Warhammer 40,000: Space Marine 2 está sempre preparado para nos entregar momentos de ação, atrás de ação, numa campanha linear, curta e explosiva. E apesar de não ser extraordinário lembra-nos que jogos como este começam a fazer falta.
Sensivelmente a meio da minha jornada ao controlo de Titus, o protagonista de Warhammer 40,000: Space Marine 2, comecei a sentir um infeliz aborrecimento. E digo-o desta forma porque esta sequela, cujo original foi lançado em 2011 para a PlayStation 3 e Xbox 360, introduz-se com uma sequência inicial incrível, onde consegue, quase sem esforço, tocar em todas as teclas que eu considero como essenciais num jogo de ação. Mas essa força perdeu-se com o tempo, a rotina instalou-se e mesmo com uma duração relativamente curta, sinto que Warhammer 40,000: Space Marine 2 podia ter feito muito mais com a sua campanha linear, visualmente pujante e tão fácil de amar como aquela que apresenta.
Warhammer 40,000: Space Marine, o original, é uma falha no meu backlog. Um jogo pelo qual nunca tive interesse, tão pouco alguma vez me senti atraído pelo universo Warhammer em constante expansão. Se pequei na minha experiência com a franquia da Games Workshop, o mesmo não posso dizer do contacto que mantive com o género de ação, particularmente com a série Gears of War e outros dos seus clones. A comparação entre a série de Marcus Fenix e a nova aventura de Titus é incontornável, ambos partilhando um ADN muito específico no que toca à abordagem ao género, mas também pela iconografia bélica, a carnificina cartoonesca e a masculinidade desmedida do seu elenco.
Warhammer 40,000: Space Marine 2 é desenvolvido pela equipa Saber Interactive, que trabalhou anteriormente em World War Z e em Insurgency: Sandstorm, usando o seu motor de jogo proprietário, o Swarm Engine, também usado em SnowRunner. Uma escolha interessante usada aqui de fora bem consciente dado o espetáculo que se apresenta, explorando em grande capacidade a direção artística deste universo e uma quantidade bem grande de inimigos no ecrã.
Entrar em Warhammer 40,000: Space Marine 2 foi emocionante. Mesmo que não seja a primeira vez que entro no universo Warhammer, agora pude sentir a energia crua, visceral e hiper-gótica da franquia, que transpira um ambiente opressivo e deprimente, numa guerra sem fim, 40 mil anos no futuro, onde ruínas, lendas e mitologias existem, teoricamente, não apenas num passado dos eventos do jogo, mas num futuro fictício relativo ao nosso presente.
Warhammer 40,000: Space Marine 2 tem um forte início ao introduzir-nos o código de honra de Titus, que se encontra numa missão suicida contra os inimigos do Império, uma fação de aliens os Tyranids, muito semelhantes a Xenomorphs, mas raivosos, com diferentes classes e a habilidade de ostentar armas de disparo. Warhammer 40,000: Space Marine 2 joga-se como um shooter, mas também como um hack and slash, permitindo a utilização de armas e espadas para que possamos disferir a justiça do Império em confrontos de proximidade ou à distância.
As primeiras horas de jogo são fantásticas e contam com algum progresso ao desbloquearmos novas e mais poderosas armas – de difícil distinção, diga-se de passagem – assim como duas habilidades especiais dedicadas, atribuídas a níveis específicos da jornada. Numas vezes podemos usar um power up que nos dá alguma invencibilidade e vida, noutras temos um jetpack para ascender e navegar entre níveis mais verticais.
Limpar inimigos à dúzia com a nossa espada, serra ou martelo, ou usar pistolas e rifles, é a nossa rotina enquanto navegamos entre salas e áreas abertas ligadas por corredores, elevadores e portões à espera de uma ativação para abrir. Apesar da dimensão destas área e do número impressionante de inimigos em campo, Warhammer 40,000: Space Marine 2 nunca se distancia muito da fórmula que lhe dá vida e mantém-se linear até ao final. No fundo, é um jogo de ação em formato “corridor shooter”, onde sequências mais cinematográficas ganham mais destaque do que as escolhas do jogador, cujos objetivos são apresentados como se existissem alternativas ao seu caminho dourado, mas não são mais do que ilusões. Esta estrutura não é problemática e o jogo sabe como aproveitá-la, mas vemos os seus limites quando a exposição narrativa é relegada às chamadas entre personagens, como os nossos dois irmãos de combate Chairon e Gadriel, enquanto tudo explode à nossa volta.
