbum a par do disco de estreia no que concerne ao nível de inventividade sonora. A música “Glowing In The Dark” é o grande trunfo da banda, prometendo meter toda a gente a dançar efusivamente neste 4º álbum em 10 anos.
Aos fãs banda, tenho a certeza que vai encher as medidas. Aos novos fãs, é um bom ponto de entrada.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Spirals
> Got Me Worried
> Waking Up
> Free From Gravity
> Glowing In The Dark
Ghetts – Conflict Of Interest
Género: Rap/Grime
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Tenho a certeza que Ghetts não teria conseguido este sucesso sem as colaborações escolhidas a dedo para este álbum. Contudo, é preciso dar-lhe mérito pela inteligência ao reunir este elenco. Outro facto é que o talento lírico está lá, bem como a cultura na qual estão envoltas essas mesmas letras.
Conflict of Interest surge com a capacidade de compilar a realidade dura e crua do que se vai passando nos subúrbios de Londres com o brilho da vida de excessos em primeiro plano. O brilho e a escuridão de uma vida retratada de forma pura.
O rapper viu uma oportunidade, aproveitou-a e, agora, é hora de colher os frutos da primeira obra de arte de rap britânico de 2021.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Mozambique (ft. Jaykae & Moonchild Sanelly)
> IC3 (ft. Skepta)
> Autobiography
> 10.000 Tears (ft. Ed Sheeran)
> Skengman (ft. Stormzy)
> Little Bo Peep (ft. Dave, Hamzaa & Wretch 32)
Hayley Williams – FLOWERS for VASES / descansos
Género: Folk/Indie Folk
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Depois de Petals For Armor em 2020, Hayley Williams está de volta com um novo álbum que segue a linha musical do anterior. Vem também reforçar o quão complexa e forte é, depois de ter passado mais de uma década etiquetada de vocalista emo de uma banda de punk-rock.
De todas as músicas que deambulam pelos pensamentos e passado de Hayley, é “Inordinary” que embate com mais força. Nesta faixa, é-nos dado um vislumbre do que foi a separação dos seus pais, algo que a obrigou a mudar de vida e a começar de novo aos 13 anos. Se, por um lado, a afetou, foi também um momento que veio dar origem, poucos anos depois, aos Paramore.
Numa altura que o regresso dos Paramore parece estar próximo, é impossível não admirar esta aposta a solo de Hayley Williams, que demonstra saber separar a água do vinho.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> First Thing To Go
> My Limb
> Over These Hills
> Inordinary
> Just A Lover
Julien Baker – Little Oblivions
Género: Indie Rock/Alternative Rock
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De Boygenius saíram três mulheres geniais: Lucy Dacus, que despontou ainda em 2018 com Historian; Phoebe Bridgers, que fez de 2020 o seu gato sapato quer nos melhores álbuns do ano, como nas melhores músicas (número 1 do ano); e Julien Baker que, apesar de já ter dois álbuns bem conseguidos, escolheu 2021 para brilhar mais intensamente que nunca com Little Obvious.
À terceira foi de vez e Baker sacou um coelho da cartola, num álbum com instrumentais mais pesados e compostos (elaborados inteiramente por ela), que ao mesmo tempo contrastam e funcionam em sintonia com a sua voz carregada de ternura.
É um álbum que dá e continua a dar, a cada reprodução, demonstrando o talento gigante da artista.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Hardline
> Faith Healer
> Relative Fiction
> Bloodshot
> Repeat
Katy Kirby – Cool Dry Place
Género: Songwriter/Alternative Folk
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Cool Dry Place pode ser resumido numa palavra: Simplicidade.
Katy Kirby joga simples, no entanto, tira proveito de um trunfo que vem acrescentar valor ao seu álbum: a criatividade. Em todas as músicas, há a sensação de qual é a orientação lógica da mesma, mas, quando menos esperamos, eis que surge algo que nos dá as voltas, sem deixar de fazer sentido. Melodicamente é um álbum bastante agradável, capaz de nos deixar a cantarolar.
