Música – Álbuns essenciais (abril 2023)

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Em abril não foram álbuns mil, mas os que choveram foi com intensidade.

Uma ou outra estreia, uma série de revelações cativantes, algumas confirmações e um par de álbuns que reforçam legados. O 4º mês do ano não trouxe lançamentos populares, praticamente (talvez com a exceção de Jessie Ware ou The National), mas é o mês com “mais ideias” deste ano, proveniente de uma mão cheio de talentos naturais únicos – dois deles vão passar pelo Porto dia 9 de junho, mas com um “senão” – já vão perceber qual.

Avalon Emerson – & The Charm

Avalon Emerson The Charm

Género: Electronic

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Olhando ao passado e tendo em conta todo o background de Avalon Emerson, quer em produções próprias, quer em remisturas, pouco ou nada faria prever o conteúdo álbum.

São notórias as inúmeras influências de produções anteriores, principalmente no teor do som empregue. Mas todo ele levou uma remodelação que fez dele um produto mais elegante e premeditado. Esta súbita mudança posiciona bem este álbum para amealhar novos fãs com maior facilidade, sem nunca deixar os fiéis fugir.

& The Charm é um álbum de exploração com uma amplitude muito aprazível e deveras impressionante, todo ele cheio de uma atitude eletrizante que se não o deixa ir abaixo.
Avalon Emerson já tem muita experiência, mas & The Charm prova que há todo um mundo novo a explorar, onde a produtora se encaixa sem qualquer atrito.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Sandtrail Silhouette
> A Vision
> Astrology Poisoning
> Dreamliner

Blondshell – Blondshell

Blondshell Blondshell

Género: Alternative Rock/Grunge

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Para um álbum de estreia, aos 25 anos, há já muita caixa pode ser riscada da lista do que compõe um artista de excelência e com carácter.

Sabrina Teitelbaum não é só mais uma artista a seguir os passos listados no livrete como o caminho certo para o sucesso. Optou por escrever o seu próprio livro de bordo, usando um som muito próprio, que decerto a caracteriza bem, numa montanha russa entre os altos e baixos da sua vida. E, assim, sem filtro, canta com a emoção e segurança de quem está a dar-nos um pedaço de si. Às vezes entra de mansinho, outras rasga-nos ao comprido, mas é quando nos rasga que mostra a sua verdadeira essência. E por favor, que continue a encontrar esta raiva que a alimenta, porque é potente.

Dia 9 de junho tenho um grande dilema pela frente: Blondshell às 18h40 no palco Plenitude ou Wednesday (cujo novo álbum aparece mais abaixo, neste artigo) também às 18h40 no palco Vodafone, do Primavera Sound Porto?

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Veronica Mars
> Olympus
> Salad
> Joiner

Daughter – Stereo Mind Game

Daughter Stereo Mind Game

Género: Baroque Pop/Folk

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Corria o ano de 2011 quando a voz aconchegante de Elena Tonra entrou na vida de milhões de pessoas com um extended play de 4 músicas, chamado The Wild Youth, no qual todas as faixas foram uma vitória. “Medicine” e “Youth” foram sucessos instantâneos e a segunda transcendeu almas e corações.

Calminha, mas poderosa, “Youth” tinha tudo e tudo levou, com o seu instrumental dinâmico que se mistura muito naturalmente com voz de Tonra.

Com o primeiro álbum (If You Leave, 2013), os Daughter usaram “Youth” como muleta para o alavancar, mas este não estava à altura do single. Os anos seguiram-se e 2016 e 2017 trouxeram novos álbuns que exploraram outras sonoridades que, ainda que tenham tido o seu encanto, faltava um pouco de “Youth”.

Pessoalmente, não acho que Stereo Mind seja “O Álbum”, mas tenho a certeza que é o álbum mais próximo da promessa que nasceu em 2011, com “Be On Your Way” a fazer lembrar e esquecer “Youth” em simultâneo. Estive na dúvida se incluía este álbum nesta seleção de álbuns, mas já depois de começar a escrever sobre os outros 10, achei que era injusto não falar dele.

