Crítica – Watchmen (1ª temporada da série da HBO)

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Situada numa história alternativa onde vigilantes mascarados são tratados como foras-da-lei, Watchmen abraça a nostalgia da comic original de mesmo nome, enquanto tenta abrir novos caminhos.

(Crítica baseada nos primeiros seis episódios da temporada. A opinião final após ter visto toda a temporada segue no final do artigo)

Quando descobri que uma série baseada no mundo de Watchmen estava a ser planeada, não tive qualquer tipo de reação. No entanto, quando foi anunciado que Damon Lindelof (responsável pela co-criação da minha série favorita, Lost) seria a mente responsável pela adaptação e que a história não iria seguir nem a comic nem o filme de Zack Snyder, fiquei genuinamente entusiasmado.

Gostei muito de Watchmen (filme de 2009), mas sempre senti que apenas um filme (mesmo com uma duração maior que o normal) não é suficiente para demonstrar com sucesso todas as regras e temas complexos deste mundo. Com esta obra, Lindelof oferece uma das melhores séries de televisão estreadas este ano!

Durante os primeiros seis episódios, já é notável o que é capaz de alcançar. Reparei em alguns comentários negativos sobre o quão política a temporada é… Temos todos noção que estamos a discutir sobre Watchmen, certo? Tanto a BD como o filme estão carregados de política e mensagens sociais relevantes ainda para os dias de hoje. Logo, a série também é fortemente centrada num tom político, tratado de forma magnífica.

Hoje em dia, é um desafio quase impossível produzir algo que aborde questões sensíveis porque, bem, todos se ofendem muito facilmente. Tendo em mente a sequência de abertura do episódio piloto (brutalmente violenta), é inegável que a série é incrivelmente corajosa em retratar momentos históricos numa obra de ficção.

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Enquanto que o estilo de Snyder está ocasionalmente presente, a graphic novel tem um impacto tremendo na temporada no que toca às suas referências e à sua história. À altura desta crítica, o primeiro episódio já foi lançado, logo já têm pelo menos uma pista para perceberem onde a série se encontra no tempo e no espaço. O que mais adoro nesta temporada é, sem dúvida, a sua estrutura narrativa.

Lindelof “pede emprestado” os seus próprios truques de Lost e reutiliza a sua forma de explicar como a ação decorre, avançando e recuando no tempo constantemente. Esta cronologia não linear de eventos gera dezenas de perguntas que acabam por ser respondidas, mais tarde ou mais cedo, em pontos de enredo inovadores, inteligentes e surpreendentes.

Diria que os dois primeiros capítulos perguntam mais do que explicam, mas, a partir do terceiro episódio, todos têm revelações significativas (e mais algumas questões). Algumas respostas são completamente inesperadas e chocantes. Outras podem ser algo previsíveis, mas são contadas por uma perspetiva única. Sempre que terminava um episódio, já queria aquele botão “Próximo Episódio” para clicar (felizmente para mim, tinha esse botão).

Este desejo “à Netflix” não só está relacionado com o argumento cativante, mas com as personagens totalmente desenvolvidas e convincentes. Da mesma forma que o filme não foi simplesmente uma película genérica de super-heróis, a série lida com temas mais profundos.

Regina King é uma badass incrível como Sister Night, mas é Angela Abar que faz com que nos importemos com ela. Desde os seus princípios de vida à sua personalidade forte, tem tudo o que uma protagonista precisa. King brilha em algumas cenas emocionalmente poderosas, mas as suas sequências de ação também são impressionantes.

Sim, deixem-me já descansar certas pessoas: há lutas mais do que suficientes. Se não me engano, cada episódio tem, pelo menos, um par de grandes cenas de ação. Alguns takes longos, coreografias excelentes, mas tal como o material de origem, Watchmen não é sobre as lutas (que não deixam de ser entretenimento necessário).

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Todas as personagens são muito bem desenvolvidas. Desde os seus passados aos seus desejos, todas recebem um bom pedaço do tempo de execução, incluindo as personagens aparentemente secundárias. Ninguém está “ali só por estar”. Todas têm um papel a desempenhar, quer no plot principal intrigante, quer nas histórias laterais misteriosas eventualmente importantes.

Jeremy Irons é fenomenal como “quem provavelmente acham que ele é” e recomendo paciência e imensa atenção à sua história que parece isolada. É, provavelmente, o subplot mais interessante da temporada. Jean Smart partilha a tocha de protagonista com King a partir do terceiro episódio, interpretando alguém que todos nós conhecemos e amamos. Mais uma vez, o casting é perfeito, bem como o seu excelente desempenho.

Tim Blake Nelson faz um ótimo trabalho com a personagem secundária mais fascinante, Looking Glass. Yahya Abdul-Mateen II não tem muito para fazer como o marido de Angela, Cal Abar, mas ainda oferece uma prestação importante. Finalmente, Louis Gossett Jr dá a vibe misteriosa necessária ao “homem da cadeira de rodas”.

