A última corrida no circuito de Albert Park tinha sido no longínquo ano de 2019, onde a vitória caiu para o Mercedes nº 77, conduzido por Valtteri Bottas. Em 2022, a Fórmula 1 está de volta a Melbourne para o Grande Prémio da Austrália, mas não são os Mercedes que partem na fila da frente: Charles Leclerc conseguiu a pole position, seguido de Max Verstappen e Sergio Pérez. Teria o monegasco velocidade suficiente para manter os Red Bull atrás?
Oito dos 10 carros que compunham a primeira metade da grid estavam de pneus médios, apenas Fernando Alonso (P10) e Carlos Sainz (P9) começavam de pneus duros. Com esta estratégia, Alonso até começou bem, uma vez que conseguiu subir uma posição. Mas apenas porque Sainz começou cedo a ter problemas em controlar o seu carro e perdeu, logo no arranque, três posições (quatro se contar com a ultrapassagem de Mick Schumacher logo na primeira volta). Do outro lado da barricada estava Lewis Hamilton – uma excelente partida meteu o britânico em P3, atrás de Charles Leclerc e Max Verstappen e seguido de Sergio Pérez e George Russell.
Sainz queria recuperar posições e tentou logo na segunda volta. Tentou passar o Haas na entrada para aquela que é agora a curva 9, mas, ao travar tarde, acabou por seguir em frente, perder o controlo do carro e passar direto para a gravilha à saída da curva 10. Estava terminada a corrida para um dos Ferrari, enquanto o outro continuava, lá na frente, a carregar no acelerador para deixar Max Verstappen em P2.
Com este incidente, primeiro foi chamado o Virtual Safety Car, mas logo de seguida saiu o Safety Car da garagem. Lance Stroll aproveita para parar e mete pneus duros no seu Aston Martin, e Hamilton, que tinha alguma vantagem sobre o Red Bull de Pérez, vê o mexicano colado novamente à traseira do seu monolugar.
[“Max, cuidado com as novas regras para o Safety Car” dizia o seu engenheiro em jeito de refrescar de memória].
Nesta altura, perguntava-me quanto tempo iria Hamilton aguentar Pérez atrás dele e se valeria a pena tentar defender com tudo, sabendo que a velocidade não está lá, e acabando por estragar os pneus mais do que aquilo que seria necessário? A minha resposta vinha na volta 10 do Grande Prémio da Austrália: DRS estava de volta e Pérez passava Hamilton. O britânico estava agora em P4 seguido de Russell e dos dois McLaren que estavam, aparentemente, a fazer uma corrida como ainda não tinham feito em 2022 (Lando Norris em P6 e Daniel Ricciardo em P7).
Quem também estava a ter dificuldades era Sebastian Vettel. No seu primeiro Grande Prémio de 2022, o Aston Martin estava a provar-se difícil de conduzir. O carro vai fora e o alemão desce para P19. Nesta altura, o tempo que Hamilton tinha ganho, face aos que o seguiam durante a luta com Pérez, já tinha evaporado, e Russell, com ambos os McLaren colados, já seguiam o carro 44. Por esta altura, El Plan Fernando Alonso continuava em P10.
Por esta altura, Verstappen começava a queixar-se dos seus pneus frontais e a verdade é que estava longe de conseguir aguentar o ritmo do Ferrari de Charles Leclerc. O carro da Ferrari fugia dos restantes de uma forma que fazia lembrar quando Hamilton e Max estavam sempre, pelo menos, um segundo mais rápido que os restantes do top 5. Mas bem, a corrida continua e Hamilton está ao mesmo ritmo que os Red Bull, conseguindo não perder muito tempo por volta. Já o seu colega de equipa conseguia lutar para manter os McLaren atrás, que por esta altura ainda davam luta aos Mercedes.
A forma como os carros criados para os novos regulamentos se conseguem seguir é absolutamente fantástica.
Salto agora para a volta 21. Numa altura em que Alonso está em P8 e que ambos os Red Bull já pararam ao verem que estavam a perder demasiado tempo, para terem noção, Hamilton estava prestes a ganhar posição a Pérez quando este entrou nas pits. Hamilton estava agora em P2, mas a 17.7s de Charles Leclerc, que continuava, sem problema algum, na liderança da corrida. Umas voltas depois, era altura de Leclerc e Hamilton pararem. Enquanto o monegasco continua na liderança, Hamilton desce para P5, conseguindo sair à frente de Pérez.
Pérez passa Hamilton, mas o britânico estava pronto para contra-atacar quando o Safety Car sai das pits pela segunda vez. Agora foi Vettel, ainda a ter dificuldades em controlar o carro, sobre a divisória ao fazer a curva 4 e acerta, em cheio, no muro após perder o controlo do seu Aston Martin. Com isto, quem ganhou alguma vantagem foi George Russell. Com o safety car, o piloto acabou por ter uma paragem “gratuita” nas boxes e subiu a P3 com Fernando Alonso, de pneus com 24 voltas, atrás.
Com o recomeço da corrida pela segunda vez, Max parte bem melhor que Charles, mas o piloto da Ferrari consegue defender o Red Bull e, passado aquela primeira volta de incerteza, volta ao ritmo normal: a ganhar cerca de 0.6s por volta. Que ano fantástico para os fãs da Ferrari. Entretanto, Pérez e Hamilton passam Alonso, que ainda não tinha parado, e Norris e Ricciardo passam o Haas de Kevin Magnussen, que também ainda não tinha parado.
