Uma aventura em mundo aberto que reduz a escala que associamos ao género até encontrar uma fórmula de sucesso: mais humor + mapa reduzido, mas recheado + exploração livre = diversão.
Terry é um rapaz simples. Está de férias de verão, não quer fazer atividades extra-curriculares e é demasiado impaciente para ficar parado em casa durante os meses mais quentes do ano. Terry também tem o sonho de ir ao espaço, e por mais que os adultos gozem com a ideia, ele não desiste e sabe que um dia conseguirá quebrar a estratosfera e navegar em gravidade zero. Para tal, Terry um plano: arranjar um carro e acelerar até chegar ao espaço. Um plano simples, mas que tem pouco de infantil, já que existe alguém disposto a dar-lhe um emprego, um carro e até as melhorias necessárias para ganhar velocidade suficiente para alcançar o seu sonho. Agora Terry só tem de descobrir uma forma de fazer dinheiro sem trabalhar um único dia na sua vida.
Quando somos presenteados com um carro novo e a nossa missão é definida como uma procura por recursos, a aventura cómica e absurda de Terry começa. À nossa frente, temos a cidade de Sprankelwater, completamente explorável e sem restrições de progressão. A partir do primeiro momento e até ao final da aventura, podemos explorar livremente as várias zonas da cidade e descobrir os seus pontos de interesse. No mapa, temos identificados as zonas que escondem atividades e colecionáveis, mas a abordagem e a conclusão destas atividades fica completamente à nossa mercê.
Tiny Terry’s Turbo Trip é tanto um jogo de exploração, como uma enorme busca por colecionáveis em torno de uma cidade pequena, mas recheada em conteúdo. A snekflat construiu um mundo aberto sem restrições, repleto de caminhos superiores e subterrâneos, onde plataformas dão acesso a telhados, esgotos ou campos de futebol escondidos entre prédios altos. A intenção é convidar o jogador a explorar ao seu ritmo e a descobrir a cidade como e quando quiser. É possível correr para os pontos de interesse ou então deixar que as atividades venham até nós à medida que exploramos monumentos e encontramos pistas visuais que alimentam a nossa curiosidade. O que é aquela fonte ao longe? E porque motivo está alguém a fazer yoga numa piscina? Se temos curiosidade, então podemos explorar e conhecer mais sobre o mundo de Terry.
Como a cidade de Sprankelwater não é muito extensa, a exploração torna-se ainda mais divertida, seja a pé ou então com a ajuda de um dos carros à nossa disposição. Não só temos o carro de Terry, que podemos melhorar ao longo da campanha, como podemos roubar carros que estejam estacionados. O que importa aqui é que tudo está perto o suficiente para visitarmos quando quisermos. O design das zonas também ajuda porque estamos sempre a descobrir algo novo, seja uma nova zona, dinheiro ou então as peças de turbo que precisamos para evoluir o carro de Terry. Com níveis superiores, médios e inferiores, a cidade ganha densidade se quiserem descobrir todos os segredos escondidos pelas ruas, praias e prédios.
O foco na exploração também é sentido na forma como as missões principais não apresentam pontos de navegação. Quando começamos uma missão, nós somos atiramos para as ruas da cidade para percebermos o que temos de fazer. Por exemplo, uma missão pede-nos para apanharmos insetos. Como fazemos isso? Somos nós que temos de descobrir. Então percebemos que existem zonas verdes onde os insetos se encontram. Depois compreendemos que o jogo apresenta vários tipos de insetos e que só uma dessas espécies é necessária para a missão. Por fim, não demoramos muito tempo a analisar que uma rede para apanhar os insetos é essencial para a missão. Então vamos à procura de uma loja até que encontramos um ferro-velho que vende todo o tipo de ferramentas, desde bastões até à rede. Agora basta juntar as informações todas e temos uma missão para concluir assim que quisermos – até porque não existem imposições de tempo na campanha.
Por vezes, encontramos missões mais absurdas, cujo objetivo não é tão claro num primeiro contacto. Temos, por exemplo, a missão com o criminoso que pede a nossa ajuda para cometer… crimes. Qual é o crime e o que é necessário para avançarmos a missão? Bom, esse é o puzzle! Desta forma, exploramos Sprankelwater com outra intensidade e até motivação, à procura dos becos e zonas escondidas para tentar descobrir uma pista para as missões que encontramos. Isto é possível porque o jogo, apesar da sua acessibilidade e curta duração, dá-nos bastante agência e permite-nos explorar à vontade sem estar constantemente a puxar-nos para a direção correta. Isto é refrescante porque a descoberta é muito mais recompensadora e existem momentos onde encontramos algo, que não sabemos qual o seu propósito, para depois chegarmos a uma resposta quando saimos do caminho principal e conhecemos melhor a cidade.
Apesar de me ter divertido com Tiny Terry’s Turbo Trip, a minha queixa principal resume-se à falta de variedade nas missões e na ineficácia das ferramentas que podemos adquirir. Fora a rede e a aquisição de melhorias para o carro de Terry, as restantes ferramentas não servem para muito. O taco serve para partir objetos, mas o jogo oferece também um ferro e uma chave inglesa que têm o mesmo propósito, sem mudar nada na sua utilização ou eficácia em jogo. As missões também não exigem a utilização das ferramentas e isso deixou-me desapontado. Não queria uma estrutura próxima aos metroidvanias, onde teríamos de desbloquear constantemente ferramentas e habilidades para conseguirmos concluir missões, mas pedia-se maior profundidade na campanha. O mesmo pode ser dito dos chapéus de Terry, que só servem para personalizar a personagem. Com uma jogabilidade tão centrada na liberdade e no humor, não compreendo como não existem momentos que pudesse requerer a utilização de determinados chapéus em tarefas específicas para concluirmos missões ou então desbloquear uma nova abordagem às mesmas.
No entanto, Tiny Terry’s Turbo Trip é divertido e gostei da sua estrutura aberta. A cidade é pequena, mas densa e as missões mantêm um foco saudável na comédia e no absurdismo com personagens caricatas e situações ainda mais estranhas: vão à praia e procurem por um banhista que está a apanhar sol para compreenderem o que eu quero dizer. A jogabilidade é muito sólida, mas pouco profunda e talvez seja aqui que a paciência se esvairá para alguns. A campanha é curta e está recheada de conteúdos, mas podia ser um pouco mais desafiante nos seus puzzles ou então mais abrangente no que toca à estrutura das missões. No fim, o que importa é que Tiny Terry’s Turbo Trip é um jogo divertido, perfeito para todas as idades e que corre fenomenalmente na Steam Deck. Aliás, arrisco-me a dizer que é um jogo perfeito para a consola portátil da Valve. Por isso, aproveitem esta aventura de verão e relaxem um pouco.
Cópia para análise (versão PC) cedida pela Dead Good Media.