Um metroidvania diferente, com uma aposta sólida no combate aéreo e na utilização de cartas, que acaba por cair em algumas das armadilhas do género.
Se olharmos para Rise & Shine, o primeiro projeto de Super Mega Team, é possível compreender o passo lógico que os levou a abraçar o género metroidvania com todas as suas forças. Com uma jogabilidade assente na ação e na perspetiva sidescroller, ao sabor dos maiores clássicos Run n Gun do género, Rise & Shine destacou-se pela sua jogabilidade frenética e focada na dificuldade, na destreza dos controlos e na rapidez da respostas dos jogadores. Se a ação estava, até certo ponto, dominada, a Super Mega Team precisava de dar um passo em frente e reaplicar o que aprendeu em Rise & Shine para criar algo diferente, mas novamente próximo de uma fórmula clássica e facilmente reconhecível. Assim nasceu The Knight Witch.
Ao contrário de Rise & Shine, o regresso da Super Mega Team não se foca apenas em níveis repletos de ação e plataformas. The Knight Witch é um metroidvania, o que pressupõe um foco na exploração e na descoberta de habilidades únicas, num mundo extenso e dividido por biomas distintos. A realidade de monstros mecânicos e bruxas guerreiras é de cores fortes, personagens adoráveis e zonas que combinam o lado mais fantástico da sua narrativa com as necessidades mecânicas do género, colidindo num mapa interligado, desafiante – com hordas de inimigos e armadilhas que requerem alguma destreza para que as consigamos evitar -, mas também convidativo devido ao número de segredos e personagens que podemos salvar.
The Knight Witch mantém, no entanto, o ADN que moveu o primeiro projeto da Super Mega Team, mas agora sobre uma nova e mais curiosa pele. Apesar do foco na ação e na movimentação da nossa bruxa, The Knight Witch é uma combinação entre jogo de plataformas e um twin-stick shooter, que, mesmo pouco original, funciona muito bem no mundo criado pela Super Mega Team, onde o combate aéreo ganha destaque em confrontos que exigem uma excelente mestria do sistema de mira, mas também dos movimentos da nossa protagonista. A experiência é a esperada de um twin-stick shooter, mas aprecio a inclusão de dois modos de disparo: um manual, onde temos de apontar e disparar, e outro automático, onde ao pressionarmos o botão de disparo e a nossa bruxa ataca diretamente os inimigos, mas com menor dano. Esta adição é o suficiente para auxiliar os jogadores em combate, refletindo sobre o tipo de confrontos que encontramos em jogo, onde aprendemos que é tão importante saber quando e onde disparar, mas também que temos a alternativa em não pensarmos no nosso ataque e focar-nos no desvio de ataques inimigos – com The Knight Witch a transformar-se rapidamente num bullet-hell em alguns dos confrontos contra bosses.
O que torna o sistema de combate de The Knight Witch mais único é a sua combinação entre confrontos aéreos rápidos e o sistema de cartas que dá vida ao leque de habilidade da nossa bruxa. Ao longo da campanha, temos a possibilidade de descobrir e recolher novas cartas que podemos adicionar ao nosso baralho. Estas cartas funcionam como ataques especiais e se tivermos os pontos de magia suficientes, podemos utilizá-las em combate, sejam ataques rápidos, poderes defensivos ou até as habilidades mais poderosas dos bosses que derrotámos. Apesar da natureza frenética de The Knight Witch, o sistema de cartas funciona como qualquer outro, no sentido em que temos o nosso baralho e as cartas são baralhadas e acedidas aleatoriamente. Quando utilizamos uma carta, esta é descartada para o fim do baralho e temos acesso a uma nova opção em combate. Ao longo da campanha, podemos aumentar o número de pontos de magias e sermos um pouco mais arrojados na construção do nosso baralho, com The Knight Witch a disponibilizar constantemente bons de gravação onde podemos gerir o nosso baralho à vontade.
As cartas não são, no entanto, o único sistema de evolução em jogo. Como uma aprendiz das lendárias bruxas guerreiras, a nossa protagonista tem a habilidade de criar ligações com as pessoas que acreditam em si. É esta a origem do seu poder mágico. Em The Knight Witch, temos a oportunidade de salvar e encontrar várias personagens enclausuradas pelo exército mecânico. Ao resgatarmos os nossos amigos, estamos a criar novas ligações pessoais e a aumentar o nosso poder em simultâneo, que culmina em melhorias permanentes para a nossa bruxa – como pontos de ataque, de magia, entre outros. Não é inovador, mas funciona tematicamente e sempre incentiva os jogadores a apostarem na exploração, visto que a evolução da protagonista depende da descoberta de novos habitantes que nem sempre estão à vista.
No fundo, The Knight Witch é um saudável metroidvania que vive através do seu sistema de combate e direção de arte. Não é um jogo memorável, mas é divertido em pequenas doses, especialmente se dominarem o sistema de cartas e habilidades que a Super Mega Team disponibiliza ao longo da campanha. A jogabilidade twin-stick shooter, aliada aos momentos bullet-hell, poderão ser intimidantes, mas a dança entre ação e perceção espacial é divertida e valerá a pena para os fãs do género.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Team 17.