No final do ano passado, a NOS surpreendeu o país com o anúncio de duas novas salas nos cinemas do NorteShopping, no Porto. Contrariando as teorias de que a capital do norte iria receber um segundo IMAX, a NOS lançou as salas NOS XVision e ScreenX. Para quem desconhece as caraterísticas de ambas, segue a explicação abaixo.
A primeira parecia (e realmente parece) ser uma excelente alternativa para quem sente que o IMAX é “demasiado pesado” ou overwhelming, uma crítica até bastante comum de muitas pessoas com maior sensibilidade visual e auditiva. A NOS XVision é uma sala caraterizada por um ecrã de grandes dimensões (menor que IMAX) e efeitos sonoros imersivos de elevada qualidade. Possui uma imagem melhor com precisão laser e HDR, para além de manter o método tradicional de ver um filme através de apenas um ecrã com assentos normais… Já a ScreenX é um “bocadinho” diferente e a razão por detrás da criação deste artigo.
Com um conceito único (os tais 270º de visualização), o ecrã situa-se não só na parte frontal da sala, como nas paredes laterais. No anúncio, é possível ler: “os conteúdos/filmes a exibir nesta sala são desenvolvidos EM EXCLUSIVO para salas com esta tecnologia”… E é aqui que surge um possível grande problema: a NOS estará aparentemente a colocar a grande maioria das suas antestreias, isto é, filmes distribuídos pela NOS Audiovisuais, nessa mesma sala.
É uma jogada até bastante normal e racional: há melhor maneira de convencer o público a visitar uma nova sala do que oferecer bilhetes grátis através de passatempos? No entanto, nenhum filme até hoje foi “desenvolvido em exclusivo” para a tal tecnologia. Vamos pegar no exemplo do IMAX…
A grande maioria dos filmes são produzidos e filmados para serem mostrados no 2D das salas normais. Isto não quer dizer que não possam ser adaptados e mostrados em IMAX. A diferença aqui é que o espetador nunca ficará mal servido. Simplesmente, fica com um ecrã maior, de melhor qualidade e com um sistema de som mais imersivo que uma sala normal. Mesmo que o filme não tenha mais 26% de imagem como os blockbusters da Marvel, por exemplo, costumam ter, não deixa de ser uma experiência minimamente superior à de uma sessão normal.
Já de uma sala ScreenX não se pode dizer o mesmo. Se os filmes não forem produzidos e filmados de propósito para tal, o mais provável de acontecer é a imagem sair desfocada ou “esticada”, pois o formato do ecrã (aspect ratio) mudou. Uma analogia que posso oferecer será a seguinte: imaginem a vossa televisão de casa. Essa é a vossa “sessão normal”. Se alguém substituir a vossa TV por uma maior e de melhor qualidade visual, passaram a ter uma “sessão IMAX”. Se alguém pegar no comando e mudar o formato do ecrã de tal maneira que a imagem ficou mais “encolhida” ou “espalmada”, essa é a vossa “sessão ScreenX”.
Isto é o que acontece SE o conteúdo que estão a ver não tiver sido desenvolvido de propósito para ser visualizado nesta nova tecnologia. Tal como ver um vídeo 4K num ecrã que não possui essa caraterística. Simplesmente não vai funcionar como devia.
É nestas alturas que costumam chegar os “bem avisei”… Um país como Portugal, que não tem propriamente uma imensidão tremenda de público a rebentar os cinemas, arriscar no lançamento de uma sala totalmente nova, sem comprovativo de qualidade noutros países (muito pelo contrário, o feedback é muito pouco convincente), com um método de visualização nada convencional e, o mais importante, com absolutamente nenhum estúdio minimamente conhecido a desenvolver quaisquer filmes para a tecnologia única…
Tem tudo para correr mal e, apesar de admitir ser demasiado cedo para se tirarem conclusões finais, ficam sempre questões a pairar no ar: porque razão apostaram numa sala nova que apenas funciona com conteúdo exclusivo se não existem quaisquer projetos a curto-prazo para desenvolver esse mesmo conteúdo? Porque razão apostaram na experiência dos 270º se a opinião geral de quem experimentou em outros países não é, de todo, positiva, mesmo com conteúdo preparado para os tais ecrãs?
