O futuro é agora, para a lendária saga de combate.
2024 começou em altas com o lançamento de um dos jogos mais aguardados do ano… e este cumpriu com as expectativas. É verdade. De repente, no espaço de sensivelmente seis meses, os “3 grandes” jogos de combate arcade fizeram o seu primeiro lançamento a pensar nas consolas de nova geração e, pela terceira vez, cá estou eu para fazer a minha apreciação. Um pouco por alto, e ainda antes de avançar para os detalhes, posso dizer que Tekken 8 é um ótimo jogo, cujas 32 personagens jogáveis disponíveis o fazem brilhar mais intensamente.
Novo jogo, novas histórias para contar
Depois da aparente conclusão da saga Mishima com um confronto geracional entre Heihachi, Kazuya e Jin, onde é revelada a trágica história do sangue amaldiçoado que corre na família, eis que temos novos desenvolvimentos. Denominado de “O Despertar da Escuridão”, este novo capítulo explora a luta de Jin contra o seu pai para livrar o mundo da tirania de Kazuya (que tem sob seu controlo a G-Corp), enquanto no processo aprende mais sobre os seus poderes demoníacos.
Pode-se dizer que, apesar de parecer que andamos às voltas, à semelhança de Tekken 7 há desenvolvimentos interessantes que trazem progressividade à mitologia do universo de Tekken. E a luta de Jin consigo próprio, por causa das repercussões que o despertar da maldição Devil Jin lhe traz, é deveras interessante, bem como o seu desfecho (mas sem spoilers). A história é fluida e sequências cinemáticas são brutais, principalmente as de combate, mas (e há sempre um mas) este modo peca por ser extremamente curto – acho que nem precisei de 4 horas para completar os 15 capítulos.
Posto isto, aconselho a começarem por aqui. Para quem não é jogador habitual, tem um contexto sobre algumas das personagens. Quanto aos fiéis, não só são presenteados com mais elementos mitológicos, como podem usar este modo para experimentar grande parte das personagens presentes no jogo. Dentro deste modo, para além dos combates normais, há também um modo de combate espacial 3D, contra vários adversários em simultâneo, que é interessante (ainda que pudesse estar melhor desenvolvido). Se ainda não estão convencidos, posso adiantar que, ao terminar este modo, ganham 10 milhões de créditos que podem usar na personalização de cada lutador ao vosso gosto.
Ainda dentro dos modos cinemáticos, têm também os clássicos episódios de personagem, desbloqueáveis ao fazer cinco combates distintos com cada uma delas (e ganham 1 milhão de créditos por cada uma). Não fiz todas, mas acho que os cinemáticos associados valem a pena, pois acrescentam informações de qualidade a cada uma das personagens, quer a nível de propósito, quer a nível de motivações – se bem que com sentido de humor.
O jogo offline em Tekken nunca foi tão completo
Fora os modos de história, existem duas secções, offline e online. Dentro da secção offline, têm os clássicos modos Arcade Battle, VS, Practice e Tekken Ball. Para além desses, junta-se um modo campanha denominado Arcade Quest, para o qual vão ter de criar o vosso avatar, com o objetivo de progredir e subir de rank, através de batalhas em salões de arcade, até chegarem aos “mundiais”. Ainda que não seja fã do design dos avatares, nem fã do “mundo” por não ser tão interativo como o modo semelhante em Street Fighter 6, nem tão diverso como o modo Invasions em Mortal Kombat 1, acho a ideia bem pensada e bem conseguida, pela forma como foi desenvolvida e polida, criando menos fadiga que os modos semelhantes nos jogos que referi acima. É um ótimo meio para novos jogadores apanharem o fio à meada no processo de aprender a jogar Tekken, enquanto desbloqueiam itens de personalização de personagem e avatar.
Ao começar a Arcade Quest, não estou certo exatamente em que ponto desbloqueiam um novo modo chamado Super Ghost Battle. Para mim, o modo com mais potencial do jogo a longo prazo, pelo simples facto de empregar a inteligência artificial para aprender o estilo de combate de jogadores reais. Com isto são criadas réplicas de combate distintas, ao contrário do que nos é oferecido quando jogamos contra a consola, que costuma ser mais sistemático e previsível, contra as quais podemos lutar. Para além disso, à medida que lutamos neste modo, a “nossa réplica” também está a aprender, sendo que, depois, podemos lutar contra a nossa própria sombra. Este modo, à semelhança de Arcade Quest, também nos permite desbloquear itens colecionáveis.
