Uma aventura calorosa que se perde devido à rigidez de controlos e à falta de variedade na campanha.
Como um eco do além, pós-encerramento da Riot Forge, Song of Nunu: A League of Legends Story chega agora à PS4 e PS5 como um último olhar sobre as histórias e aventuras que procuravam expandir o mundo da famosa franquia da Riot. Se Ruined King trouxe uma abordagem mais RPG à série e Hextech Mayhem procurou algo completamente único ao apostar num aventura de ritmo, a história de Nunu e Willump assume o formato clássico de jogo de aventura e puzzles num ambiente linear e narrativo. Como spin-off, Song of Nunu faz um excelente trabalho em introduzir eficazmente os jogadores à região de Freljord, onde se torna fácil seguir o contexto e personagens desta aventura em ponto pequeno. Apesar das suas boas ideias e de se construir sobre os alicerces de um género que é familiar à Tequila Works, que lançou títulos como Rime e GYLT, Song of Nunu tropeça na jogabilidade e na quão limitada é a inventividade dos jogadores.
Talvez seja possível justificar alguns dos problemas de Song of Nunu se analisarmos as suas mecânicas como uma aposta na acessibilidade para jogadores de todas as idades, mas isso seria limitar o trabalho da Tequila Works. A relação entre Nunu e Willump cresce como num filme de animação, com temas facilmente reconhecíveis pelos mais jovens – como a amizade, a lealdade, a vontade em sair da sua zona de conforto e até tópicos mais adultos, como a morte daqueles que nos são mais próximos -, mas no que toca à jogabilidade e à forma como a campanha se constrói entre secções de plataformas, puzzles e combate, podemos ver que a sua base é sólida. O problema é a falta de profundidade nas mecânicas que apresenta e na forma como cria novas oportunidades de ação. É um jogo que parece estar mais preocupado em manter a sua linearidade e sensação de segurança, como se receasse que tudo caísse por terra se tentassem algo novo.
A campanha move-se a um ritmo quase consistente, linear na sua estrutura, ainda que existam, como seria de esperar, alguns caminhos alternativos para encontrarmos colecionáveis, murais ou Poros, criaturas adoráveis que podemos ajudar. As zonas não são longas e baseiam-se quase sempre na descoberta do caminho para passarmos para a próxima fase. Seja uma cascata que precisa de ser congelada, uma ponte que foi destruída ou plataformas que temos de mover, a campanha segue esta estrutura à risca enquanto desenvolve narrativamente a relação entre Nunu e Willump.
Estas barreiras físicas são quase sempre compostas por puzzles lógicos ou ambientais que precisamos de solucionar. Se temos de alcançar uma plataforma só temos de descobrir como lá chegar e como utilizar as habilidades de Nunu e Willump para conseguirmos. Os dois aventureiros podem unir esforços, com Willump a colocar o jovem aos ombros, ou então terá de ser Nunu a resolver os quebra-cabeças com as suas bolas de neve ou flauta mágica. Willump é mais fisicamente desenvolto, rápido e forte, protagonizando as sequências de exploração – com alguns momentos automáticos onde temos de evitar obstáculos enquanto deslizamos – ou então de combate. Os confrontos são práticos e pouco mais, restritos a arenas pré-definidas e com algumas opções ambientais que injetam alguma variedade – como flores explosivas que podemos ativar -, mas os golpes de Willump são lentos e têm pouco impacto, alterando-se entre ataques rápidos e pesados, um ataque final que nos permite recuperar energia, e um botão de desvio.
É com Nunu que surgem algumas mecânicas mais interessantes, ainda que familiares. Apesar do seu leque de movimentos ser limitado, já que o jovem não consegue saltar e atacar como Willump, Nunu compensa ao centrar a sua utilidade nos puzzles ambientais simplificados. Nunu consegue atirar bolas de neve que servem para auxiliar Willump em combate, ao distrair ou enervar inimigos, ou então para ativar plataformas explosivas – temporárias e não temporárias – para abrir novos caminhos ou então controlar plataformas. Através das bolas de neve podemos, por exemplo, destruir o gelo que prende as correntes de um portão ou então girar um enorme mecanismo para que possamos construir um novo caminho. Não existem, infelizmente, grandes oportunidades e opções variadas onde podemos utilizar esta mecânica, mas é funcional, pecando um pouco na distância curta com que podemos acertar num objeto.