Se pareço aborrecido nesta descrição, é porque infelizmente fui mordido por esse bichinho e fiquei com legitima pena de a meio desta jornada não estar completamente investido ou com vontade de continuar mais uma missão. É um facto que o primeiro e o último ato são extraordinários e uma injeção de adrenalina e valentia enorme, com a jornada pessoal de Titus a ganhar forma lado a lado com a ameaça que acompanha toda a campanha. No entanto, a simplicidade e redundância das mecânicas de jogos, apesar de divertidas, revelaram-se pouco diversas à medida que novas hordas de inimigos nos eram apresentadas. É um caso onde o jogo é tão dedicado à experiência que quer proporcionar que acaba por denegrir tudo o resto.
Sinto que Warhammer 40,000: Space Marine 2 podia ter aproveitado mais no que toca a variedade de exploração de ambientes e de mecânicas de combate, assim como uma limpeza visual de elementos ruidosos que dificultam a leitura da linguagem visual ou até a absorção narrativa do jogo.
Não há dúvidas que Warhammer 40,000: Space Marine 2 é um jogo objetivamente bonito, apesar dos montes de corpos trucidados que apresenta espalhados pelas ruas de complexos industriais e mosteiros góticos e grandiosos. As paisagens animadas de efeitos visuais de uma guerra eterna e os campos cobertos por centenas de inimigos são espetaculares. E sequências entre momentos de ação, onde interagimos com outras personagens e temos algumas cinemáticas de exposição, até conseguem ser imersivas ao colocar-nos num ambiente de guerra, onde soldados, tanques e mechs se movem a nossa volta e se preparam para mais uma batalha. Infelizmente, tudo isso acaba por ser um mero recheio, que nem sempre é arrastado para o combate de momento para momento.
A quantidade de inimigos no ecrã impressiona quando os vemos a rodearem uma cratera ou um nível mais baixo e estamos num ponto alto a espera que nos ataquem. Contudo, isto é mais uma ilusão criada pelo jogo. As hordas chegam-nos aos “pingos”, em números reduzidos de uma, no máximo, duas dezenas de inimigos no ecrã, extremamente fáceis de limpar, dando-nos espaço para nos focarmos nos dois ou três inimigos de classe mais elevada onde podemos usar os nossos brutais ataques finalizadores. Durante o combate, existe alguma urgência na gestão de balas e até mecanismos de contra-ataque, que surgem com indicadores visuais irregulares, mas nem esses ingredientes foram o suficiente para me afastar daquele sentimento de “a ver se este nível acaba para guardar o jogo e ir fazer outra coisa”.
A história também não é propriamente extraordinária. É a definição de “OK”, que talvez seja algo que diga mais aos fãs de Warhammer, com as suas referências e revelações na sua reta final, um algo que lamento porque poderia ter sido aquele catalisador necessário para querer saber mais sobre este universo futurista e a sua mitologia fantástica e religiosa, para lá do que é apresentado na sua tela de fundo e dos seus adereços.
Felizmente, Warhammer 40,000: Space Marine 2 não ocupou muito do meu tempo, a sua campanha é relativamente curta, por volta das 10 horas, e para quem é fã e tiver amigos com o jogo, é possível jogar em dois modos online, um cooperativo e outro competitivo, que tive pouco ou nenhum interesse em explorar.
Warhammer 40,000: Space Marine 2 é, no entanto, um bom jogo no geral. Evocou sentimentos que há muito que não tinha e, a par com o recente Astro Bot, foi uma excelente quebra no ritmo dos jogos que se arrastam e nos prendem ao longo de centenas de horas. A verdade é que mesmo que não seja perfeito, jogos como Warhammer 40,000: Space Marine 2 fazem falta.
Cópia para análise (versão PC) cedida pela Ecoplay.
GeForce RTX 4090 GAMING OC 24G usada neste jogo cedida pela Gigabyte.