A música de Steven Wilson não está na moda, mas não estamos ralados com isso

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Steven Wilson e a banda que o acompanha entram em palco rigorosamente às 21h perante uma Sala Tejo bem composta, apesar dos diversos lusitanos espectadores ainda na fila para entrar.

O rigor no cumprimento do horário é um bom cartão de apresentação para este artista com várias décadas de experiência e múltiplos projetos (o mais conhecido os Porcupine Tree) enquanto instrumentista e produtor, entre outros papéis. Steven Wilson trabalha muito e bem, com uma ética Zappiana e uma dedicação absoluta da sua arte. O ar extremamente jovial deste recém cinquentário mostra que trabalhar no ofício que se gosta dá, de facto, saúde.

Num espetáculo que mostra ambição visual (cortinas com projeção laser aparecem e descem de quando em quando e diversos vídeos são uma constante), Steven Wilson rapidamente pede ao público se esteve presente no concerto de há sensivelmente um ano no mesmo local. Pelo levantar de mãos, cerca de metade são repetentes, não obstante a tournée ser a mesma. A mesma, baseada em To the Bone, o disco de maior sucesso comercial de Wilson, mas em melhor, já que em 2018 aquele foi o primeiro espetáculo e agora os músicos estão muito mais entrosados. Embora se anuncie logo que a primeira metade será sensivelmente igual, prometem-se novidades no segundo tempo.

Perante esta gestão de expetativas, o alinhamento eclético que surge em boa medida no recente álbum ao vivo gravado no Royal Albert Hall, Home Invasion, vai desfilando, com a música que dá título o disco ou “The Creator Has a Mastertape” a surgirem com toda a sua pujança e confirmarem Steven Wilson e seus muchachos como intérpretes de fino traço, em que a influência da música progressiva, talvez a mais conhecido, se faz sentir, sem ser a única.

O líder, com ar de Jarvis Cocker londrino em fase de início da carreira a solo que trocou o guarda-roupa por uma t-shirt negra, opta por não falar a seguir a todas as músicas, mas torna todas as suas intervenções significativas, desde a honestidade de perguntar ao público se está a gostar ou não – sabe bem que toca música para se ouvir, mas a falta de movimento do público torna a leitura de quem está em cima do palco muito mais difícil – ao pedido de que a saída para os camarins no intervalo seja feita ao som de palmas.

A interessante intervenção central passa pela constatação do desaparecimento progressivo da guitarra eléctrica do cerne da produção da música popular moderna. Excepão dada aos fãs de metal (muito elogiados ao longo do concerto, embora classificados como uma sub-cultura forte mas pouco visível no mainstream), Wilson diz que a grande maioria, os menores de 25 anos (dos quais havia alguns presentes, pelo levantar de mãos) estão a crescer distantes do instrumento seminal da criação musical desde a segunda metade do século XX.

Para justificar a causa da coisa, apresenta várias teorias, desde a evolução natural da música pop à constatação de que muitos miúdos acham que devem usar a guitarra junto ao pescoço e tocar o máximo de notas por minuto, o que não é forma de criar música boa. Aliás, os grandes não olham para a guitarra quando tocam.

Steven, que ironicamente não se define como um especial interessado no instrumento, tenta seguir o caminho dos gigantes e fazer, palavras dele, um solo sexy de guitarra em “Same Asylum as Before”. Sai-se muito bem.

Após o intervalo de 20 minutos de merecido descanso, o regresso brinda o público com temas bastantes variados no estilo, como a curiosa e muito reminescente dos Abba, “Permanating” (cujo preâmbulo gera novo elogio à abertura de espírito dos metaleiros por contraste à intolerância dos adeptos do prog, frios na receção a tal heresia).

Momentos de maior intimismo, como “Song of Unborn”, vão polvilhando a atuação daquele que foi apelidado pelo Telegraph como o músico britânico de maior sucesso de que o público nunca ouviu falar. Está giro e é apropriado, e quem o conhece gosta de o ter descoberto.

Foto de: Gonçalo P. (ascent85 no Instagram)

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