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Um jogo que ganha por ser tudo e nada sobre o golfe e por conseguir manter os jogadores na maior das surpresas sobre o que irão encontrar a seguir.

Eu odeio golfe e quero acreditar que ninguém odeia mais golf que os criadores de WHAT THE GOLF?. Talvez não seja correto estar a tecer grandes juízos de valores sobre os outros, já que a equipa da Triband pode ser compostas por amantes do desporto mais aborrecido do mundo, mas se não existir ódio e algum ressentimento à prática de golf na produtora, existe, pelo menos, uma vontade em criticá-lo e desconstruí-lo. De outra forma, WHAT THE GOLF? não funcionaria. Desde o primeiro momento que a Triband procura brincar com as nossas expetativas. “Pensam que isto é apenas mais um jogo de golf? Enganem-se” parece ter sido a motivação da equipa e eu adoro isso. Adoro tanto isso como odeio golfe.

Os elementos basilares do que é golfe estão presentes. Essa é a chave de ouro. Existe, de facto, uma bola (algures entre as 46 gramas e um diâmetro de 43mm) e essa bola tem de ser encaminhada – ou atirada, se preferirem este verbo, talvez até mais correto para o desporto –, através da utilização de um taco próprio. A bola é colocada no chão e uma tacada leva-a a percorrer metros de distância. O objetivo é colocar a bola num buraco no menor número de tacadas possíveis. Em WHAT THE GOLF?, encontramos a mesma bola, o mesmo buraco e o mesmo taco. Todos os níveis são concluídos quando chegamos finalmente ao buraco. Para lá chegarmos, podemos ter vários mapas, pistas e até obstáculos pela frente, tal e qual como no golfe. Qual é a diferença? Nunca sabemos o que é a bola, o taco e como funcionará a pista em si.

Cada nível esconde uma surpresa e eu admiro a Triband por conseguir ter criado uma sucessão de provas onde raramente consegui adivinhar o que me esperava. Apesar de existir uma certa coerência temática, com alguns níveis dedicados a provas que envolvam futebol ou até o controlo do tempo como SUPER HOT, o que encontramos nos níveis é tudo menos o esperado. É certo que temos de alcançar o buraco final, identificado por uma bandeira sempre visível em campo, mas podemos descobrir que a bola afinal é o taco, talvez até encontrar níveis onde temos vários tacos ao mesmo tempo ou então controlamos objetos mundanos ao longo de pistas repletas de rampas, ventoinhas, minas, gatos, entre outros. Por vezes, WHAT THE GOLF? muda por completo e rejeita a sua perspetiva isométrica para apresentar níveis 2D onde a nossa bola até tem acesso a um gancho ou então a habilidade de se colar às paredes. E porque não níveis onde explodimos bancas de hotdogs? E que tal utilizar uma perspetiva na primeira pessoa?

A variedade de desafios é impressionante e é ainda mais louvável se quantificarmos o número de níveis disponíveis. Não só os níveis, como as suas variações. A campanha divide-se por várias fases distintas, onde temos de terminar o número fixo de níveis para termos acesso a um confronto contra o que podemos definir como boss – formalmente parecido com alguns desafios da série WarioWare – e abrirmos uma nova área daquilo que parece ser um laboratório. A progressão divide-se também pelo nível de conclusão de cada fase, com os níveis a apresentarem desafios adicionais. Quando concluímos um nível a 100%, temos acesso a uma coroa. Quando conseguimos todas as coroas numa zona, temos acesso a um objeto decorativo para colecionar. Noutro jogo, o desafio adicional estaria reduzido à corrida por um melhor tempo ou pontuação, e ainda que WHAT THE GOLF? utilize os mesmos tipos de desafios – como concluir um nível num determinado número de jogadas, para não dizerem que o jogo não tem semelhanças ao golfe –, o jogo vai mais longe e transforma os níveis adicionais em verdadeiras remisturas. Isto significa que cada nível divide-se em três. Não sempre, mas na maioria dos casos é o que acontece.

A campanha é extensa se quiserem completar tudo a 100% e ainda têm acesso a níveis adicionais neste relançamento e até a desafios diários, que mudam consoante o dia da semana. Apesar desta variedade de conteúdos, admiro a simplicidade e harmonia mecânica de WHAT THE GOLF? Por mais estranho que seja o desafio, e por mais que o jogo mude a perspetiva e as abordagens entre níveis, a jogabilidade mantém-se praticamente inalterada. Somos um objeto que tem de alcançar um objetivo e para tal temos a possibilidade de determinar a sua direção e força com uma barra de UI. Apontamos o nosso objeto, determinamos a sua força e deixamos a física fazer o resto. Existem níveis onde temos maior liberdade em redirecionar a bola, mas todos passam por este simples esquema de controlos: apontar, medir força, atirar.

As mecânicas são a ultra simplificação do que o desporto simboliza e acho que existe uma certa poesia na sua abordagem. O objetivo de cada desafio é idêntico, mas o absurdismo das situações que encontramos acabam por ser mais facilmente digeridas devido às semelhanças entre o desporto e o videojogo. Existe mimética, reconhecimento, facilidade de interação. A jogabilidade é desafiada pelo layout dos níveis e pela inclusão de certos obstáculos que nos obrigam a repensar a trajetória e velocidade da bola – como a introdução de ventoinhas, objetos explosivos, carros -, mas as nossas ações não são alteradas. Ainda assim, existem picos de dificuldade, especialmente se quiserem atingir os 100%, com certos níveis a alterarem-se completamente com a introdução de uma nova regra – como conseguir chegar ao final do percurso só com três tacadas?

WHAT THE GOLF? é absolutamente divertido, cómico e surpreendente. As mecânicas são simples e intuitivas, os desafios injetam variedade à jogabilidade e existe conteúdo suficiente para nos manter ocupados durante várias horas. É um exemplo perfeito do impacto positivo de boas, mas simples mecânicas com um estilo personalizado e alguma irreverência na adaptação de uma experiência real ao mundo absurdista dos videojogos. WHAT THE GOLF? não é o desporto que retrata, é algo mais, e isso aquece-me o coração. Sinto que eu e a Triband estamos em total harmonia através do nosso desdém por um desporto que nunca irei compreender. A vida é linda.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Future Friends Games.

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