Enquanto álbum de estreia, consegue cumprir com as expectativas.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Juniper
> Traffic!
> Cold Dry Place
Maximo Park – Nature Always Wins
Género: Post-Punk Revival/Alternative Rock
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Lembro-me como se fosse ontem, o exato momento em que descobri e conheci Maximo Park. Foi em 2007, quando estava à procura de músicas do Minutes to Midnight, dos Linkin Park, e, por algum motivo, apareceu um link para a “Our Velocity”, dos Maximo Park. Na altura achei brutal e fui acompanhando o trabalho da banda.
Chegamos a 2021 e de uma coisa estou certo: este é o meu trabalho preferido da banda enquanto álbum, apesar de fugir um pouco ao normal. Demorou, mas parece que a banda atingiu a maturidade há tanto desejada (para quarentões, já estava mais do que na altura).
Nature Always Wins é um álbum inteligente, com paixão, menos efusivo que trabalhos passados, mas segue com a mesma ou mais frescura.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Partly Of My Making
> Versions Of You
> Baby, Sleep
> Ardour
Mogwai – As The Love Continues
Género: Post-Rock/Instrumental Rock
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Quem não conhece Mogwai que os compre. Digo isto porque mergulhar em qualquer trabalho desta banda é sempre um investimento seguro.
A banda caminha para as três décadas de existência a passo seguro e com confiança plena nas suas capacidades. Isto faz com que continuem a ser lançados álbuns que valem a pena.
Ao contrário do que se verificou com o novo álbum dos Foo Fighters, Medicine At Midnight (também lançado em fevereiro), que é o clássico “fazer por fazer”, os Mogwai deixam claro que essa modalidade não lhes enche as medidas. As The Loves Continues chega com energia, servindo de murro na mesa cujo barulho é ensurdecedor. A mensagem é clara: lançar música só para manter a legião de fãs entretida não é um objetivo ambicioso. Com esta mentalidade, o futuro vai continuar a sorrir de volta para os escoceses.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Here We, Here We, Here We Go Forever
> Dry Fantasy
> Richie Sacramento
> Ceiling Granny
Nick Cave & Warren Ellis – Carnage
Género: Chamber Folk/Art Pop
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Nick Cave igual a ele próprio, com o protagonismo dividido com Warren Ellis (com quem já trabalhou muitas vezes antes), num álbum fantástico – outro. Este senhor não produz música ao acaso.
O formato do álbum, com oito faixas, faz dele curto, mas intenso, prometendo deixar um impacto imensurável em todos os fãs de Nick Cave.
A propósito, fãs ou não, vê-lo ao vivo é uma experiência de uma vida que aconselho.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Hand Of God
> Carnage
> White Elephant
> Shattered Ground
The Staves – Good Woman
Género: Folk Rock/Indie Folk
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Depois de algum tempo de ausência, Good Woman é um regresso deslumbrante. Recheado de composições belíssimas e letras diversas, mas fortes e recheadas de significado, é um registo que precisa de ser ouvido e preservado a todo o custo.
Ao longo destas 12 faixas, o trio consegue tirar um proveito impressionante do trabalho vocal sem grande esforço. A sensação que fica é que, em tudo o que tocam, tudo se transforma em ouro. É mágico!
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Good Woman
> Best Friend
> Nothing’s Gonna Happen
> Sparks
> Devotion
> Failures
The Weather Station – Ignorance
Género: Folk Pop/Experimental
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Nem Ignorance é um álbum comum, nem os The Weather Station são uma banda ordinária. O que é conseguido com este álbum apanha facilmente qualquer um de surpresa num misto e exuberância e estranheza. O que é certo é que, apesar de não seguir uma fórmula habitual, a solução final é explosiva e considero que dificilmente desagrade a alguém que se entregue de mente aberta à arte dos The Weather Station.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Robber
> Atlantic
> Tried To Tell You
> Parking Lot
> Wear