Análise – Football Manager 2020

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Nos últimos anos, Football Manager tem vindo a brindar os fãs com a introdução de grandes novidades. Se no ano passado FM 2019 trouxe remodelações totais aos módulos tático e de treinos, alterações estas focadas no papel técnico e de curto prazo do treinador, ou manager, a versão deste ano foca-se em remodelações destinadas à vertente de gestão a longo prazo do clube, bem como a inúmeros arranjos visuais para facilitar a navegação não só dos novos jogadores, como também dos mais experientes. São as chamadas melhorias de qualidade de vida que complementam a intenção de tornar os projetos de longo prazo mais aliciantes.

Uma das principais alterações de Football Manager 2020 verifica-se na chamada “Visão do Clube”, que consiste na definição de objetivos específicos pela Direção do Clube à nossa forma de atuar no clube e tem o intuito de dotar cada save (gravação do jogo) com uma identidade única de longo prazo.

Isto significa que longe vão os tempos em que a nossa performance enquanto managers era pura e simplesmente avaliada em relação à nossa posição final na tabela classificativa e títulos conquistados. Agora, o nosso desempenho é também medido por fatores como política de contratações, estilo de jogo, aumentar a receita e a promoção de jogadores jovens à equipa principal. Estes “medidores de performance” são definidos até cinco épocas e são específicos de cada clube, tendo em conta a sua filosofia, história e posicionamento no panorama do mundo do desporto rei.

Football Manager 2020 - Visão do Clube

Outra das principais novidades de Football Manager 2020 é a criação de um “Centro de Desenvolvimento”, que tem o propósito de centralizar todas as opções relativas ao desenvolvimento de jogadores jovens. É uma ferramenta desejada por todos os managers com o sonho de criar o próximo Neuer, Maldini, Messi ou Cristiano Ronaldo.

Este hub facilita imenso a vida de um treinador focado na formação de talentos, pois é o local onde temos acesso a todas as informações sobre o desenvolvimento dos jovens talentos e jogadores emprestados, enquanto que, em versões anteriores, teríamos de abrir o perfil de cada jogador, um por um, para ter acesso a esta informação. É o docinho quase perfeito para nos desincentivar de torrar o orçamento de transferências e, em alternativa, promovermos talentos, tendo apenas um drawback: assim que movemos um jogador para o plantel principal, ele deixa de figurar deste hub, a menos que o re-insiram nos outros plantéis.

Football Manager 2020 - Centro de Desenvolvimento

Por forma a explorar estas duas vertentes de Football Manager 2020, decidi carregar um Save com base de dados alargada, criar o nosso Manager todo estiloso e com um perfil de formador (um de entre os vários perfis de treinador pré-elaborados) e escolher o Ajax para treinar (desculpa Erik ten Hag), equipa mundialmente conhecida por apresentar futebol atrativo e lançar novos talentos no futebol mundial.

Assim que assumi controlo do clube fui logo presenteado com as expetativas da direção relativamente ao meu desempenho enquanto manager do clube. Seguidamente foi-me feito um briefing sobre a equipa, incluindo a tática recomendada, melhor 11, jogador-chave, entre outros, e disponibilizada a opção de gerir o clube quase por completo, exercendo o aclamado papel de “boss”, bastante popular nos principais clubes da Primeira Liga Inglesa. No entanto, caso não me apeteça ser um control freak, posso delegar membros do clube da minha confiança, sejam eles olheiros, preparadores físicos, diretores e até o presidente.

Football Manager 2020 está repleto de detalhes e opções de escolha, o que, por vezes, pode fazer-nos perder imenso tempo. Por isso, optei por delegar a gestão dos olheiros e as renovações de contratos dos jogadores da equipa principal. No entanto, como não consigo largar tudo, preferi ficar responsável por gerir os contratos do staff, bem como dos talentos que pretendo desenvolver. Também deleguei as sofríveis, aborrecidas e repetitivas conferências de imprensa. Esta é uma área a precisar de uma clara melhoria.

Football Manager 2020 - Treinador

Prestes a começar o primeiro jogo da pré-época, para o qual o nosso treinador-adjunto teve a amabilidade de me sugerir um 11 inicial, opção que, diga-se de passagem, deu bastante jeito dado que os principais jogadores estavam ainda numas merecidas férias, tive oportunidade de ver em ação o motor de jogo. Este teve direito a mexidas para ser mais realista, principalmente os movimentos atacantes e a inteligência defensiva, refletindo-se num posicionamento dos jogadores em campo mais fiel à realidade.

Todavia, deparei-me com problemas na finalização de jogadas 1 para 1 e na concretização de penaltis, o que, para uma equipa como a minha, obrigada a jogar futebol atrativo e a dominar jogos, é terrível. Existe também a estranha tendência para os jogadores emprestados marcarem contra a equipa original. Felizmente, nem todos os bugs me prejudicaram, e notei que os remates fora de área estão simplesmente imparáveis, já para não falar que conseguimos completar jogos com mais de 800 passes realizados!

