Crítica – Your Place or Mine

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Previsível e sem mensagens propriamente memoráveis, Your Place or Mine ainda consegue ser uma rom-com mais do que satisfatória.

Esta é uma boa semana para fãs de comédias românticas. Apesar de Magic Mike’s The Last Dance não se inserir propriamente neste género, o público-alvo é semelhante e a obra vai ocupar as salas de cinema, enquanto que Somebody I Used to Know (Prime Video) e Your Place or Mine (Netflix) tomam conta das visualizações caseiras. Este último coloca Aline Brosh McKenna (argumentista de The Devil Wears Prada) na cadeira de realizadora pela primeira vez na carreira, tal como Ashton Kutcher (Vengeance) e Reese Witherspoon (A Wrinkle in Time), que nunca tinham trabalhado juntos.

A evolução do streaming tem permitido um aumento de rom-coms, algo que, como tudo na indústria do cinema, tem os seus benefícios e prejuízos. A quantidade incessante de narrativas deste tipo remove o entusiasmo para novas obras, dando a sensação de simplesmente estar a rever a mesma história com personagens e atores diferentes, mas as oportunidades são tantas que, eventualmente, surge um filme verdadeiramente digno de toda a atenção. Your Place or Mine não chega a esse ponto e não escapa às barreiras previsíveis do género, mas consegue evitar algumas fórmulas habitualmente usadas em excesso.

Sinceramente, não me recordo de uma rom-com em que os protagonistas raramente passem tempo juntos. Em Your Place or Mine, Debbie (Witherspoon) e Peter (Kutcher) não chegam a possuir cinco minutos de tempo de ecrã um com o outro… fisicamente. A primeira reação a esta observação levanta, sem surpresas, imensas questões. Como poderão os espetadores importar-se com uma potencial relação amorosa entre duas personagens que praticamente não têm qualquer interação uma com a outra em pessoa? Será sequer possível investir emocionalmente em Debbie e Peter se nunca se vê os dois juntos durante a maior parte do filme?

your place or mine 2

Surpreendentemente, a resposta é “sim”. McKenna apresenta e desenvolve a amizade profunda dos protagonistas através de várias chamadas entre os mesmos, o que, teoricamente, tem tudo para funcionar mal. No entanto, com excelente montagem e trabalho de câmara, Your Place or Mine divide o seu ecrã ao meio, mostrando Debbie e Peter a viver as suas vidas individuais em locais diferentes enquanto comunicam entre si, ao contrário do típico corta-fala-corta neste tipo de situações. Para além do óbvio simbolismo de proximidade entre eles, a verdade é que, enquanto espetador, a tal linha ao meio gradualmente torna-se invisível.

Acredito que a química entre Witherspoon e Kutcher seja fantástica, mas em Your Place or Mine os atores têm de convencer o público de que as suas personagens estão inquestionavelmente sincronizadas uma com a outra sem realmente atuarem um com o outro… e conseguem. Debbie e Peter seguiram com as suas vidas, mas a amizade de 20 anos é marcada por contacto e preocupação constantes. O argumento de McKenna pode seguir um caminho extremamente previsível com arcos vistos mil e uma vezes em outros tantos filmes, mas o seu método de contar a história é inteligente e cativante.

O resto do elenco também se destaca. Tig Notaro (Army of the Dead) e Zoë Chao (Senior Year) trazem bastante humor a momentos mais parados, mas até é o jovem ator Wesley Kimmel (WandaVision) que surpreende com uma prestação bastante matura. Apesar dos “truques” de McKenna – que demonstra potencial como realizadora – Your Place or Mine não passa da “experiência auto-piloto”, isto é, não existe nenhuma fase mais entusiasmante ou um momento de arrebitar os espetadores com uma reviravolta chocante. É uma visualização leve e inofensiva, mas também pouco memorável ou impactante.

Para além disso, Your Place or Mine peca por falta de uma mensagem mais inovadora. Narrativas formulaicas e desenvolvimentos genéricos são uma coisa, mas a mensagem essencial de uma obra deve sempre ter impacto. “Nunca é tarde para voltar atrás” ou “devemos aproveitar todos os segundos das nossas vidas” são frases com a sua devida importância, mas sabem a pouco no contexto da história, especialmente quando Debbie é mãe solteira de um rapaz com vários problemas de saúde – que surpreendentemente nunca chegam a ter qualquer tipo de impacto no desenrolar do filme – e Peter um homem que esteve com dezenas de mulheres.

Veredito

Your Place or Mine é uma rom-com mais do que satisfatória. Aline Brosh McKenna consegue elevar as fórmulas narrativas do género com a sua maneira pessoal e inteligente de contar histórias, oferecendo um ponto de vista incomum para o desenvolvimento emocional entre dois protagonistas afastados durante praticamente todo o tempo de execução. Reese Witherspoon e Ashton Kutcher entregam boas prestações, tal como o resto do elenco bem-humorado, aproveitando os takes longos para exercitar os seus músculos de representação.

Previsível e sem mensagens propriamente memoráveis, mas não podia recomendar mais para fãs do género.

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