Crítica – The Apprentice

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The Apprentice não deixará ninguém indiferente.

Donald Trump nunca deixará de ser uma figura controversa, mas, mesmo assim, conseguiu chegar à posição mais importante de uma das maiores potencias mundiais. Como antigo e, quem sabe, futuro Presidente dos Estados Unidos da América – à data desta crítica, Trump encontra-se em campanha para o cargo – um filme sobre o início de carreira do empresário lançado a cerca de um mês das eleições seria, naturalmente, alvo de imenso escrutínio, processos legais e inúmeras tentativas de impedir o seu lançamento, tal a visão extremamente negativa da vida e personalidade de Trump em The Apprentice.

Contra tudo e todos, a obra do realizador Ali Abbasi (Holy Spider) e do argumentista Gabriel Sherman ultrapassou obstáculo após obstáculo e chegou às salas de cinema não só no país de origem, mas um pouco por todo o mundo. The Apprentice conta com Sebastian Stan (Sharper) como Donald Trump e segue uma versão jovem do protagonista determinado em alcançar sucesso e fama com o seu nome. Proveniente de uma família rica nos anos 70 de Nova Iorque, é ao encontrar Roy Cohn (Jeremy Strong), um advogado sem misericórdia, que Trump se tornou na personagem que hoje se conhece. Cohn via em Trump o aprendiz perfeito: alguém com ambição crua, fome de sucesso e uma vontade tremenda em fazer o possível e impossível para vencer.

Assisti a The Apprentice mais tarde que muitos outros críticos e espetadores comuns, pelo que não escapei a algumas reações. Aqui e ali, fui encontrando a expressão “jogou pelo seguro” e, após a visualização da obra, sinto-me perplexo com tal afirmação. Pessoalmente, considero que Abbasi e Sherman demonstraram coragem e ousadia insanas para retratar certos eventos questionáveis e cuja verdade se encontra num limbo polémico de forma abertamente incriminatória de um dos homens mais poderosos e influentes dos EUA. Sinceramente, não sei o quanto mais longe os cineastas poderiam ter ido…

Seja politicamente, socialmente ou pessoalmente, no espaço público ou privado, The Apprentice descreve Trump como um empresário sem escrúpulos, ética, moral, remorso e até respeito pelos que mais o ajudaram a subir na carreira. Tudo vale para vencer, mesmo que isso implique corromper outros cargos com chantagens chocantes. Como pessoa, é descrito como um ser egocêntrico, arrogante, sexista, hipócrita, indecente e desumano, demonstrando pouca ou nenhuma compaixão perante supostos melhores amigos, familiares ou até a própria mulher e filhos.

Dito isto, The Apprentice não culpa Trump na totalidade por quem se tornou. Sem Cohn, nunca existiria Trump e o arrependimento do primeiro é crescente ao longo do filme. Aliás, não sei até que ponto uma biografia sobre Cohn não seria mais interessante, tal é o impacto que este tem na vida do ex-POTUS. O advogado criou um monstro capitalista, corrupto e sem vergonha, mas o potencial negativo apenas foi possível de se atingir devido a todos os que foram rodeando Trump e servindo de más influências, incluindo o próprio pai.

Trump começa como um “miúdo” tímido, medroso, facilmente manipulável e mais sonhador que concretizador, mas, à medida que The Apprentice avança, as réstias de humanidade vão desaparecendo e culminam num Trump a proclamar a sua grandeza perante a cidade de Nova Iorque, endeusando-se a si e aos seus feitos. Narrativamente, o filme não foge às fórmulas habituais de biopics, mas a direção de Abassi cria uma atmosfera cativante, como se os espetadores fossem uma mosca na sala a acompanhar desenvolvimentos de enredo genuinamente chocantes.

No fim, The Apprentice deve muito às prestações de Stan e Strong (The Trial of the Chicago 7), talvez mesmo as melhores performances de ambas as carreiras. Stan surpreende com uma representação não-caricatural, incorporando Donald Trump de forma sublime, mas sem recorrer a imitações baratas e exageradas da sua voz, expressões ou maneirismos. A execução do seu diálogo é o maior destaque de uma interpretação completíssima. Já Strong é, provavelmente, o grande destaque, tal a evolução trágica do personagem ao longo da obra e o quanto o ator se deixa levar pelo impacto da doença que assombra Cohn a partir de certo momento na narrativa. Uma prestação verdadeiramente transformativa que dificilmente será ignorado na temporada de prémios.

VEREDITO

The Apprentice não deixará ninguém indiferente. Ao traçar uma narrativa provocadora e sem concessões sobre os primórdios de Donald Trump, Ali Abassi e Gabriel Sherman confrontam a audiência com uma visão crua e inquietante de um homem que moldou a política, os negócios, o seu país e o mundo com controvérsia intensa e morais questionáveis. As performances excecionais e merecedoras de muitos prémios por parte de Sebastian Stan e Jeremy Strong elevam um argumento corajoso, sem medo de incriminar de inúmeras maneiras um antigo e talvez futuro POTUS, revelando eventos chocantes da sua vida e carreira. Uma biopic que desafia o público a refletir sobre as escolhas que tomam no dia-a-dia e até que ponto é que “vale tudo” para conquistar os nossos sonhos.

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