Não é um álbum que segue apenas o registo de “Be On Your Way”. Acho que até pega em mais influências dos dois anteriores do que do original, mas diria que a banda encontrou a plenitude entre as várias abordagens que empregam, tornando Stereo Mind num bom álbum, recheado de emoção e vida.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Be On Your Way
> Party
> Dandelion
> Swim Back

Feist – Multitudes

Feist Multitudes

Género: Baroque Pop/Folk

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Não sei explicar muito bem o porquê, mas sou fã de Feist desde o seu início de carreira (praticamente), altura em que me começava a aventurar musicalmente na minha adolescência. Nunca vou perceber bem essa minha fase em que ouvia Justin Timberlake, Linkin Park, Beyoncé ou Limp Bizkit, mas também Feist, Fiona Apple ou Regina Spektor – mas ainda bem que assim foi, porque para além de escutar música mais acessível, não fechava portas a sonoridades mais desafiadoras de assimilar e absorver, para a idade.

Curiosamente, a música de abertura deste álbum tem muito de Fiona Apple e, como ela (“I’m Lightning”), não há mais nada ao longo deste álbum. Mas não é para o pior, pois há muito para reter da abertura para a frente.

Multitudes é um autêntico recital de poesia, pela forma como flui, pela forma como é lido e pela forma como nos embala e nos faz sentir parte da história que Feist tem para nos contar.
Nada disto é novo vindo de quem vem e, por vezes, torna-a pouco apreciada, por exigir uma determinada predisposição para ser absorvida, mas se algum dia sentirem que a têm, deem uma oportunidade a esta senhora.

Perdi conta às vezes que ouvi este álbum – acho que até foi o álbum que mais ouvi, deste mês – e não faço conta às vezes que ainda o vou ouvir.

Há muitas utilidades para Multitudes, mas a melhor é a de escutar pensamentos, refletir sobre os mesmos, misturá-los com os nossos e entender onde estão os pontos de união que, por sua vez, nos vão presentear com lições a tirar.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> I’m Lightning
> Love Who We Are Meant To
> Hiding Out In The Open
> Borrow Trouble

HMLTD – The Worm

HMLTD The Worm

Género: Art Rock/Progressive Rock

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Que abertura intoxicante! “Wyrmlands” é doentia, pela letra sorumbática e melodia taciturna, mas muito do trabalho aqui foi feito pela faixa introdutória: “Worm’s Dream”.

“The End Is Now” é ainda mais arrebatadora e marca passo para o que The Worm tem para oferecer. Um álbum com um foco metafórico – que por esta altura já deve ter percebido qual é – mas que lhe dá uso para passar um estado de espirito. Estado de espírito esse que é uma constante e eleva este álbum ao longo de toda a sua duração, recheado de ideias, sonoridades e ritmos pouco usuais quando usados em simultâneo.

A maravilha de The Worm é que tudo funciona na perfeição, até mesmo as aberturas teatrais com narrativa, em várias faixas. “Liverpool Street” foi, sem dúvida, a que achei mais fantástica – tanta coisa a acontecer, tantas transições soberbas e complementações sonoras e vocais arrebatadoras.

Este álbum dos HMLTD é uma experiência única, como se de uma obra feita para um musical se tratasse. E meus amigos, a orquestra composta por 16 músicos de instrumentos sela a expansividade que este álbum atinge. BRAVO!

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> The End Is Now
> Saddest Worm Ever
> Liverpool Street
> The Worm
> Lay Me Down

Indigo De Souza – All of This Will End

Indigo De Souza All of This Will End

Género: Alternative Rock/Indie Rock

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A seguir a Multitudes, este foi o álbum de abril que mais vezes ouvi. A maior parte das vezes foi enquanto conduzia, sozinho – sim, é um daqueles álbuns.

O teor de All of This Will End é um rock jovial mais fácil de absorver e apreciar, sendo inerente o positivismo deveras agradável que transmite.

Falo em rock adolescente, mas devo deixar claro que este álbum não é simplório. Ao longo de todo ele, somos surpreendidos com truques que dão uma nova vida a um rock que já conhecemos bem, elevando-o ao nível seguinte.

Ainda que não tenha as mesmas camadas de Any Shape You Take (2021), nem seja tão refinado como I Love You Mom (2018), tem partes dos dois, fazendo dele o maior passo na direção certa de Indigo de Souza, até à data.

All of This Will End é um álbum versátil com músicas para todas as predisposições, mas sem nunca fugir ao que tenta (e consegue) ser com sucesso: uma lufada de ar fresco.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Time Back
> You Can Be Mean
> Smog
> The Water
> Always
> Younger & Dumber

Jessie Ware – That! Feels Good!