Damon Lindelof não se conteve no que toca às referências a outras obras. Easter Eggs ao filme e à comic estão espalhados por toda a temporada. Lindelof esconde sempre alguns elementos cruciais para a história no fundo da imagem ou mesmo à vista de todos (secretária ou escritório de alguém), logo mantenham os vossos olhos bem abertos.

Tecnicamente, tenho que elogiar o departamento do guarda-roupa, que criou vários fatos de super-heróis visualmente espetaculares. Adoro o facto da série ser pouco dependente de efeitos especiais. Há inúmeros efeitos práticos, a produção artística é fantástica e o uso de cenários reais oferece um realismo que um green screen nunca consegue ficar perto de alcançar. A banda sonora é viciante e até mesmo útil para entender antecipadamente o que a história nos reserva (se já viram o primeiro episódio, devem pesquisar a origem do título do epísodio).

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Watchmen é uma das melhores séries estreadas este ano! O seu episódio piloto assemelha-se a Lost, onde dezenas de perguntas são feitas e quase nenhuma resposta é dada, criando uma vontade tremenda em querer descobrir o que se passa e despoletando um interesse inegável. Até agora, apenas tenho um problema menor com uma das histórias secundárias que não parece estar a desenvolver-se ao mesmo ritmo ou com a mesma preocupação que as restantes. Tudo o resto é praticamente perfeito.

Desde o elenco fenomenal às personagens excecionalmente bem desenvolvidas e cativantes, Damon Lindelof é capaz de entregar mais uma série fantástica. A qualidade técnica é impecável como era esperado, mas é a visão original de um pós-Watchmen (comic/ filme), através de uma estrutura narrativa impressionamente e entusiasmante, que me faz render ao seu sucesso.

Se são fãs do filme de Snyder ou da história da BD, definitivamente não percam esta série! Se não têm qualquer experiência passada com este mundo, então esta série não vai parar para explicar o que aconteceu ou como a sociedade chegou à situação em que se encontram.

Opinião final: Nunca pensei que iria reler a minha crítica original e rir-me tanto de mim próprio por ter pensado que certas personagens ou histórias secundárias em particular não teriam muito interesse ou impacto na narrativa. O meu único problema em relação aos primeiros seis episódios girava em torno de um subplot envolvendo Lady Trieu (Hong Chau), que se estava a desenvolver lentamente e era a única história que se encontrava bem longe das restantes. Sendo assim, a minha opinião geral sobre a temporada dependeria muito de como os últimos três episódios atassem todas estas histórias…

Damon Lindelof é um génio. Sabem quando algo é tão incrível que começamos a ficar um bocado irritados pelo quão impressionante é? Esta sensação apoderou-se de mim no penúltimo capítulo, A God Walks into Abar. É um dos melhores episódios baseados em exposição da história da televisão! Olhando para trás, agora já posso afirmar que todas as cenas importam. Todas as linhas de diálogo, todos os pequenos detalhes. Se Game of Thrones abandonou toneladas de narrativas e profecias na sua última temporada, Watchmen faz exatamente o oposto: literalmente junta todas as histórias, grandes ou pequenas, de forma sublime.

Se fazem parte do grupo de pessoas que desistiram nos primeiros episódios devido à sua ambiguidade, então perderam as respostas para as perguntas que vos fizeram deitar a toalha ao chão. Perderam a temporada com um dos melhores argumentos de sempre. Paciência é uma virtude. Todos deviam voltar e assistir à série novamente, antes de tomarem decisões impulsivas. +

Prometo: todas as histórias fazem sentido e todas são misturadas da maneira mais perfeita, mind-blowing e cativante possível. Do idoso na cadeira de rodas ao paradeiro de Dr. Manhattan ou Adrian Veidt, não ficarão desapontados. O final vai gerar muita conversa durante anos ou, pelo menos, até uma inevitável (?) segunda temporada.

Se, depois de seis episódios, não conseguia afirmar com total confiança que Damon Lindelof tinha entregue uma das melhores séries do ano, agora consigo. Watchmen não é apenas a melhor série de 2019, mas também uma das melhores temporadas de estreia que alguma vez vi. Desde a sua escrita de fazer cair o queixo às prestações fantásticas do elenco, possui mais do que apenas um par de episódios quase-perfeitos. Pode assustar algumas pessoas devido ao seu início vago, mas os últimos episódios compensam o tempo gasto a pensar sobre as inúmeras questões.

Se são fãs da banda desenhada ou do filme de Zack Snyder, têm que experimentar a adaptação televisiva. Certifiquem-se apenas que têm conhecimento prévio deste mundo porque Lindelof não ocupa tempo a apresentar como as coisas funcionam…

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