A versão testada de Football Manager 2020 começou por ser uma Beta do jogo e, com a colaboração dos meus colegas treinadores virtuais que têm estado a participar nesta versão, a equipa técnica conseguiu, já depois de termos a versão final do jogo, corrigir algumas situações.

Os jogos estão também muito demorados, dado que, em cada partida, existe sempre e pelo menos um lance que é revisto no VAR. Nestes casos, o jogo abre um highlight para nos mostrar não só o lance em que o VAR é chamado a intervir, como também a repetição desse lance. Por vezes, temos ainda o (des)prazer de assistir à corrida do árbitro até à televisão para rever as imagens.

Em termos visuais, o motor de jogo em 3D de Football Manager 2020 conta com animações aprimoradas, verificando-se, também, pequenas alterações para dar mais realismo à representação da luz e diversas condições climatéricas do jogo. É algo que torna uma partida mais aprazível, especialmente quando estamos a ganhar por larga vantagem e a cada passe que os nossos jogadores fazem ouvem-se “olés” vindos da bancada.

Claro, o motor de jogo continua a precisar de melhorias, não me deixando totalmente convencido.

Football Manager 2020 - Motor de jogo

Então e contratações? Neste caso optei por duas abordagens em simultâneo. Analisei os relatórios dos olheiros e deleguei no meu diretor desportivo a contratação dos defesas centrais que se enquadraram no perfil procurado, tendo ainda encetado contratos pelo ponto-de-lança goleador que pretendia adquirir e por jovens promissores. E foi aqui que fui, novamente, surpreendido.

Comecei a lidar com as primeiras escolhas difíceis a longo prazo, dado que tinha não só de definir um papel para o meus potenciais futuros jogadores, papel esse que está associado ao tempo de jogo dos jogadores e tem uma miríade de opções disponíveis desde “estrela” a “excedentário” passando por “promessa a quem dar oportunidade”, como também tinha a possibilidade de definir promessas quanto ao papel dos jogadores no clube para os anos seguintes, de forma a aliciá-los a juntarem-se a nós. Só depois de estarem fechados estes termos desportivos (entre outros) é que passei para os detalhes financeiros do contrato.

Resultados? Posso dizer-vos que ambas as estratégias funcionaram bem. O meu diretor desportivo conseguiu recrutar bons defesas centrais, ainda que, em alguns, eu tenha intervindo no processo negocial, e, pessoalmente, consegui um atacante que se tornou no melhor marcador da equipa. Quanto aos jovens prospetos… o futuro dirá.

A direção ficou um pouco insatisfeita com os montantes de algumas negociatas, principalmente os salários pagos, mas, após verem os resultados em campo, ficaram felicíssimos, salvando assim o meu emprego.

Relativamente aos empréstimos, tanto a contratação como a dispensa de jogadores por empréstimo, passando pela gestão dos emprestados, pode ser tratada por mim. Se quiser, posso ainda delegar essa tarefa noutro membro do staff e até contratar um treinador ou diretor técnico especializado nessa matéria.

Com o desenrolar da temporada, comecei a testemunhar eventos de rebeldia com base nos fatores acima descritos. Alguns jogadores cujo estatuto e tempo de jogo decidi reduzir (face à qualidade das contratações efetuadas) começaram a reclamar tempo de jogo, outros começaram a pedir novos contratos com mais minutos de jogo ou melhores salários dado o interesse dos demais tubarões europeus, pelo que fui obrigado a assumir o papel de líder de balneário e estabelecer um equilíbrio entre os interesses individuais dos jogadores, os meus enquanto treinadores e os da direção, que, para além do futebol atrativo, vencedor e baseado no desenvolvimento de talentos internos, também pretende uma planeamento orçamental equilibrado.

É aqui que Football Manager 2020 se aproxima daquilo que assumo ser a realidade social de um treinador de futebol, ao invés de ser puramente técnico-táctico. Por favor, tenham cuidado com as vossas escolhas, porque, caso se trate de um jogador influente no balneário, poderá afetar a moral da equipa e virar-se contra vós.

No que se refere a licenças, é uma pena que uma saga com tantos anos de história (primeira versão remonta a 2005 se ignorarmos o divórcio entre a SEGA e a Eidos) continue a não ter algumas das principais ligas mundiais e seus clubes, tais como a La Liga (Espanha), Brasileirão (Brasil) e Premier League (Inglaterra) licenciadas. E já agora, se quiserem encontrar a Juventus, procurem por Zebre.

No final de tudo, Football Manager 2020 é o melhor e mais emocionante jogo da saga à data, mas apenas fora de campo, dado que, por agora, quando a bola rola, somos atrapalhados pela aleatoriedade de reações dos jogadores e a quantidade de bugs existentes.

Nota: Bom

Football Manager 2020

Plataformas: PC, Android, iOS
Este jogo (versão PC) foi cedido para análise pela EcoPlay.

FM 2020 está recheado de opções a nível técnico, táctico e da gestão do clube, bem como de plot twists no balneário, oferecendo bastante longevidade e realismo caso pretendam um Sir Alex Ferguson ligado a toda a vida do clube.

Texto de: Cláudio Araújo

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