Vodafone Paredes de Coura – Dia 3: A olhar para as estrelas

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São Pedro tem sido clemente com o Vodafone Paredes de Coura nos últimos anos, e ontem não foi exceção. O sol e calor receberam-nos com generosidade a meio da tarde. Tempo de usar óculos de sol, e é isso mesmo que Jonathan Wilson traz quando ele e as suas melenas de cabelo chegam ao palco pouco depois da hora marcada (19h25). Os atrasos ligeiros seriam, de resto, uma constante nesta sexta-feira.

Músico de fino recorte, com colaborações que chegam ao nível elísio de Roger Waters, e mais reconhecido como colaborador de Father John Misty, Wilson esteve no festival em nome próprio, prestigiado com Fanfare e, mais recentemente, Rare Birds, disco de 2018 que foi a base da atuação. Rock entre o atmosférico e alguns laivos de psicadelismo, foi banda sonora para fechar os olhos enquanto se esteve deitado na encosta.

Black Midi – Créditos: Emanuel S. Canoilas

Já os Black Midi trouxeram um dos discos do ano de 2019 ao Vodafone Paredes de Coura, o impronunciável álbum de estreia Schlagenheim. Proposta bem distante da anterior, feita de mistura de estilos, mas passível de definição como rock experimental, tem vindo a ter boa recetividade pela crítica, sendo definido como uma celebração da sua criatividade. Há que dizer que isso não passou bem para o concerto ao vivo. De discurso minimalista, e com interpretação ao vivo que torna discreta algumas das arestas mais aguçadas do álbum, falta aqui alguma tarimba de enfrentamento do espetador pagante. Talvez na Galeria Zé das Bois, no escurinho do aquário, seja diferente daqui a uns meses.

Os Deerhunter são caso bem diferente em termos de histrionismo. Bradford Cox, o vocalista/mentor, é objeto de culto/ódio, e as suas múltiplas explorações têm, ao longo da última década, arrecadado reações polarizamtes. Chegados ao palco com um azarado “Olá Porto”, sinal de alerta para os muitos que estão atentos para os perigos do portocentrismo, mesmo com os seus 115 quilómetros de distância para o teatro dos sonhos a que alguns chamam de Couraíso.

Pé esquerdo, e verdade é que Halcyon Digest já tem os seus anos. Porém, Cox estava em dia de se esforçar, indo buscar referências de música portuguesa surpreendentes, como os Street Kids ou o compositor experimental Rafael Toral. É combinação estranha, mas única. Há tralha, mas também há canções de belo porte, como “Helicopter”, ou final atmosférico de “Coronado”, com muito saxofone, instrumento raro de se ouvir por estes lados.

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Deerhunter – Créditos: Emanuel S. Canoilas

Connan Mockasin era o nome pelo qual alguns suspiravam em dia de cartaz equilibrado e diversificado do Vodafone Paredes de Coura. Mesmo nunca tendo chegado de novo às alturas de um Forever Dolphin Love, esse LP perseguido a valores múltiplos do original, a expetativa era alta. Ao vivo a coisa dilui-se, fator definidor do dia até ao momento no palco mais pequeno. Com público numeroso qb, mas caloroso, Mockasin entrou com “Charlotte’s Thong” e deu o tom para uma atuação que merecia mais lugares sentados e calminha para apreciar as guitarras planantes e voz melódica.

Em dia mais calmo que explosivo, os Spiritualized seriam os cabeças de cartaz do dia, pelo menos na teoria. Os soberanos do space rock não demoraram a mostrar a maestria no domínio dos respetivos instrumentos.

Aula de respeito e contemplação dada por Jason Pierce e sua banda e coro gospel, que tocaram temas como “Come Together”, do seminal Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space, o tal álbum que derrotou OK Computer como disco do ano para a NME,em 1997.

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Spiritualized – Créditos: Emanuel S. Canoilas

Com público atento, e em momentos como “Soul on Fire” devidamente colaborante, com palmas a responder ao final de harmónica em punho de Jason Pierce, num dos raros momentos em que sai mais do seu habitat resguardado a um canto, o tempo passou-se bem e havia a sensação de se estar no sítio certo, num festival que se tornou para gente sentada, olhando para as estrelas que não se vêm com as luzes da cidade em momentos como “A Perfect Miracle”, do mais recente And Nothing Hurt. Tem-se a boa lata de tocar “Oh! Happy Day” para fechar o estaminé. J. Spaceman sabe bem o que faz.

Aproveitem para recordar as nossas reportagens ao primeiro e segundo dia do Vodafone Paredes de Coura.

Fotos de: Emanuel S. Canoilas

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