Crítica – Blitz

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Blitz é competente a nível técnico e tem momentos isolados de emoção genuína, mas deixa a desejar no desenvolvimento das suas personagens e na exploração dos seus temas.

Considero-me apreciador da carreira de Steve McQueen, sendo que 12 Years a Slave mantém-se como sua grande obra-prima, justificando a opinião pessoal de que é mais forte como realizador do que como argumentista, visto que é a única obra na qual não contribuiu para o guião. Logo, as expetativas para Blitz eram moderadamente positivas. A história segue George (Elliott Heffernan), um rapaz de apenas 9 anos durante a Segunda Guerra Mundial em Londres, enviado para terras mais seguras dentro do país pela mãe Rita (Saoirse Ronan). George, desafiador e determinado a regressar a casa, embarca assim numa aventura cheio de perigo, enquanto que a sua mãe desespera à sua procura.

De todos os eventos e períodos históricos, a WWII é, de longe, a que mais originou adaptações cinematográficas e televisivas. Apesar de ainda existirem narrativas originais e inovadoras para se contarem, a verdade é que a maioria deste tipo de obras acaba por cair num buraco genérico de histórias sobre sobrevivência, superação e resiliência. Blitz encaixa nesta categoria, possuindo mensagens poderosas e positivas como esperado, mas sem conseguir desenvolver as suas personagens ao ponto de merecer um investimento emocional impactante por parte dos espetadores.

Tematicamente, McQueen fica-se pela superfície de tópicos formulaicos normalmente explorados em argumentos deste estilo, mas existem poucos momentos memoráveis ao longo dos dois primeiros atos, fazendo com que o público chegue à previsível conclusão sem grande interesse pelo destino das personagens. Blitz brilha em pequenas cenas de pura bondade e na distinção entre “pessoas boas” e “pessoas más” do mesmo lado da guerra, mas no geral, peca por maior desenvolvimento geral.

Tecnicamente, há mais elogios para distribuir. A produção artística e a cenografia destacam-se dos restantes departamentos, com inúmeros sets construídos genuinamente impressionantes e imersivos. Mesmo os efeitos visuais, maioritariamente ao fundo do ecrã e atrás de personagens, surpreendem com algumas imagens de guerra bastante perturbadoras, sendo que a cinematografia de Yorick Le Saux (Little Women) também contribui com algumas sequências longas com movimentos de câmara contínuos. Já a banda sonora de Hans Zimmer (Dune: Part Two) é tão modesta que fiquei surpreendido ao ver o seu nome nos créditos finais.

Heffernan é, provavelmente, o que Blitz tem de melhor para oferecer à indústria. Apesar do diálogo ser reduzido, o jovem ator consegue expressar-se muitíssimo bem para a sua idade, mas até é a sua capacidade física que impressiona, tal a quantidade de sequências exigentes que teve de executar. Das personagens secundárias que George vai encontrando ao longo da sua aventura, Ife salta à vista através da calma subtil e segurança total que emana da prestação de Benjamin Clementine (Dune). Ronan (Lady Bird) é sempre excelente, mas tanto a atriz como Harris Dickinson (The Iron Claw) são mal-aproveitados.

VEREDITO

Blitz é competente a nível técnico e tem momentos isolados de emoção genuína, mas deixa a desejar no desenvolvimento das suas personagens e na exploração dos seus temas. Steve McQueen entrega uma obra visualmente interessante e com uma prestação central promissora de Elliott Heffernan, mas não consegue fugir aos lugares-comuns de narrativas de sobrevivência na Segunda Guerra Mundial. Ainda que não desiluda por completo, falta-lhe a profundidade emocional e a originalidade necessárias para se destacar num tipo de adaptação já tão saturado.

Manuel São Bento
Manuel São Bento
Crítico português individualmente aprovado no Rotten Tomatoes com uma enorme paixão pelo cinema, televisão e a arte de filmmaking. Uma perspetiva imparcial de alguém que parou de assistir a trailers desde 2017. Membro de associações como Online Film Critics Society (OFCS), The International Film Society Critics (IFSC) e Online Film & Television Association (OFTA). Portfolio: https://linktr.ee/manuelsbento
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