Mais vale tarde do que nunca: Yakuza Kiwami aterra finalmente na Nintendo Switch.
Se há lançamentos que pecam por serem tardios, são os Yakuza, ou Like a Dragon, na Nintendo Switch. Afinal, a série remonta à era da PlayStation 2, e muitos dos jogos foram lançados na PlayStation 3. No entanto, esta não é a primeira vez que uma consola da Nintendo recebe a série, já que os dois primeiros títulos chegaram à Nintendo Wii U, nas suas versões originais em alta definição. Estes, contudo, nunca foram lançados no Ocidente, e as vendas não justificaram mais esforços para expandir essas versões.
Na verdade, as vendas de Yakuza nunca foram propriamente brilhantes, com os fãs a implorarem pelas sequelas no Ocidente. Mas algo mudou no alinhamento dos astros, e Yakuza tornou-se um fenómeno, quase tão rápido quanto o tempo necessário para exclamar “Baka Mitai”. Desde então, fomos bombardeados com jogos, merchandise questionável e adaptações de qualidade duvidosa.
Por falar nisso, o lançamento deste Yakuza Kiwami coincidiu com a estreia da adaptação do primeiro jogo na Amazon Prime. Uma ideia algo inteligente, visto que a série televisiva é tão medíocre que os espectadores sentirão necessidade de jogar para perceber o que aconteceu e como tudo começou. É uma pena, porque este primeiro jogo é bom, mas tão bom, que ainda estou preso a ele desde 2005.
Na altura, o primeiro jogo surgiu como uma resposta ao vazio deixado por Shenmue, que ainda hoje não concluiu a sua história. Contudo, enquanto existem vários Yakuza, as duas sagas não podiam ser mais diferentes, unindo-se apenas no retrato de um slice-of-life nipónico intercalado com tramas dramáticas.
Enquanto Shenmue se inspira em filmes de artes marciais, Yakuza vai beber aos filmes de crime organizado. Tanto que os dois primeiros jogos foram escritos em colaboração com Hase Seishū, um conhecido novelista do género. Este trabalho resultou numa duologia de qualidade impressionante e tematicamente acessível. Os restantes jogos, no entanto, evoluíram numa direção que requer um gosto mais adquirido.
Para quem vai começar agora, este Yakuza Kiwami é um remake lançado originalmente em 2017 que transforma o original numa experiência fantástica, aproximando-nos ainda mais da Kabukicho real, a inspiração para a Kamurocho virtual. Tudo aqui é mais imersivo, cinematográfico e hilário, porque só Yakuza consegue equilibrar com mestria o melodrama do submundo do crime japonês com a bizarria das missões secundárias.
Antes de chegarmos a essa bizarria, é preciso passar por uma longa introdução, onde Kazuma Kiryu, estoico e idealista, é acusado de assassinar o patriarca da família Dojima. Durante os dez anos que passa na prisão, Kiryu perde a crença nos ideais dos yakuza, após ser ostracizado por um crime que não cometeu para proteger Nishikiyama, o amigo de infância que apenas tentava salvar Yumi, outra amiga e paixão silenciosa de Kiryu. Quando é libertado, descobre que o mundo avançou sem ele. Kiryu sente-se como um peixe fora de água e terá de reaprender tudo com o jogador – incluindo como navegar por uma Kamurocho moderna e adaptar-se aos novos sistemas de jogo mais refinados desta versão, com elementos de RPG. Como Michael Corleone diz: “quando pensamos que estamos fora, arrastam-nos de volta”. Assim, Kiryu vê-se envolvido num conflito que inclui o roubo da fortuna do clã Tojo, uma menina abandonada e a atenção de várias fações criminosas de Kamurocho.
A narrativa deste e de outros jogos da série raramente é linear ou fácil de seguir, sendo repleta de nós e pontas soltas. Por isso, as atividades secundárias tornam-se essenciais, oferecendo uma lufada de ar fresco para aliviar a seriedade e o tom sombrio das tragédias da história principal. Num momento, estamos a ser perseguidos pela tríade; no seguinte, estamos num karaoke ou a gerir uma imobiliária. Yakuza pode não fazer muito sentido, mas é perfeito para quem tem um fraquinho pela romantização dos yakuza.
Esta versão Kiwami também ajusta o sistema de combate para se alinhar com a sua prequela, Yakuza 0 (que ainda não foi lançado na Nintendo Switch), oferecendo mais estilos e opções, como Rush, Brawler, Beast e o clássico Dragon. Além disso, o modo Majima Everywhere coloca o carismático Majima nos locais mais inesperados, desafiando Kiryu para qualquer tipo de confronto.
Embora esta versão não utilize o Dragon Engine, mantém visuais impressionantes e fluidez, mesmo que a Nintendo Switch enfrente dificuldades em acompanhar. Durante a minha experiência, encontrei soluços em momentos mais caóticos, além de problemas habituais como resolução reduzida, legendas pouco amigáveis para míopes e outros sacrifícios técnicos. Ainda assim, o facto de este jogo correr na Nintendo Switch já é uma vitória para quem procura portabilidade.
Tenho, no entanto, uma ressalva: tal como aconteceu com Dark Souls Remastered na Nintendo Switch, temo que Yakuza Kiwami fique isolado, sem o belíssimo Yakuza 0 ou o brutal Kiwami 2, prejudicando a continuidade da história de Kiryu na plataforma.
Talvez seja melhor optar pelas versões de outras consolas ou até por uma Steam Deck, caso priorizem a portabilidade. Ainda assim, quem arriscar na Switch encontrará um jogo que, embora pesado em alguns momentos, também diverte. Afinal, na vida, há que passar pelo triste para saborear o alegre.
Cópia para análise (versão Nintendo Switch) cedida pela Cosmocover.