Fora os puzzles físicos, que requerem a utilização das bolas de neves, encontramos um dos pontos mais interessantes de Song of Nunu: a música. Através da flauta de Nunu, construída com True Ice, podemos criar melodias simples que nos ajudam a controlar objetos e até animais. Através dos botões R1, L1, R2 e L2 temos acesso a quatro notas que podemos combinar ao pressionarmos mais do que um botão em simultâneo. Cada nota tem um símbolo associado e é assim que o jogo comunica qual a nota que deve ser tocada para abrirmos as portas ou girarmos as plataformas. A combinação de notas requer alguma coordenação na forma como pressionamos os botões, mas os símbolos são fáceis de perceber e memorizar. O problema desta mecânica nasce, mais uma vez, da ineficácia do jogo em criar desafios interessantes e mais arrojados no que toca aos seus puzzles.
Infelizmente, esta falta de variedade não se restringe apenas ao combate e à forma como abordamos os puzzles. Fora a falta de polimento nos movimentos das personagens, que são rígido e pouco fluídos ao ponto de dificultarem a navegação em cenários mais apertados – existe um atraso nos tempos de resposta que fazem com que as sequências de plataformas sejam um problema -, encontramos uma inconsistência na distância dos saltos e daquilo que o jogo determina como a altitude segura para sermos obrigados a voltar ao ponto de partida. Por vezes, é uma questão de milímetros que determina se caímos na plataforma ou não, o que é frustrante. Isto levou a momentos em que achava que uma plataforma não era alcançável quando era o caminho certo a seguir.
Song of Nunu é pouco ambicioso onde devia ser mais arrojado: a cooperação entre Nunu e Willump. Devido à natureza linear de Song of Nunu, a troca entre personagens acontece de forma automática e durante momentos pré-definidos. Fora desses momentos, não temos a possibilidade de escolher se queremos jogar com Nunu e Willump. Isto não é um problema fatal, antes uma oportunidade perdida, e sentimos isso na forma rígida e limitada com que os puzzles se constroem. As soluções são sempre demasiado óbvias, não existe espaço para experimentarmos novas táticas e nem temos opções diferentes ou abordagens que nos deem outra perspetiva sobre o puzzle. A própria relação entre o jovem e o titã fica constrangida a momentos repetitivos e a interações descartáveis, ainda que seja sempre divertido participar nas suas lutas de neve e acompanhar alguns dos diálogos. Podemos seguir Willump e vê-lo a desenhar nas paredes, a construir bonecos de neve e até abraçá-lo, mas o jogo precisava desta cumplicidade também nas mecânicas.
Song of Nunu: A League of Legends Story é um jogo simpático de aventura com alguns puzzles interessantes, mas que nunca consegue suplantar a falta de variedade mecânica e a ausência de maiores momentos de desafio. É uma aventura narrativa linear sobre dois protagonistas a descobrirem um novo mundo mágico, onde a Tequila Works está constantemente a dar um passo em frente e outro atrás. Se um puzzle é interessante, a jogabilidade pouco limada prejudica a navegação. Se o foco nas melodias é empolgante, o combate é pouco profundo. Se as cinemáticas revelam alguma criatividade visual, como a presença da Lissandra durante as sequências de sonho, o jogo não demora a interromper a ação para ficarmos a ouvir diálogos sem podermos fazer nada. Um jogo simpático, sem dúvida, sólido na sua abordagem do género, mas pouco imaginativo. Resta saber se existirá futuro nestes spin-offs de League of Legends.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Best Vision PR.