Ana Fernandes, de 25 anos, foi ver Jumanji: The Next Level e, no início, refere que “surpreende, é completamente diferente de tudo o que já viste, é uma experiência muito boa de se ter”. No entanto, depressa a experiência começa a mostrar os seus aspetos negativos:
“A imagem que aparece nos ecrãs laterais são só paisagens, não que seja mau, mas a ação fica sempre no ecrã central”. E quando aparecem personagens nesses ecrãs, ainda pior: “a qualidade de imagem dos ecrãs laterais é péssima, a cor e a nitidez são demasiado diferentes da imagem do ecrã central, já para não falar que quando aparece alguém no ecrã lateral, parecia que estava naquele jogo da Lara Croft de há mil anos atrás em que ela era toda retangular e triangular”.
O tal problema do aspect ratio parece ser claro para todos e Ana acrescenta mesmo: “nota-se demasiado que tiveram que arranjar alguma coisa para aqueles dois ecrãs e parece um remendo mal feito. Os filmes que passam em ScreenX têm obrigatoriamente de ser filmados com esse propósito, senão não vale a pena”.
E esta tentativa da NOS em “obrigar” as pessoas a irem ao ScreenX, atribuindo esta sala aos passatempos, poderá não ser a melhor jogada: “Ainda estive em dúvida sobre ir ver o Bad Boys For Life em ScreenX, mas cheguei à conclusão que prefiro não arriscar porque não vai ser assim tão bom e, tal como eu, outras pessoas pensam da mesma forma, não vale o dinheiro do bilhete pela falta de qualidade”, afirma Ana. Também Rui Filipe Coelho, de 19 anos, que foi ver Bad Boys For Life através dos 270º, defende a teoria descrita acima: “A experiência é para repetir, mas apenas quando houver filmes adaptados a estes ecrãs… o que não foi o caso.”
Tenho de deixar bem claro: sou o primeiro a apoiar inovações e tentativas por parte da NOS em melhorar a experiência cinemática em Portugal. Sou apologista de mais salas IMAX no país, espalhadas para lá de Porto ou Lisboa, mas porque sei que teriam sucesso. É preferível esperar mais 5 ou 10 anos por algo com provas dadas (tal como fizeram com o IMAX) do que tentar ser pioneiro em algo que não parece ter um futuro de sucesso nos próximos anos, nem em Portugal, nem no resto do mundo.
Apesar de existirem algumas opiniões positivas, estas são escassas e nota-se uma clara maioria desiludida com a experiência. Tendo em conta a falta de projetos para produzir filmes para visualização nestes 270º, temo que, sem os bilhetes e convites gratuitos, a sala ScreenX terá dificuldade em conquistar o seu público.
Entretanto, fica a sugestão para experimentarem a sala NOS XVision que mais parece um mini-IMAX, por um preço semelhante a uma sessão normal (caso sejam estudante/sénior ou algum tipo de desconto básico, caso contrário, o valor é ligeiramente mais alto, mas bem menor que IMAX ou ScreenX).
Se comprarem no site dos cinemas NOS, tenham em atenção que este não diferencia o tipo de sala como faz com IMAX, Atmos ou até ScreenX. É necessário ir à página de sessão normal 2D do filme desejado, procurar pelos horários das salas do NorteShopping e, aí sim, encontrarão “Sala NOS XVision” em vez de “Sala 2”, por exemplo.
Nota: Estes testemunhos foram recolhidos através de um dos maiores grupos portugueses dedicados à cultura pop no Facebook: PopCom
Fui, pela primeira vez, ver um filme (The Eternals) em XVision, este fim de semana.
Adorei o filme, quanto ao XVision, foi uma grande desilusão, Imagem péssima e cores feias. Ficou, para mim, a sensação de uma foto de baixa resolução ampliada, ficando expostos todos os seu defeitos.
Fiquei triste por não ter ido ver aquele filme em IMAX, porque o filme merecia melhor!