Sydney Hunter and the Curse of the Mayan

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Dificil, clássico e sempre divertido – assim é a estreia de Sydney Hunter nas consolas da Sony.

Não foram os gráficos 8 bits que me fizeram acreditar que estava perante uma homenagem aos grandes do género de aventura. Pode parecer estranho, já que a escolha estilística é a primeira chamada de atenção ao tipo de projeto que Sydney Hunter and the Curse of the Mayan é – um jogo de plataformas que procura emular a alma clássica do género, algures entre a NES e os computadores Amiga ou Commodore -, mas a experiência não seria a mesma sem uma jogabilidade focada em elementos específicos. A imitação visual é, na verdade, o passo mais fácil de acertar hoje em dia, quase suplantando a jogabilidade. Mas aqui é diferente. Sydney Hunter and the Curse of the Mayan é uma verdadeira homenagem ao género porque é absolutamente difícil – e nunca de forma injusta.

Como os clássicos, o jogo da CollectorVision Games não perde tempo em contextualizar a aventura. Somos Sydney Hunter, arqueólogo, à procura de ruínas Maya e como dita o destino neste tipo de videojogos, não demoramos a encontra-las e a ficarmos presos num loop temporal. Para voltarmos à nossa realidade, precisamos de reconstruir o calendário Maya que destruímos e para tal, temos de explorar vários níveis, derrotar inúmeros bosses e mini-bosses – todos eles inspirados na cultura da região – e colecionar o maior número de gemas. A história é simples, mas muito mais presente do que esperava, contada através de pequenas sequências de diálogo e de um leque de personagens que escondem um mar de falas sem fim e nem sempre com o humor mais apurado. É um caso onde preferia ficar-me pelo contexto, já que não precisamos de mais para perceber a estrutura de Sydney Hunter and the Curse of the Mayan, mas certamente alguns irão apreciar as piadas cansativas e as referências constantes à cultura dos videojogos.

Outra surpresa foi a estrutura da campanha. Se os níveis seguem o esquema clássico do género – com Sydney a explorar níveis maioritariamente lineares com chaves e gemas para colecionar enquanto elimina as várias criaturas que encontra pela frente –, já a campanha ganha uma maior complexidade ao apresentar um HUB onde temos acesso aos níveis principais. Uma complexidade artificial, é verdade, já que não é uma inclusão adversa à experiência dos jogos de ação e plataformas, mas é o suficiente para quebrar a linearidade que costumamos encontrar nestes títulos. Outro elemento incontornável neste formato é a progressão limitada ao número de caveiras de cristal que encontramos. Cada nível tem um número definido e se não tivermos caveiras suficientes, não entramos, sendo assim obrigados a repetir níveis em busca dos itens que nos escaparam.

Desta forma, a repetição dos níveis passa a fazer parte do loop. É impossível encontrarmos todos os segredos na nossa primeira visita porque o jogo esconde outro segredo: itens, armas e habilidades que desbloqueamos ao longo da campanha. Não é um metroidvania, não se entusiasmem com a progressão via habilidades, mas existem barreiras que nos obrigam a revisitar alguns níveis em busca dos itens que nos escaparam – e, consequentemente, garantirmos que temos acesso às últimas fases da campanha. Por exemplo, os blocos com caveiras, que só podem ser destruídos com uma pedra mágica. Assim que encontramos esta habilidade, que só pode ser utilizada com o chicote – não é funcional com a lança e bumerangue que desbloqueamos –, podemos aceder às salas anteriormente inacessíveis. Assim passa a ser possível encontrarmos mais caveiras, mas também gemas que podemos utilizar nas lojas e desbloquear pontos de vida para o nosso aventureiro.

A repetição talvez quebre o ritmo da campanha, ainda que não tenha sentido isso pessoalmente, mas Sydney Hunter and the Curse of the Mayan compensa a revisita dos níveis com um aumento na dificuldade. Se queremos encontrar tudo e completar uma zona a 100%, o jogo não tem qualquer problema em desafiar-nos. Se Sydney Hunter and the Curse of the Mayan já é naturalmente difícil, com saltos precisos e armadilhas mortais em todos os cantos – e muito frustrante em partes, já que algumas armadilhas matam-nos com apenas um toque –, imaginem repetir tudo e ter acesso às salas mais complexas. Nunca senti que estava impossibilitado de avançar na campanha, sem caveiras suficientes para aceder ao próximo nível, mas senti várias vezes o peso da minha curiosidade ao repetir alguns níveis.

Sydney Hunter and the Curse of the Mayan está tão dedicado a ser um reflexo dos clássicos em que se inspira que a jogabilidade acaba por ser uma continuação do que vimos há décadas atrás e não uma tentativa em modernizar o que já foi feito. Desta forma, os problemas e virtudes dos jogos de plataformas estão presentes, uma escolha deliberada da CollectorVision Games. Os saltos são rígidos e pouco seguros, ainda que possamos controlar ligeiramente a sua direção no ar; os inimigos apresentam padrões que são, por vezes, complexos para a velocidade lenta de Sydney; os picos de dificuldade são imprevisíveis; os checkpoints ora são numerosos, ora obrigam os jogadores a percorrer várias salas repletas de inimigos, armadilhas e itens precisos até encontrarmos o próximo; os bosses não são complexos, mas o dano que infligem é significativo se não aumentarmos a vida de Sydney. É impossível não esperar um jogo difícil quando sabemos que se trata de uma homenagem aos clássicos de 8 bits.

Apesar de não ser um jogo fascinante e muito menos completamente polido – alguns momentos precisavam de reequilíbrio e os checkpoints podiam ser trabalhados –, Sydney Hunter and the Curse of the Mayan cumpre a sua missão e assume-se como uma sólida homenagem à era 8 bits. É difícil, é irritante e é um jogo que nos obriga a abandonar a consola para apanharmos ar fresco, mas é igualmente recompensador e satisfatório devido ao foco na descoberta de itens e na coleção de novas habilidades. É um daqueles casos em que vocês sabem ao vão: para o bem e para o mal.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela ONE PR Studio.

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