Super Bock em Stock, Dia 2 – Verão de Albufeira no novembro da capital

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E assim nos despedimos do Super Bock em Stock. Para o ano há mais.

Ameaçou chuvada, mas deu chuvinha até à hora do jantar. Nada que incomodasse demasiado os possuidores de pulseiras para o Super Bock em Stock (até alguns andavam a circular com um chapéu contra a chuva com ar de brinde patrocinador), mas tira pulsão à rua.

Mesmo assim, quando chegámos à Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, a sala estava muito bem composta para receber Charlotte OC, cantora britânica que apresenta uma bela voz e uma soul pop polida. Here Comes Trouble é o terceiro álbum da jovem e é fresco de semanas. Acima de tudo, afirma-a como uma grande vocalista, como faixas como “Bad News”, cheia de groove animado, ou a intimista e despida “Inevitable”, cerra-filas do álbum, demonstram. Em palco, Charlotte Marie O’Connor, de seu nome completo, é uma presença simpática e muitas vezes de guitarra ao ombro. Apesar do acompanhamento de palco minimalista, o mesmo não dá a sensação de vazio para o auditório. Um bom encaixe.

Já a transferência forçada dos Iceage do Tivoli na sexta-feira para o Coliseu dos Recreios no sábado acabou por ter custos a duplicar. Desde logo pela causa, pelo cancelamento à última hora, por motivos de saúde de um dos elementos, dos Black Country, New Road (o mesmo aconteceu com o há muito esgotado concerto da banda na ZdB). Seria a estreia nacional de uma das novas coqueluches indie do Reino Unido e era, muito provavelmente, o nome mais badalado para a edição 2021 deste festival. E os Iceage também acabaram por sofrer danos colaterais, acabando por ser recebidos num Coliseu a meio gás e de receção discreta. Bem longe do ambiente de 2015 em Paredes de Coura, onde desfilaram um bem mais pós-punk Plowing Into the Fields of Love, os dinamarqueses estão numa evolução para um lado mais melódico e menos sombrio com o recente Seek Shelter. É um bom disco e a turma liderada por Elias Bender Rønnenfelt faz um trabalho esforçado, mas este não era nem o dia, nem o ambiente ideal para eles. Merecem voltar noutras condições.

Já o oposto acontece pelas 23h, onde David Bruno entra em campo em modo David & Miguel. Um Tivoli em êxtase, na maior lotação que vimos nestes dois dias, recebe o herói de Vila Nova de Gaia com os seus parceiros António Bandeiras e o herói da guitarra Marquito (Marco Duarte), acompanhados de Mike El Nite. David & Miguel é uma variação mais simples das polaróides dos subúrbios nortenhos oferecidos pelo Conjunto Corona, ou David Bruno a solo, mas é uma pastilha elástica cheia de sabor e todos sabem ao que vêm, com os rabos raramente nas cadeiras em momentos como “Passadiços do Paiva”, bonita homenagem a Arouca, ou a declaração romântica tonitruante de “Sónia”.

Pelo meio há celebração do “Momento Marquito”, com direito a foco de luz no guitarrista de conjunto branco e plataforma elevada, enquanto o público grita o nome do moço. Ao contrário do seu parceiro que nunca sai do seu quadrado, António Bandeiras é um espectáculo de movimento. Dança coreografias que esbanjam sensualidade ao lado da coolness de dB, desliza, simula instrumentos, num ziguezague digno de jogo de hóquei em patins.

A abrir e a fechar, o êxito de Verão do disco Palavras Cruzadas e da sua capa a fazer obras dos anos 90 dos Broa de Mel: “Inatel”. Hino à sensibilidade e bom senso do cliente moderno, e que se espera bem já ter rendido uns trocos em publicidade. Já não é preciso cantá-la, ela é tomada de forma ululante pelo povo em pé. Sai-se em festa e procura-se uma bicicleta elétrica para voltar para casa. Não chove. Tudo jóia.

Fotos de: Emanuel Canoilas

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