Vodafone Paredes de Coura 2022, Dia 5 – A ermida bucólica, a armada francesa e os Pixies a validar o modelo

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16 a 19 de agosto de 2023 marcados no calendário. Até para o ano!

Foi na Ermida da Nossa Senhora da Purificação, em Formariz, que, tal como em 2019, se fez a conferência de imprensa de encerramento do Vodafone Paredes de Coura. Desta vez, com a Vodafone Music Session que serviu de intróito a cargo de Manel Cruz, homem de múltiplos projetos mas constante tronco nu, hoje apropriado pelo calor que ao meio-dia já se apresenta.

Em frente à capela que comanda o topo do monte em Irijó, Cruz escolhe tocar de frente para Cristo, e de Vida Nova, álbum a solo do homem de Vale de Cambra, canta “Beija-Flor”, apropriada para o bucólico cenário dos muros de granito com musgo à sombra das árvores onde se sentam os outros presentes. No seu estilo de conversa sobre qualquer coisa que lhe venha à cabeça, Manel Cruz fala da sua inspiração e desinspiração, no fundo a mesma coisa para ele, toca “Ginger Lynn”, que é interrompida num momento inusitado em que é invadida por um drone especialmente zumbidor, “meio tom acima” segundo o artista. Por último, a esperança de que o confinamento possa ter servido como uma espécie dos Descobrimentos, mas agora interiores.

Tempo em seguida para a conferência de imprensa com a cara do festival, João Carvalho, e Leonor Dias, diretora de marca e comunicação da Vodafone. Sorrisos cansados mas felizes com o andar da carruagem, anunciada a edição mais bem sucedida de sempre e revelada a renovação dos votos entre festival e empresa, cuja conversa sobre o tema terá demorado três minutos – um para dizer que sim e dois para abrir o champagne.

Horas depois, os La Femme dão concerto bem mais habituado a estar em palcos grandes dos que os dos L’Impératrice, com um apoio simpático do público de fim de tarde aos da linda Biarritz. De um estilo de influências, o adjetivo tarantinesco lido há tempos é capaz de ser dos mais felizes, os seis elementos (curiosos os três teclados dispostos à frente) vão das imparáveis “Sur la Planche 2013” e “Antitaxi”, do estreante Psycho Tropical Berlin, vencedor de um Victoires de La Musique, à mais tranquila “Oú va le Monde”. Sem ilusões que a cultura francófona volte a ser a maior influência estrangeira em Portugal com foi até aos idos de 60/70, o facto de tantos vindos de lá queiram estar cá, a tempo parcial ou total, ajuda a que esta interação seja cada vez mais significativa ao nível dos concertos.

Mike Hadreas, ou Perfume Genius para o mundo da música, seria esperado por uma imensa minoria, no caso até mais pequena do que à partida se esperava, com a surpresa da bateria e baixo altíssimos por cima da voz única que é o carácter maior do projeto, e que quando se entra em modo balada se torna superlativo. Perfume Genius é de caretas o falsete mais marcante do festival, mas, mesmo em silêncio, diverte-se a dançar sozinho em palco, o que até gera episódio em que dá um jeito nas costas e faz alongamentos para recuperar a forma. Humano como nós. No fim, “Queen” é grande final e hino para a pequena grande multidão.

Perdido Yves Tumor para um triste momento futebolístico, o regresso à vila é feito perante o panorama do mar de carros que invade todos os cantos. Sinal de que sábado é dia de romaria (quiçá alguns vieram diretos da Senhora das Dores, em Monção, ou Senhora da Agonia em Viana do Castelo), claramente com um objetivo – Pixies.

O modelo de festival com vários nomes emergentes (perdemos a conta às estreias em território nacional), que “obriga” a viver o Vodafone Paredes de Coura durante vários dias mesclado com nomes que arrastam milhares num ou dois dias, parece resultar feliz, até pelos números adiantados pela organização da Ritmos, e os Pixies dão prova de vida forte, num concerto que nos pareceu mais pujante do que a memória do de 2014 no Primavera Sound do Porto, talvez ainda marcada pela saída traumática de Kim Deal. E os Pixies têm o centro do seu lado, mas correm riscos sérios pelas alas, entre a fauna indígena do festival que procura sempre o novo e trendy e facilmente trata com desdém nomes que arrastam multidões da nostalgia, e os adolescentes e pós-adolescentes que de forma não irónica perguntam – história verdadeira: “Quem são os Pixies?”.

Se a falta de interação com o público causa estranheza nestes últimos pelo relato recebido no fim, em termos musicais o concerto de Black Francis e seus muchachos revela facilmente que metê-los numa prateleira poeirenta é injusto, até desonesto. “Wave of Mutilation” e “Debaser”, mais lentas e artísticas no Taboão que a urgência crua em disco. “Gouge Away” e “Gigantic” mostram um piloto automático em bom, rodas da engrenagem a tocar sem precisar de olhar para os instrumentos. “Vault of Heaven” é Pixies século XXI que mostra relevância para a obra fresca, “Here Comes Your Man” é o que é, música que extravasou dos topes alternativos para a consciência coletiva, e há ainda “This Monkey Gone to Heaven” e “Bone Machine”. As músicas de Bossanova, para mal dos nossos pecados, são quase sempre ausência em concerto (apenas a magnífica “Ana”), enquanto que Doolittle teve seguramente a maioria absoluta das faixas tocada para gáudio de muitos. E houve ainda o coro coletivo de “Where Is My Mind?” antes do fim.

Balões gigantes largados no público de forma meio tonta, meio querida, e vídeo de despedida projetado com Kate Bush e LCD Soundsystem a acompanhar. 16 a 19 de agosto de 2023 marcados no calendário. Até para o ano!

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