Bride Hard é um desperdício de tempo e de talento, com um filme a falhar em praticamente todos os aspetos fundamentais.
Nunca tive grandes expetativas para Bride Hard, mas confesso que o meu carinho pelo trabalho inicial de Simon West – especialmente o clássico de ação Con Air (1997) e Lara Croft: Tomb Raider (2001), protagonizado por Angelina Jolie – alimentava uma ténue esperança de encontrar aqui um mínimo de charme ou personalidade. Infelizmente, nem esse fio de nostalgia conseguiu salvar esta produção de ser um dos filmes mais esquecíveis e mal executados do ano.
Com argumento de Shaina Steinberg (The Babysitter: Killer Queen), Bride Hard é liderado por Rebel Wilson (Pitch Perfect), que interpreta Sam, uma ex-agente que aceita ser dama de honor no casamento da sua melhor amiga. O que começa como um fim de semana cheio de laços, confissões e celebrações transforma-se rapidamente numa missão de resgate quando o evento é interrompido por um grupo de criminosos armados. Ao lado de Wilson, encontramos Anna Camp (True Blood), Da’Vine Joy Randolph (The Holdovers) e outros rostos que, sinceramente, pouco fazem para elevar o material.
Desde os primeiros minutos, o guião de Steinberg deixa bem claro ao que vem: uma narrativa completamente genérica, previsível, entupida de clichés e diálogos mecânicos e sem qualquer naturalidade. Nada neste argumento aparenta ser minimamente genuíno. As tentativas de criar uma conexão emocional entre personagens – sobretudo no arco das amigas afastadas – são tratadas com uma superficialidade quase insultuosa. Bride Hard não possui qualquer profundidade temática, preferindo seguir as batidas de um qualquer argumento básico de comédia de ação que nunca se compromete verdadeiramente com nenhum dos seus géneros.
O tema da amizade negligenciada, ainda que com potencial, é abordado da forma mais preguiçosa possível, tornando-se um mero acessório ao enredo em vez de ser um motor emocional com impacto. A competição implícita entre quem é a melhor amiga ou quem esteve mais presente na vida da noiva é tratada com uma leveza quase paródica, sem qualquer tipo de consequência dramática ou reflexiva. Bride Hard não é construído para fazer pensar ou sentir: é um produto oco, funcional e até nesse propósito falha.
A nível de interpretações, o cenário também é desolador. Wilson tenta sair da sua zona de conforto, optando por um registo mais sério do que aquele a que nos habituou nas suas comédias e a sua coragem é de louvar. No entanto, ação claramente não é o seu forte. Falta-lhe a fisicalidade, a intensidade e o carisma que associamos a verdadeiras estrelas de ação como Charlize Theron (Mad Max: Fury Road), Michelle Yeoh (Everything Everywhere All at Once) ou até Florence Pugh (Thunderbolts*). A forma como corre, como segura uma arma ou como tenta impor autoridade nunca convence – a personagem parece estar sempre deslocada. A presença constante da sua dupla em coreografias mais longas, visível nas inúmeras cenas onde o rosto da personagem está estrategicamente fora de plano, só reforça esta sensação de má escolha de elenco.
A exceção notável vai para Randolph, cuja entrega carismática e natural consegue arrancar algumas gargalhadas e manter um certo nível de autenticidade. Difícil perceber o que a levou a aceitar um papel num projeto tão abaixo do seu talento, mas a sua presença acaba por ser um dos raros pontos positivos. Camp, por sua vez, acerta no tom da sua personagem: uma noiva encantadora mas algo ingénua, oferecendo também pequenos momentos de leveza cómica que, embora raros, quebram minimamente o tédio dominante.
As cenas de ação são, na sua maioria, desinspiradas. Apesar de alguns bons esforços por parte do departamento de stunts, a realização de West parece sem energia, sem qualquer tipo de assinatura estilística. A tão promovida cena da luta com um ferro de ondular – destacada em trailers e entrevistas – é incrivelmente curta e anti-climática. Em vez de ser memorável ou criativa, acaba por ser mais um exemplo de como Bride Hard desperdiça as suas próprias ideias. Até os poucos efeitos visuais são um autêntico desastre: os clarões de disparos, os impactos de balas e os efeitos digitais parecem retirados de um telefilme dos anos 2000.
A vertente cómica, que poderia ter compensado a falta de substância narrativa, também falha redondamente. A maioria das piadas não resulta, sentindo-se forçadas ou desatualizadas. Randolph e Camp conseguem arrancar uma ou outra gargalhada genuína, mas são momentos esporádicos num mar de tentativas frustradas de humor. O tom da obra oscila entre a ação e a comédia de forma tão desequilibrada que nunca encontra um ritmo coerente.
VEREDITO
Bride Hard é um desperdício de tempo e talento. Com um argumento desastroso, interpretações desinspiradas (salvo raras exceções) e uma realização sem pulso, o filme falha em praticamente todos os aspetos fundamentais. A sua tentativa de misturar ação, comédia e drama sobre amizades femininas soa a uma fórmula repetida dezenas de vezes – e quase sempre melhor executada. Tirando um ou outro momento de comédia eficaz, nada neste projeto justifica a ida ao cinema. Uma das obras mais esquecíveis do ano, destinada a desaparecer rapidamente da memória coletiva.