You Should Have Left tinha um potencial enorme para ser um filme de horror psicológico bastante intrigante, mas o realizador David Koepp perdeu-se nas muitas ideias presentes no filme.
Sinopse: “Uma família de três pessoas reserva férias numa casa isolada e moderna no interior de País de Gales onde nada é exatamente o que parece.”
You Should Have Left tem todos os ingredientes para ser um sucesso no género de horror. David Koepp (co)escreveu e/ou realizou filmes fenomenais: Jurassic Park, Mission: Impossible, Spider-Man, War of the Worlds, Stir of Echoes… a lista continua. Adicionem Kevin Bacon (Theo Conroy) e Amanda Seyfried (Susanna) e têm dois protagonistas fantásticos. Um filme de horror localizado numa “casa assombrada”, onde as personagens principais têm uma aventura psicologicamente perturbadora? A sinopse convence!
Então, com todas estas caraterísticas, não há forma alguma deste filme falhar, certo? Pois… Não podia ser mais dececionante.
Infelizmente, You Should Have Left não sabe a que género pertence. Koepp inspira-se claramente em inúmeros outros filmes (alguns da sua própria filmografia), esquecendo-se completamente de desenvolver o que está à sua frente. Tudo sobre este filme parece inacabado ou, sendo mais honesto, tudo parece apenas uma ideia ou um conceito ainda por explorar. Bacon e Seyfried interpretam personagens longe de serem pessoas com motivações, aspirações ou até mesmo personalidades, especialmente Susanna, que é manipulada como se fosse um mero objeto para provocar certas situações no enredo. É uma atriz… isto é a sua caraterização completa.
Como espetador, termino o filme sem saber nada sobre qualquer personagem. Theo tem algum tipo de “passado” (como todas as outras personagens principais dos filmes de horror da Blumhouse), que mal é explicado detalhadamente. O único momento em que uma backstory é oferecida à sua personagem é através de um despejo de exposição inacreditável entre a mãe e a sua filha. Este é o único desenvolvimento pessoal que Theo recebe: um evento que aconteceu na sua vida descrito numa conversa forçada entre personagens que não a deveriam ter.
O filme de Koepp é promovido como um filme de horror psicológico, mas nem sequer possui os atributos técnicos necessários para gerar suspense ou uma atmosfera assustadora. A “casa assombrada” é demasiado bem iluminada, moderna e nada claustrofóbica. A edição (Derek Ambrosi) está estranhamente não sincronizada com a banda sonora (Geoff Zanelli) e, apesar da cinematografia de Angus Hudson apresentar alguns planos visualmente cativantes, não ajuda a criar o ambiente necessário. Não parece nem dá a sensação de ser um filme de horror. Tal como com as personagens, Koepp não sabe para onde quer que a história vá.
Existe uma tentativa de criar um drama dentro da família que não funciona porque, bem, não há personagens, logo não consigo importar-me menos com os seus problemas. Depois, um elemento de ficção científica desnecessário é introduzido e é deixado por explicar. Finalmente, um mistério em torno do tamanho da casa é abordado, mas, tal como o resto do filme, não vai além de ser apenas um conceito.
Na verdade, este é o aspeto mais interessante de You Should Have Left, mas só é introduzido após uma hora do tempo de execução. Este filme tenta seguir tantos caminhos diferentes no que toca ao género que se esquece de escolher um…
No geral, You Should Have Left tinha um potencial enorme para ser um filme de horror psicológico muitíssimo intrigante, mas David Koepp perdeu-se nas muitas ideias presentes no filme. Kevin Bacon dá-nos uma prestação excelente e Amanda Seyfried (mal aproveitada) também mostra o seu talento inegável, mas ambos interpretam personagens longe de poderem ser consideradas como tal.
O argumento de Koepp contém tantos conceitos subdesenvolvidos e tentativas extremamente superficiais de equilibrar géneros distintos que se esquece totalmente de contar uma história convincente com arcos de personagens completos e pontos de enredo interessantes.
Mesmo tecnicamente, a casa bem iluminada e moderna não gera a atmosfera cheia de suspense necessária. A edição e a banda sonora também são estranhamente misturadas. Infelizmente, deixa muito a desejar e é desapontante. E por essas razões todas, não consigo recomendar You Should Have Left.