No meio disto tudo, uma excelente corrida para o Williams de Alexander Albon, em P10 depois de ter sido desqualificado dos resultados da qualificação (por não ter 1L de combustível para fornecer à FIA) e acabou mesmo a partir em P20. Mas calma, o tailandês ainda não tinha parado na volta 38.
Quem já tinha parado, mas para uma segunda vez e agora de forma permanente, é Max Verstappen. Problemas no carro, provavelmente uma fuga no sistema de combustível (ainda sem certezas) obrigam o atual Campeão do Mundo a parar o carro e a ter o segundo DNF em três corridas. Nada bom para a Red Bull e nada bom para legião laranja que acompanha o piloto durante o ano.
VSC e quem ainda não parou aproveita para parar. Todos menos Albon, que continua a carregar o seu Williams, agora em P7, com pneus usados em 40 voltas. Por esta altura, o laranja transformava-se em papaya e os fãs da McLaren e de Dan Ricciardo ficam felizes. Tudo indicava que a equipa britânica ia conseguir, pela primeira vez em 2022, acabar com ambos os carros nos pontos.
A Aston Martin já não estava a ter um dia fácil, mas ficou pior. O seu único piloto em pista levou uma penalização de 5s por andar aos “esses” na reta enquanto tentava defender posição. Já não falta muito para o fim:
- Bottas não está nos pontos;
- Os Haas estão com menos ritmo que nos primeiros dois GP;
- Os Mercedes estão bem melhor;
- Os McLaren estão como ainda não tinham estado;
- E Albon ainda não parou. Faltam 4 voltas.
Quem parou primeiro que Albon, pela segunda vez no seu caso, foi Alonso. Quatro voltas para o fim e o espanhol mete pneus de composto médio. Mais à frente, Hamilton bem que tentou o pódio, após ter perdido posição quando Russell parou “de borla” por causa do Safety Car, mas não conseguiu. Disse no fim da corrida que o carro estava a aquecer e teve que recuar, deixando assim o seu colega de equipa com a P3 e com a celebração daquele que foi não só o seu primeiro pódio como piloto da Mercedes, mas o primeiro pódio numa corrida que contou com todas as voltas planeadas.
Sabem quem é que também parou? Foi Albon. À entrada da última volta, a 58, o Williams lá parou. Calçou pneus de composto macio e seguiu a sua vida para uma última volta que viria a garantir 1 ponto. Nada mau para a Williams e nada mau para o piloto que partiu em P20 para este Grande Prémio da Austrália.
Por fim, começar por destacar o El Plan, que se na qualificação estava com ritmo para pole quando bateu devido a problemas no carro, na corrida acabou por ter que lutar com um Alpine que parecia não querer andar mais. O ritmo está lá, o piloto também, falta perceber o que é que é preciso mudar no carro para conseguir chegar ao fim com esse mesmo ritmo. Consistência acima de tudo. Como dizia Max Verstappen no fim do GP: “Não vou pensar no Campeonato do Mundo, é mais importante conseguir acabar corridas (…) é inaceitável“.
Quem esteve bem no Grande Prémio da Austrália foi, novamente, Charles Leclerc. Acabou no lugar mais alto do pódio e teve uma corrida sem qualquer tipo de problemas. Foi rápido, consistente e acabou por andar sozinho grande parte do tempo. Para além da pole e da vitória, conseguiu ainda a volta mais rápida (1:20.260) para conquistar o seu primeiro Grand Slam da carreira. Pérez fez o que conseguia com o seu Red Bull e manteve-se em P2 com Russell e Lewis atrás. Os McLaren também estiveram bem e lá conseguiram acabar ambos nos pontos (P5 e P6). Destaque ainda para a P7 de Esteban Ocon, a P8 de Valtteri Bottas, Pierre Gasly em P9 (nota-se que os AlphaTauri este ano estão com dificuldades também, não se adaptam tão bem ao RBPT como a equipa austríaca) e o Williams de Albon a fechar em P10.
Já agora: É a primeira vez, desde 1973 com Emerson Fittipaldi, que um piloto consegue a volta mais rápida nos primeiros três GPs da temporada.
Campeonato do Mundo de Fórmula 1 – Top 10 por pilotos
Posição | Piloto | Equipa | Pontos |
1 | Charles Leclerc | Ferrari | 71 |
2 | George Russell | Mercedes | 37 |
3 | Carlos Sainz | Ferrari | 33 |
4 | Sergio Pérez | Red Bull Racing RBPT | 30 |
5 | Lewis Hamilton | Mercedes | 28 |
6 | Max Verstappen | Red Bull Racing RBPT | 25 |
7 | Esteban Ocon | Alpine Renault | 20 |
8 | Lando Norris | McLaren Mercedes | 16 |
9 | Kevin Magnussen | Haas Ferrari | 12 |
10 | Valtteri Bottas | Alfa Romeo Ferrari | 12 |
Campeonato do Mundo de Fórmula 1 – Top 5 por equipas
Posição | Equipa | Pontos |
1 | Ferrari | 104 |
2 | Mercedes | 65 |
3 | Red Bull Racing RBPT | 55 |
4 | McLaren Mercedes | 24 |
5 | Alpine Renault | 22 |