Crítica – Scoob!

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Scoob! inclui quase todos os elementos clássicos dos desenhos animados originais, mas nota-se uma enorme interferência do estúdio que torna o filme em algo banal, ou pior.

Scoob!

Scoob! revela como Scooby (Frank Welker) e Shaggy (Will Forte) se conheceram e como se juntaram aos jovens detetives Fred (Zac Efron), Velma (Gina Rodriguez) e Daphne (Amanda Seyfried) até formarem a famosa “Mistery Inc.” Agora, com centenas de casos resolvidos e aventuras vividas, Scooby e o grupo enfrentam o maior e mais desafiante mistério de sempre: uma conspiração para libertar o cão fantasma Cerberus e lançá-lo ao mundo. Enquanto tentam impedir este “cão-apocalipse” global, o grupo descobre que Scooby tem um legado secreto e um destino épico maior do alguma vez imaginava.

Nunca fui o maior fã dos desenhos animados de Scooby-Doo quando era miúdo. Gostava como qualquer outra criança que gosta de quase tudo, mas nunca foi um cartoon que me deixava nervosamente entusiasmado durante o dia, à espera que começasse a dar na TV. Lembro-me vivamente de me sentir irrequieto ao saber que um novo episódio de Dragon Ball Z ou de Timon & Pumba seria transmitido naquele dia em particular. Nunca me senti assim com Scooby-Doo e, honestamente, desconheço as razões pelas quais me sentia desta maneira.

Sempre tive curiosidade em ficção científica e “o que está para lá do que vemos”, por isso, talvez o facto do objetivo da série ser o de justificar todas as atividades paranormais com algum “vilão mascarado” não tenha agradado o “eu” mais novo…

De qualquer forma, sempre gostei destes desenhos animados e a minha memória está cheia com todos os toques clássicos do show: o (duplo ou até triplo) desmascaramento dos vilões, Scooby a pular para os braços de Shaggy porque ambos se assustaram com algo, as sanduíches ridiculamente grandes… É só escolher.

Ironicamente, o maior elogio que consigo oferecer ao filme acaba por também estar ligado ao seu maior problema. Para qualquer fã da franchise, estes momentos clássicos proporcionarão altos níveis de nostalgia e entretenimento, logo, quem vier à procura disto mesmo terá, sem dúvida, aquilo que deseja.

No entanto, apesar de Scoob! estar longe de parecer um filme corporativo repleto com publicidade a diversos produtos (como, por exemplo, Sonic the Hedgehog), não consigo deixar de sentir que o estúdio estava envergonhado pela sua própria propriedade.

Scoob!

Esforçam-se tanto para fazer este filme pertencer a 2020 que se esqueceram completamente do que torna o cartoon especial para tantas pessoas. Desde a estranhamente confusa seleção de músicas até aos pontos de enredo extremamente modernos, a narrativa de Scoob! segue claramente um plot ao estilo de Avengers (incluindo uma alusão óbvia ao Captain America a segurar o seu escudo), focando-se firmemente no tema dos super-heróis.

Muitos não acreditavam que a Mystery Inc. e a história formulaica (mas bem sucedida) iam ser suficientes para agarrar a atenção do seu público-alvo, por isso decidiram pedir emprestado a um dos géneros com mais entretenimento e financeiramente impactantes da atualidade, perdendo a essência do seu próprio produto.

Portanto, apesar de Scoob! conter quase todas as cenas clássicas dos desenhos animados, este encontra-se muito separado do material de origem. Além disso, se não são fãs de Scooby-Doo e se não possuem qualquer conhecimento sobre o mesmo, então não esperem que este filme explique o que quer que seja.

Fred, Velma e Daphne separam-se de Shaggy e Scooby logo no início (devido a uma cena hilariantemente parva que só as crianças aceitarão), pelo que quase nenhum desenvolvimento de personagem ocorre dentro do primeiro grupo de pessoas. Este filme concentra-se mais na aventura do par e nas dinâmicas da sua relação (que são exploradas de forma clichê, mas eficiente), deixando 3/5 da Mystery Inc. de fora. Para dizer a verdade, agora que penso nisto, Scoob! nem sequer tem um mistério para resolver!

Nos desenhos animados, todos os episódios são sobre descobrir o que ou quem está a provocar um evento paranormal em específico. O filme basicamente segue essa fórmula durante os primeiros quinze minutos (que servem como uma história de origem do grupo) e, de seguida, vai por um caminho totalmente diferente em termos de história.

Não vou reclamar do nível de absurdidade do plot principal porque é, inegavelmente, um filme infantil, mas estas tentativas forçadas de adaptar Scooby-Doo para pertencer a 2020 são o que arruinam tudo para mim. Mesmo assim, o trabalho de voz é ótimo e ouvir Frank Welker interpretar Scooby novamente é muito agradável.

Resumindo, Scoob! possui quase todos os momentos clássicos dos desenhos animados originais, algo que certamente deixará os fãs satisfeitos ao sentir aquela nostalgia emocionante. Para além disso, o trabalho de voz é muito bom na sua maioria, especialmente por parte da lenda Frank Welker como Scooby.

No entanto, o estúdio prejudica o filme com inúmeras tentativas de adaptar o argumento formulaico, mas que tanto sucesso teve durante décadas, de forma a pertencer a 2020. Desde a história semelhante a uma de super-heróis até à falta de um mistério central, Tony Cervone encontra-se numa trapalhada narrativa (quatro argumentistas e três créditos de “história por”) de uma empresa com vergonha do seu próprio produto. Se são fãs tremendo da franchise, este filme é capaz de vos deixar satisfeitos.

Mas se não partilham uma conexão especial com estas personagens nem com as suas aventuras clássicas, ou se não possuem qualquer conhecimento sobre este cartoon, Scoob! não só não se importa em introduzir ou desenvolver as suas personagens, como, definitivamente, não vos irá converter.

Scoob! ficará disponível em breve via streaming.

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