Jessie Ware That Feels Good

Género: Disco/Electronic

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Tanta coisa que mudou para Jessie Ware, desde Devotion – a melhor surpresa que tive em 2013 – e poucas me surpreenderam de tal forma, desde então. Em 2020 elogiava What’s Your Pleasure, categorizando-o com um dos melhores álbuns da artista desde a sua estreia, e, três anos depois, a orientação musical de Ware continua a ser a mesma.

Com That! Feels Good! é irrevogável que há uma simbiose natural estonteante entre a artista e música Disco. Este álbum deixa mais uma série de registos que afastam a artista ainda mais do rótulo “Soul” (e até R&B), que veio a definir até Glasshouse (2017).

Eu percebo o motivo da transição, respeito e aprecio esta nova vertente, mas enquanto dentro do Sophisti-Pop era a raínha da cena, nesta nova vertente precisa de um pouco mais de consistência para conseguir uma produção que ombreie com trabalhos como Róisín Machine, de Róisín Murphy ou Honey, de Robyn.

O título do álbum em tom de realização pessoal “That! Feel Good!” não foge da sensação que transmite, mas, ao mesmo tempo, parece que Ware foi produzindo e cantando com esse critério – o de “isso! sabe bem!”. No fim de contas, de tantos humores distintos, saiu um álbum multidirecional, mas bastante desfasado do que o tornaria “são” – não percebo qual foi a ideia de incluir “Hello Love” e Lightning”, apesar desta última ser uma das faixas a destacar.

Se olharmos para ele como uma colectânea, faz algum sentido, mas fora disso, nem por isso.
That! Feels Good! é um álbum satisfatório, elevado por singles excelentes, mas diluído pela falta de orientação.

Em todo o caso, é inegável que Jessie Ware é extremamente completa e versátil e é uma questão de tempo até me fazer esquecer de Devotion.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Free Yourself
> Pearls
> Freak Me Now
> Lightning

Lael Neale – Star Eaters Delight

Lael Neale Star Eaters Delight 1

Género: Indie Folk/Gospel

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Depois da extasiante “I Am The River” logo a abrir, seria impensável que o álbum fugisse muito daí, ainda que seja um facto adquirido que nem todas as músicas seriam à semelhança dessa. O ponto menos positivo é que só “Faster Than The Medicine” a replica. Na outra face da moeda, temos um ponto positivo intrigante: é que o que de diferente Lael Neale nos tem para oferecer continua a ser cativante.

A forma como a artista brinca com a sua voz e desenvolve ritmos tão expansivos e distintos cria uma expectativa boa e, apesar deste álbum ser mais curto que o anterior, há mais riscos a serem tomados. E a recompensa está à vista.

Este é um álbum que, de uma interseção, criou oito caminhos plausíveis a oito destinos tão únicos e a transbordar de imaginação, que não há por onde falhar, seja qual for o destino que escolhamos.

Star Eaters Delight é curto, não tem uma identidade definida, mas o que o torna inconsistente também faz dele um mistério bom: a voz mágica de Lael Neale.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> I Am The River
> Faster Than The Medicine
> Im Verona

The National – First Two Pages of Frankenstein

The National First Two Pages of Frankenstein

Género: Alternative Rock/Indie Rock

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Não há muito de novo sobre os The National para ouvir em First Two Pages of Frankenstein. Duas décadas brilhantes (muito bem resumidas na edição de 2022 do Rock In Rio, em Lisboa), onde de uma abordagem monótona e algo limitada, a banda foi sempre conseguindo – com álbuns atrás de álbuns (não foram só singles, foram mesmo álbuns) – provar que há uma infinidade de formas para fazer a mesma coisa. Eis que, finalmente, a fadiga se começa a notar.

Mais importante do que apontar dedos, é enaltecer este grande feito. Onde os Interpol se perderam, a banda de Matt Berninger e companhia conseguiu sempre dar a milha extra e reinventar-se (sem qualquer ajuda externa).

Finalmente, após uma tentativa a solo de Berninger e colaborações em nome individual (como com Julia Stone), eis que os The National procuram ajuda externa para continua a reinventar a roda.

Sufjan Stevens, Taylor Swift e até Phoebe Bridgers (por duas vezes) foram os artistas selecionados para fazer parte deste álbum. Não digo que não foi boa ideia, não digo que não resultou, mas a verdade é que as músicas provenientes dessas colaborações, por si só, não foram suficientes para colmatar a falta de fôlego da maioria de músicas a solo e fazer deste álbum mais um álbum acima de “bom”.