Muitas opções para quem quer jogar online
Já dentro do secção Online têm o Fight Lounge, cujo design é o mesmo que em Arcade Quest e Super Ghost Battle, onde se podem encontrar e lutar ou jogar Tekken Ball contra jogadores de todo o mundo. Para além deste, têm também Ranked Match, Quick Match, Player Match e PS5 Tournaments. Como ávido fã de single player ou jogar contra amigos (presencial), não investi muito tempo nesta secção, mas não peca por ter algo em falta.
Os melhores gráficos da história do Tekken
Face ao que seria de esperar, os gráficos de nova geração satisfizeram bastante, principalmente nos cinemáticos, que são eye-candy. No entanto, comparações com jogos da mesma linha são inevitáveis, e é preciso admitir que, quando comparando com MK1, fora dos momentos cinemáticos, Tekken fica um pouco aquém. Talvez seja o excesso de saturação no tratamento de cor ou contraste em demasia, mas a verdade é que, durante o combate, nota-se algum distanciamento com o realismo que é apresentado fora de combate. No que toca a efeitos visuais, creio que há um bom balanceamento causa-efeito com as ações de combate em causa e a renderização visual está perfeita.
O design das personagens está, na sua generalidade, bem conseguido, tanto que raramente sinto que estou a fazer um melhor trabalho quando personalizo as mesmas. Ainda dentro do design das personagens, o dinamismo das roupas e acessórios durante os combates é quase sublime, se calhar a melhor dentro do género. A forma como se move com o movimento das personagens (em standby ou em combate), e até com o vento em locais ao ar livre, não podia estar melhor. E o facto dos campos de batalha serem, também eles, dinâmicos, ao ponto de “reagirem” a determinados impactos, acrescenta valor à experiência de combate. Isto porque, dento do mesmo set de batalhas, ao causar dano os limites do campo, há objetos a ficarem danificados, chão a ficar marcado e, em algumas situações, o chão e paredes podem partir, aumentando a área do campo de batalha ou dando acesso a outro campo de batalha completamente diferente (dentro da temática do original).
Sistema de Heat e acessibilidade em combate
Até pode melhorar tudo, mas o que traz valor a um jogo destes é jogabilidade e, neste, para além de Tekken manter a jogabilidade no ponto com um dos jogos com uma maior infinidade de ataques, variações dos mesmos e combos, há uma novidade. Em contraste com a base deste jogo, a Bandai decidiu introduzir uma opção de acessibilidade, chamada de “Special Style”. À semelhança do que aconteceu com SF6, com a introdução do controlo moderno e o controlo dinâmico, o Special Style vem simplificar o jogo para quem quer entrar no universo Tekken, mas pouco ou nada sabe do género de jogo. Com o Special Style ativo, vão conseguir ver uma pequena caixa de texto com seis opções de ataques e os botões a usar para as ativar, comuns a todas as personagens do jogo. O facto de ser opcional e poder ser desligado por completo acabar por não afetar minimamente quem quer continuar a jogar Tekken no seu esplendor de beleza e espetacularidade.
O que é que mudou? A mecânica de combate está mais agressiva e visceral graça a uma novidade e uma re-introdução. A novidade chama-se “Heat System”, que pode ser ativado uma vez por ronda e dá acesso a movimentos especiais associados a cada personagem que, caso entrem, fazem mossa. De regresso estão as “Rage Arts”, que podem ser ativadas quando a vida chega a um ponto crítico e, caso entrem, facilitam uma possível recuperação ou até uma vitória, quando em situação de desvantagem (semelhantes ao Fatal Blow de Mortal Kombat). Goste-se ou não destas duas mecânicas, a verdade é que são dois game changers dinâmicos que vão mudar o jogo. Aliás, sabendo que Tekken é um jogo de “vida curta”, aqui estão duas mecânicas que vão remar na direção de tornar os combates ainda mais curtos.
Onde fica Tekken posicionado nesta nova ronda de jogos do género…
No fim de contas, há muitos fatores a considerar, e é difícil eleger um jogo como “melhor absoluto”. Street Fighter 6 trouxe o modo open world mais impressionante, Mortal Kombat 1 elevou os gráficos a um nível nunca antes visto, e Tekken trouxe novas mecânicas de combate e dinamismo de campos de batalha. Ainda que seja fã die-hard de Tekken pelas personagens e mitologia, não fiquei fã das novas mecânicas, pois mais do que nunca, uma pequena falha a defender ou até a atacar (mesmo com a vida no máximo) pode ditar a derrota.
A somar a isso, o facto de ter uma lista de ataques e combos extensa, torna Tekken num ótimo jogo para quem quer passar um bom momento com a malta, pois os combates são rápidos e divertidos. Posto isto, apesar de achar que em algumas coisas Tekken 8 podia ter feito melhor, considero-o um jogo que vale a pena jogar e, como tal, recomendo.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Bandai Namco.