The Parenting destaca-se pela forma como transforma o caos familiar num espetáculo cativante, amplificado por um elenco em estado de graça.
Sem estar particularmente familiarizado com o trabalho do realizador Craig Johnson (The Skeleton Twins) ou com a escrita do argumentista Kent Sublette (Saturday Night Live), as expetativas para The Parenting baseavam-se sobretudo na premissa promissora e num elenco de peso. O conceito encaixa perfeitamente na sempre deliciosa fusão entre horror e comédia, uma mistura de géneros difícil de equilibrar, mas que, quando bem executada, pode proporcionar uma experiência memorável.
The Parenting segue o jovem casal Rohan (Nik Dodani) e Josh (Brandon Flynn), que planeia um fim de semana no campo para apresentar os seus pais. Contudo, à medida que as tensões começam a escalar entre os mais tradicionais Sharon (Edie Falco) e Frank (Brian Cox) e os mais descontraídos Liddy (Lisa Kudrow) e Cliff (Dean Norris), a família rapidamente percebe que a casa alugada – gerida pela excêntrica Brenda (Parker Posey) – esconde um segredo sombrio: a presença de um espírito com 400 anos.
Não há nada de particularmente inovador ou revolucionário em The Parenting. A narrativa segue as fórmulas habituais de histórias de casas assombradas, recorrendo a sustos previsíveis, demónios possessivos e até à inevitável cena de regurgitação. Johnson não esconde as suas influências, replicando muitos dos “truques” cinemáticos já vistos em incontáveis outras obras do género. No entanto, o filme destaca-se pelo seu equilíbrio fenomenal entre horror e comédia, sustentado por um argumento altamente relacionável e por um elenco recheado de química natural.
Tematicamente e narrativamente, The Parenting gira em torno de uma situação que muitos espetadores reconhecerão como um marco desconfortável da vida adulta: a primeira vez que se apresentam os pais à alma gémea e, claro, aos pais da mesma. Desde o nervosismo da ocasião até ao desejo utópico de que tudo corra melhor do que o esperado, o guião de Sublette, aliado à visão precisa de Johnson, capta com exatidão as tensões, os silêncios constrangedores e as mudanças súbitas de comportamento que tornam estes encontros tão caóticos quanto inesquecíveis.
A grande força de The Parenting reside precisamente na exploração das dinâmicas familiares e na forma como aborda o tema de forma genuinamente cómica. O humor funciona porque se encontra enraizado na realidade: todos conhecemos famílias em que os pais são mais rígidos ou mais “mão leve”, casais onde um é mais relaxado e o outro mais stressado. A obra desmonta a ideia de que um laço sanguíneo significa automaticamente harmonia e adoração mútua, sublinhando a importância da honestidade e da aceitação das diferenças.
A necessidade de validação parental é outro dos temas mais importantes, demonstrando como a pressão para agradar pode levar a inseguranças desnecessárias e a um medo irracional de julgamento. The Parenting trabalha esta questão de forma acessível e inteligente, criando situações ressonantes com todo o tipo de audiências. O elemento sobrenatural serve como uma semi-metáfora eficaz para a forma como eventos externos podem ajudar a redefinir relações familiares, forçando as personagens a unir-se em torno de um bem comum e permitindo que as suas verdadeiras personalidades venham ao de cima.
É aqui que o elenco brilha. Curiosamente, apesar de o foco narrativo estar em Rohan e Josh, as prestações de Dodani (Twisters) e Flynn (13 Reasons Why) acabam por ser as menos marcantes – não por falta de competência, mas porque os pais roubam por completo o espetáculo. Norris (Breaking Bad) entretém simplesmente com o seu riso contagiante, Kudrow (Friends) exibe um timing cómico irrepreensível, Falco (The Sopranos) oferece uma expressividade tal que nem precisa de abrir a boca para se saber o que a personagem pensa e Cox (Succession) domina o ecrã com a sua presença magnética, mastigando cada cena como se fosse um banquete cinematográfico.
Embora sólido e extremamente divertido, The Parenting teria beneficiado de mais tempo de ecrã para um Cox altamente possuído e menos para personagens secundárias sem impacto real na narrativa ou nos arcos principais. Um outro problema mais frustrante é a falta de maior abertura para explorar um dos conflitos mais interessantes: a possível tensão familiar em torno do casal homossexual. A obra levemente traz a dúvida para a mesa, mas opta por eventualmente ignorá-la por completo, evitando qualquer potencial conflito dramático. Em 2025, não há razão para continuar a tratar estas temáticas como tabu e a decisão de jogar pelo seguro retira ao filme uma camada de profundidade que poderia ter elevado ainda mais a sua relevância emocional.
VEREDITO
The Parenting destaca-se pela forma como transforma o caos familiar num espetáculo cativante, amplificado por um elenco em estado de graça. As interações entre os personagens são carregadas de energia e autenticidade, tornando os conflitos, os mal-entendidos e até os momentos mais absurdos credíveis e hilariantes. Uma obra extremamente relacionável que, apesar de não reinventar o género, consegue encontrar o seu próprio charme através do retrato genuíno das relações familiares – imperfeitas, tensas, mas, no fundo, unidas por amor pelo próximo.