O lado mais brilhante disto é que os The National se mantiveram fiéis a eles próprios, sem precisarem de suar muito. Disfarçado por esse brilho fica a sensação de que isto foi apenas um jogada segura para esconder debilidade maiores – espero solenemente que este não seja o caso.

Se ainda não tiveram oportunidade de ver a banda ao vivo numa das 18 vezes que por cá já passou, a 5 de outubro terão nova chance, pois os The National vão atuar no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, e a 7 de outubro no Sagres Campo Pequeno, em Lisboa.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Eucalyptus
> This Isn’t Helping (ft. Phoebe Bridgers)
> The Alcott (ft. Taylor Swift)
> Your Mind Is Not Your Friend (ft. Phoebe Bridgers)

Wednesday – Rat Saw God

Wednesday Rat Saw God

Género: Grunge/Shoegaze

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Abro com a frase que usei para fechar a análise ao álbum de Blondshell, mais acima: “Dia 9 de junho tenho um grande dilema pela frente: Blondshell às 18h40 no palco Plenitude ou Wednesday (…) também às 18h40 no palco Vodafone, do Primavera Sound Porto 2023?”

Comecei a escrever este artigo há uma semana e, para ser sincero, ainda não tomei uma decisão, mas adiante…

Desde 2020 que os Wednesday têm lançado novo material a um ritmo anual, mas até então, tem sido mais esforço do que proveito. Este ano, com Rat Saw God, parece ter acontecido o oposto! Ora bem, das duas uma: ou a banda não quis saber e começou a improvisar, ou conseguiu um momento de genuinidade planeada, deveras natural. Bem no início do álbum, temos “Bull Beliver”, que deixa esse dilema bem patente, funcionando num aparente “modo CPR”. Num momento, a música transmite a ideia de que tudo está na iminência de terminar e, do nada, há uma resuscitação inesperada, mas eficaz – que se estende ao longo de quase 9 minutos.

Seguem-se duas faixas em tom lullaby e, com um riff de abertura meio Foo Fighters, mas com um background que se assemelha à faceta mais narrativa do country recheada de história, aparece “Chosen To Deserve”. Seja de quem for as histórias que são contadas aqui (e um pouco ao longo de todo álbum), há muito por onde ter pena e, ao mesmo tempo, apreço, tal é a compaixão e a vividez com que Karly Hartzman as conta.

Não é por acaso que a formação de Wednesday, em 2017, assenta sobre a designação de “projeto de escrita pessoal de Hartzman”. No entanto, este facto não influencia em nada o balanceamento do protagonismo dentro do projeto, pois enquanto Hartzman deambula na escrita e nos leva de arrasto, os restantes elementos da banda complementam-na na perfeição com drama e malha brava.

Ainda sem certezas absolutas, digo: Acho que vou ver Wednesday.

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Bull Believer
> Chosen To Deserve
> Bath Country
> Quarry
> Turkey Vultures

Yaeji – With A Hammer

Yaeji With A Hammer

Género: Electronic/Alternative

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Bem mais madura que em 2020, altura em que lançou a mixtape What We Drew, mas ainda longe de se auto-definir, é tudo o que tenho a dizer numa frase, se tiver de fazer uma heteroavaliação a produção de Yaeji.

With A Hammer é o álbum de “estreia” da já experiente artista de ascendência sul-coreana e vai a imensos sítios, deixando sempre um tag, mas em todos eles o tag é diferente e tem uma cor distinta. Uma metáfora para descrever a imensidão do universo que a artista está a construir em torno de si mesma. Contudo, esse universo é tão focado nas ideias mirabolantes que vão surgindo momentaneamente que fica difícil de entrar nele, e ainda mais desafiante perceber por onde começar. Somos irremediavelmente teletransportados entre realidades distintas sem ter tempo de absorção e contextualização do que nos rodeia em cada uma delas.

É excitante e catártico, mas também é um pouco confuso. A ideia transmitida é que Yaeji está a começar uma dezena de introduções distintas para o prato principal. Quero acreditar que o que vem a seguir não só vai deixar claro o que a artista está a tentar fazer com a marreta, como a pode definir e confirmar as suspeitas em torno do seu real potencial.

A minha atenção foi captada, veremos o que Yaeji vai fazer com ela a seguir.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Submerge FM
> For Granted
> Passed Me By
> Done (Let’s Get It)

Outros álbuns a ouvir:
> Alfa MistVariables
> Billie MartenDrop Cherries
> Ellie GouldingHigher Than Heaven
> Metallica72 Seasons
> Susanne SundførBlómi
> Tiny RuinsCeremony

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